VOLTAR

Pará concentra maioria das áreas desmatadas na Amazônia, aponta Imazon

Cenarium - https://agenciacenarium.com.br
16 de Set de 2021

Pará concentra maioria das áreas desmatadas na Amazônia, aponta Imazon
MANAUS e BRASÍLIA - O Pará é o Estado da Amazônia que teve mais áreas protegidas - como terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação - pressionadas e ameaçadas em um ano.

Agência Cenarium
Bruno Pacheco - Da Cenarium
Marcela Leiros, Bruno Pacheco e Cassandra Castro - Da Cenarium
16/09/2021

MANAUS e BRASÍLIA - O Pará é o Estado da Amazônia que teve mais áreas protegidas - como terras indígenas, territórios quilombolas e unidades de conservação - pressionadas e ameaçadas em um ano. Sete das dez áreas mais pressionadas e cinco das dez mais ameaçadas da Amazônia ficam no Estado. Entre todas as áreas protegidas, a APA do Tapajós, unidade de conservação federal também no Pará, foi a mais pressionada.

As áreas ameaçadas são aquelas onde o desmatamento foi detectado a até 10 quilômetros das áreas protegidas ou pressão se estiverem dentro desses territórios. Os dados são do levantamento "Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas", publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que identifica e contabiliza todas as ocorrências detectadas pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon (SAD) em áreas de 100 km² na Amazônia Legal.

No ranking das áreas protegidas pressionadas, depois da APA do Tapajós, está a unidade de conservação estadual paraense APA Triunfo do Xingu e a Resex Chico Mendes, unidade de conservação federal no Acre. A Resex também ocupou o topo da lista de todas as áreas protegidas mais ameaçadas da Amazônia. Ela foi seguida do Parna Mapinguari, unidade federal que fica no Amazonas e em Rondônia, e da APA do Lago de Tucuruí, unidade de conservação estadual também no Pará.

O pesquisador do Imazon, Antônio Fonseca, pontuou que o Instituto identifica o desmatamento "de fora para dentro" das áreas, que se intensifica com a falta de fiscalização e punição dos infratores. "A gente percebe que esse movimento se inicia com o desmatamento ocorrendo no entorno dessas áreas protegidas e alguns meses depois acaba adentrando esses territórios porque não há uma fiscalização efetiva no sentido de conservar e de preservar a biodiversidade. Como não há uma iniciativa no sentido de identificação e punição dos infratores, esse desmatamento acaba avançando ainda mais para dentro desses territórios protegidos", explicou.

Indígenas
Entre as Terras Indígenas (TIs), a Yanomami, localizada no Amazonas e em Roraima, foi a que teve o maior número de ocorrências dentro de seu território, ou seja, a mais pressionada entre agosto de 2020 e julho de 2021. Neste ano, a área foi alvo de ataques de garimpeiros, o que motivou ações judiciais de proteção.

Dos outros nove territórios indígenas mais pressionados pelo desmatamento, sete ficam no Pará. São, respectivamente, as TIs: Apyterewa, Munduruku, Cachoeira Seca do Iriri, Trincheira/Bacajá, Andirá-Marau (cujo território também fica no Amazonas), Kayapó e Alto Rio Guamá.

Já entre as áreas indígenas mais ameaçadas, a TI Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, ocupou o topo do ranking. E, assim como nos casos de pressão, o Pará foi o Estado com maior número de terras indígenas ameaçadas, com seis das dez TIs com maior número de ocorrências. Respectivamente, são: Trincheira/Bacajá, Parakanã, Baú, Cachoeira Seca do Iriri, Kayapó e Arara.

Amazônia
Entre agosto de 2020 e julho de 2021, foram mais de 10 mil ocorrências de devastação da floresta dentro ou a até 10 quilômetros desses territórios, 13% a mais do que no período anterior, entre agosto de 2019 e julho de 2020.

Entre agosto de 2020 e julho de 2021, 7.005 ocorrências (66%) foram classificadas como ameaça e 3.565 (34%) como pressão. "Isso indica que, em geral, houve mais casos de desmatamento ao redor das áreas protegidas do que dentro delas, o que serve de alerta para a necessidade de ações que impeçam ainda mais o avanço da destruição", diz o Imazon.

Ritmo Intenso
Para o pesquisador Antônio Fonseca, o que chama a atenção com o ritmo intenso de desmatamento no Pará é a quantidade de áreas protegidas que estão sendo ocupadas de forma ilegal, por meio da destruição da floresta. O destaque fica por conta das terras indígenas, que têm sido alvos de ações do garimpo, destaca o especialista.

