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Pará ganha novos projetos de manejo florestal

ComCiência
12 de Set de 2003

Seis novos projetos de manejo começarão a ser desenvolvidos na Floresta Nacional (Flona) Tapajós, no estado do Pará, no próximo mês, beneficiando comunidades tradicionais com assessoria técnica na extração e processamento de óleos vegetais, produção de móveis artesanais e implantação de sistemas agroflorestais. Os projetos serão implementados por uma parceria entre instituições de pesquisa, organizações não-governamentais e associações comunitárias, e contarão com um investimento de R$ 1,6 milhão.

A Flona Tapajós fica na margem direta do rio Tapajós e abrange os municípios paraenses de Santarém, Aveiro e Rurópolis, totalizando uma área de cerca de 600 mil hectares. A reserva florestal guarda espécies importantes da biodiversidade da flora e fauna amazônica.

Os novos trabalhos foram aprovados pelo Ibama dentro do Projeto de Apoio ao Manejo Florestal na Amazônia (ProManejo), do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7). O objetivo é criar alternativas de geração de renda e emprego para a população tradicional, através da exploração sustentável dos recursos naturais da região. Outro grande benefício é o desenvolvimento da organização comunitária e do fortalecimento da gestão participativa.

Os projetos beneficiarão as comunidades de São Domingos, Pedreira, Nazaré, Maguari, Jamaraquá, Acaratinga, Piquiatuba, Tauari, Santa Clara, Itapaiuna e Prainha. Essas duas últimas comunidades contarão com a assistência técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que já desenvolve projetos de manejo em outras três comunidades na margem esquerda do rio Tapajós, na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, e em outra comunidade na própria Flona Tapajós.

Banco cobra (acima) e banco canoa (abaixo) Fotos: Ipam

As ações do Ipam em Prainha e Itapaiuna integrarão o projeto Oficinas Caboclas, que prevê a capacitação de comunidades tradicionais para a produção de móveis artesanais. Essas oficinas são conhecidas pelo uso de madeira morta: aproveitamento de troncos e pedaços de árvores que já foram abatidas por ação antrópica (do homem) ou natural. Os móveis criados nas oficinas têm estilo rústico e são peças únicas que buscam aproveitar ao máximo o desenho original da árvore. A estratégia não é, então, a produção em escala, mas a inserção no mercado de peças utilitárias e decorativas.

Segundo o sociólogo Antônio José Mota Bentes, coordenador do projeto Manejo e Oficinas Caboclas na Flona Tapajós e na Resex Tapajós-Arapiuns, um dos pontos mais importantes do projeto é o uso de uma metodologia de planejamento do manejo da floresta a partir de sua potencialidade natural de renovação. "O manejo comum baseia a exploração madeireira pelo inventário de estoque, abatendo as árvores com mais de 40 centímetros, até acabar o estoque", explica.

A metodologia de planejamento foi criada pelo pesquisador Charles Peters, do Jardim Botânico de Nova York, em 1994, sugerindo a substituição da exploração tradicional por estoque madeireiro em ciclos de 30 anos de rotação ou mais, pelo manejo contínuo, considerando a margem de crescimento natural da floresta. Peters é pesquisador colaborador do Ipam e consultor dos projetos de manejo em Itapaiuna e Prainha.

"Essa estratégia é viável para as comunidades da Flona Tapajós, porque o volume de madeira demandada para a produção dos móveis artesanais é baixo", comenta Bentes. Na comunidade de Pini, por exemplo, as onze famílias envolvidas no projeto de manejo do Ipam demandam somente cinco a oito metros cúbicos de madeira por ano. "O equivalente a uma ou uma árvore e meia, conforme o tamanho do tronco", calcula.

A proposta é que nos próximos três ou quatro anos, a área para manejo, que é escolhida pela própria comunidade, seja acompanhada para identificar o ritmo de crescimento da floresta. Com essa informação, deverá ser elaborado um plano de manejo florestal a ser submetido ao Ibama, para, então, iniciar a exploração madeireira por corte.

Nas comunidades de São Domingos, Nazaré e Pedreira, os projetos de manejo são vinculados à Associação Intercomunitária de Mini e Pequenos Produtores Rurais da Margem Direita do Tapajós de Piquiatuba a Revolta (Asmiprut). Os projetos abrangem o processamento e comercialização de óleos vegetais: andiroba e copaíba. Esses projetos também são uma extensão de trabalhos que já vêm sendo realizados na Flona Tapajós, desde 1999. Com apenas dois anos de projeto, as comunidades abrangidas pela Asmiprut já estavam produzindo quase 600 litros desses óleos.

A Asmiprut já aprovou um plano de negócios com financiamento do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) e do próprio ProManejo/PPG7. O plano de negócios tem como foco a mecanização do processamento dos óleos com a implantação de três mini-usinas. A expectativa é de que o empreendimento beneficie até 100 famílias, com a previsão, ainda, de estudos de estratégia de marketing, escoamento da produção e a capacitação dos produtores para a gestão dos negócios.
(-ComCiência-12/09/03)

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