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Para documentarista, trabalho audiovisual contorna conflito entre gerações de índios

Agência Brasil
Autor: Pedro Biondi
13 de Ago de 2007

O documentarista e indigenista Vincent Carelli avalia que o trabalho com recursos audiovisuais com os índios pode ser usado a favor das tradições e contornar o conflito entre gerações nesses povos. Ele dirige, com a mulher, Maria Corrêa, a organização não-governamental (ONG) Vídeo nas Aldeias.

"O audiovisual é perfeito para eles, para um projeto de resistência cultural, para um discurso tradicionalista", diz. "Permite uma apropriação direta e é importante também para a preservação da língua. A escrita exclui os mais velhos. As novas gerações aprendem a ler e escrever, matemática, uso de dinheiro, e isso cria uma ruptura de autoridade."

Carelli falou à Agência Brasil na Aldeia Ipatse, dos Kuikuro, no Parque Indígena do Xingu, em 21 de julho. Ali, a Vídeo nas Aldeias desenvolve trabalho em parceria com o projeto Documenta Kuikuro, coordenado pelos antropólogos Carlos Fausto e Bruna Franchetto, e com o Coletivo Kuikuro de Cinema. Eles procuraram a entidade em busca de assessoria técnica.

Vincent Carelli descarta o risco de o acesso a essas tecnologias acelerar as transformações no modo de viver dessas etnias e acentuar o descompasso entre jovens e velhos, apontado pelo jornalista Washington Novaes como um dos principais focos de tensão no Xingu.

"É um processo arrasador, um rolo compressor, e não depende da gente, que é uma gota num oceano", opina Carelli. "Começou uns dez anos atrás, com parabólica... Hoje, se tem luz, tem televisão. As lideranças se queixam, mas também gostam de TV. É um processo histórico sobre o qual ninguém tem controle."

O documentarista aponta um processo de "autofolclorização", que estaria em curso em muitos lugares. Para ele, isso resulta da cobrança de não-índios e até de outros índios por uma caracterização: "As pessoas querem ver o índio pelado, projetam um imaginário no qual ele precisa se encaixar. Isso não tira dos indígenas o direito de uma reparação pelo que passaram, de um reconhecimento. As pessoas precisam de um pouco mais de informação sobre a história do Brasil."

Carelli conta que, quando a ONG começou seu trabalho, há 20 anos, a prática era basicamente colocar a câmera a serviço de um registro coordenado por líderes indígenas preocupados com a perda dos cantos e danças tradicionais, com atenção também às reações desencadeadas. E que, com a chegada de Mari Corrêa, a formação de realizadores indígenas ganhou prioridade também. "Ela veio da França com a experiência de uma escola de cinema fundada pelo Jean Rouch (referência do cinema etnográfico), que tinha um processo de aprendizagem coletiva, e aí a gente deu uma virada no projeto", diz.

Corrêa conta que a intenção agora é experimentar um trabalho com técnicas de animação. "A linguagem de documentário é limitada para alguns temas de histórias que eles têm muita vontade de contar, e até a de ficção, porque precisaria de meios muito grandes", observa. "Animação é uma linguagem boa para tratar, por exemplo, de mitos, em que animais se transformam em gente e vice-versa." A seu ver, essa opção pode até ampliar a participação da comunidade, envolvendo crianças e velhos.

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