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Pará à beira do colapso

Jornal do Brasil-RJ
Autor: Marcus Fernando Fiori
25 de Jun de 2001

Apesar da grande potência hidrológica, o Pará vive uma situação de risco de colapso energético por conta do sistema interligado de Tucuruí com o Nordeste. ''O risco é pequeno mas existe'', disse Marcelo Araújo, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). ''Tucuruí tem de ter reservas suficientes para agüentar o período de seca. O reservatório está com um bom nível de água, mas tem como característica baixar muito rápido (em dois meses) e encher muito rápido também.'' O especialista disse que o Pará será um grande exportador de energia, mas o governo deve dar continuidade ao plano termelétrico das regiões vizinhas para que a atual situação de racionamento não se repita.
Para o especialista, a solução para o Pará é a ampliação do parque gerador de Tucuruí e a construção das quatro usinas hidrelétricas já anunciadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma delas, a de Belo Monte, será maior do que Tucuruí, do porte de Itaipu. ''Mesmo assim, é interessante que o Centro-Oeste e o Nordeste passem a operar com mais folga, dependendo menos do Pará'', disse. Mas esses projetos ficariam prontos em cinco anos para os mais otimistas, ou em 10 anos para os mais realistas.
Racionamento - Marcelo Araújo diz que o Pará deve alcançar facilmente a meta de redução de consumo de 15%, estabelecida no plano alternativo de racionamento acertado com o governo federal. ''É tudo questão de cultura, e isso se alcança gradativamente'', analisou. O estado já obteve redução de 8% no consumo. ''Isso é importante por dois motivos: pela conscientização de que economizar é necessário e para manter o equilíbrio do sistema''.
A Albrás, empresa do grupo Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e maior consumidor individual do sistema de Tucuruí, é responsável por 1/5 da energia consumida no estado (informações da própria empresa, já que o governo paraense diz que a empresa é responsável pelo consumo da metade da energia consumida no estado). ''A Albrás recebe energia subsidiada pelo governo. O subsídio é o ponto crítico que tem de mudar'', analisou Araújo.
Cabo-de-guerra - Já a iluminação pública, que é o ponto de ebulição nas relações entre o governo do Pará e a Prefeitura de Belém - o prefeito Edimilson Rodrigues (PT) sustenta que a capital não vai apagar uma única lâmpada por conta do apagão ''imposto'' pelo governo federal -, seria responsável por apenas 4% ou 5% do consumo de energia.
''O país tem uma potência instalada de 50 mil MW. O problema da iluminação pública é que ela entra no horário de pico, quando o consumo está nos 50 mil MW'', disse Marcelo Araújo. ''Uma boa solução seria retardar a entrada em operação da iluminação pública para depois do horário de pico, e otimizar as luminárias para que elas não gastem muito.''
Impasse - A Comissão Estadual de Acompanhamento da Crise de Energia Elétrica (Ceace) realizou no sábado sua terceira rodada de negociações e ainda não conseguiu determinar como se chegará ao índice de 15% de economia proposto pelo governo federal para que o estado fique fora do programa de racionamento que já atinge as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
O secretário especial de Infra-Estrutura, José Augusto Affonso, disse que a não participação de Belém não inviabiliza o programa, apenas o dificulta. ''Mas não acredito nessa postura do prefeito. A decisão de uma pessoa não pode sacrificar outras seis milhões que habitam o estado'', comentou.
Entretanto, Rodrigues se mantêm intransigente na sua tese de que o apagão na iluminação pública aumentaria a violência durante as noites em Belém. O prefeito considera um absurdo que a comissão decida por um apagão de 30% da iluminação pública da cidade sem convocar um único representante do município para as discussões.

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