"O Pará, assim como os outros Estados, tem apresentado um ritmo intenso de desmatamento e o que chama a atenção aqui é a questão da quantidade de áreas protegidas que estão sendo ocupadas de forma ilegal, através do desmatamento. A gente destaca, principalmente, através dos dados que estão sendo mostrados no estudo, que as terras indígenas têm sido alvos principais, especialmente com o avanço das áreas de garimpo", comenta Fonseca.

Perigo concreto
A dois meses da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26), a constatação de perigo concreto não só à biodiversidade dessas áreas, mas também aos habitantes delas, revela as consequências tomadas pelo poder público, segundo avaliação de Adriana Ramos, especialista em políticas socioambientais do Instituto Socioambiental (ISA). "Os números do desmatamento demonstram o efeito inevitável dos discursos e políticas do governo brasileiro, que estimularam as ilegalidades na Amazônia, em especial o garimpo ilegal dentro de terras indígenas", salienta Adriana Ramos.

Os dados apresentados no levantamento "Ameaça e Pressão de Desmatamento em Áreas Protegidas" são um alerta para a necessidade de providências para impedir o avanço do desmatamento. Além do discurso antiambiental do governo, a pesquisadora também cita outras causas que podem ter contribuído para este avanço da destruição até essas áreas:

"O levantamento demonstra que as mudanças realizadas na forma de fazer a fiscalização, com a transferência da coordenação das ações para o Ministério da Defesa não funcionaram. A paralisação da cobrança de multas também é uma medida que fragiliza toda a gestão ambiental, pois protege os infratores fortalecendo a noção de impunidade", afirmou Adriana.

Adriana Ramos afirma que o governo precisa retomar um plano consistente de controle do desmatamento que fortaleça a fiscalização e a responsabilização dos crimes ambientais sem esquecer da garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas e comunidades tradicionais. "Também é fundamental retomar o Fundo Amazônia que ainda tem R$ 3 bilhões que deveriam estar apoiando projetos para fomentar o uso sustentável das florestas", conclui.

Fator histórico
O secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, também responsabiliza a má administração pública e a influência negativa do governo federal pelo aumento sequencial do desmatamento nestas áreas. "A pressão sofrida pelas comunidades tradicionais em seus territórios com o aumento também da grilagem de terra, mineração e extração ilegal de madeira tem sim influência do governo quando deixa de tomar ações mais rígidas sobre os crimes ambientais cometidos", ressaltou.

O desmatamento no Pará, que costuma deixar a região com os maiores índices relativos à destruição da floresta, vem de um fator histórico, segundo avaliação do advogado e consultor ambiental na capital Belém, José Carlos Lima. À CENARIUM, ele lembra que, no plano do Governo Militar, depois de 1964, o Estado paraense foi escolhido para ser a nova fronteira agrícola do Brasil, ocupando o território com estradas federais e assentamentos de expansão da agricultura, na lógica de "homens sem terra, para terras sem homem".

"Os governos civis, depois da redemocratização, seguiram atuando na região de forma não planejada e permitindo que as atividades ilegais de madeireiros, garimpeiros, sojeiros e pecuaristas, construíssem um rastro de destruição, se aproveitando do grande caos fundiário e da ineficiente política de comando e controle", destaca o consultor.

As ações para segurar parte da biodiversidade, lembra ele, se deram por meio da criação de Unidades de Conservação e demarcação de terras indígenas e quilombolas. "Porém, sem um aparato de fiscalização do tamanho e da importância, as áreas protegidas são alvo dos grileiros e desmatadores ilegais, que recebem proteção de políticos locais", critica o especialista.

Ainda de acordo com José Lima, as estradas federais abertas no Pará, como a Transamazônica e a BR-163, permitiram a madeireiros e garimpeiros acessarem as áreas remotas e de grande biodiversidade, fator que contribuiu para o desmatamento de grandes áreas, muitas das quais, terras ainda não arrecadadas.

"As queimadas na região Amazônica paraense são todas provocadas pelo homem. Queima-se capoeira, depois da extração ilegal de madeira, para transformar a área em pastagem. Também, ainda se pratica na região o uso do fogo para limpar a área que será usada em plantio de roça, porém, o impacto desta prática ancestral é bem menor que as queimadas para o uso da terra como pasto ou com plantio de grãos", reforça.

Confira o estudo completo no link.

https://agenciacenarium.com.br/para-concentra-maioria-das-areas-desmata…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.