OESP, Vida, A14
20 de Jul de 2012
Para ANP, Chevron poderia ter evitado vazamento
Relatório final da agência diz que problema não teria ocorrido se empresa tivesse seguido regras do País; petroleira rebate críticas
SABRINA VALLE, SERGIO TORRES / RIO
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) culpou integralmente a petroleira americana Chevron pela responsabilidade no acidente do Campo de Frade, na Bacia de Campos (RJ), em novembro de 2011. De acordo com o relatório final, de 68 páginas, divulgado ontem pela diretora-geral da agência, Magda Chambriard, o vazamento não teria ocorrido caso a empresa tivesse seguido as regras brasileiras e os procedimentos de seu próprio manual. "Não restam dúvidas de que o acidente poderia ter sido evitado", afirmou Magda.
Já a Chevron rebateu enfaticamente, em nota, as críticas do relatório, garantindo estar "confiante de que sempre atuou de forma diligente e apropriada, de acordo com as melhores práticas da indústria do petróleo, assim como em conformidade com o Plano de Desenvolvimento aprovado pela agência".
As declarações mostram uma forte divergência entre a agência reguladora e a americana sobre as causas do acidente. Magda alertou que a Chevron ficará impedida de voltar a perfurar enquanto não houver convergência de visões, já que a companhia precisa provar à agência atuar com segurança. "Ainda falta. No momento entendemos que a perfuração e a injeção de água ainda não são seguras", disse.
Já a produção não apresenta riscos aparentes e deve ser autorizada novamente depois do dia 27, quando a Chevron enviará o cronograma de produção à agência. Foi a própria Chevron que decidiu interromper a produção, o que afetou também a Petrobrás, sua sócia no campo.
O relatório da ANP se refere ao vazamento de novembro, calculado até agora pela agência em 3,7 mil barris de óleo. A Chevron revisou recentemente para baixo sua estimativa, de 2,4 mil para 1,2 mil barris.
A multa da ANP pelas falhas de segurança operacional deve ficar em torno de R$ 40 milhões. O valor será divulgado em até 30 dias. A lei impõe um limite de R$ 50 milhões para as 25 infrações identificadas, de acordo com Magda. O teto é considerado baixo pela reguladora, que trabalha no Congresso pela mudança da Lei de Penalidades de forma a aumentar punições futuras. Ibama e Ministério Público também devem emitir relatórios próprios sobre os efeitos para o meio ambiente para a sociedade.
Outra ação. Um segundo processo, relativo ao afloramento de óleo ocorrido em março deste ano, ainda está em andamento. A ANP não identificou erros graves por parte da prestadora de serviço Transocean ou falhas na regulação brasileira.
A ANP apurou seis falhas básicas, todas rebatidas em nota pela Chevron. Para a agência, houve fratura do reservatórios depois que a Chevron não interpretou corretamente a geologia e pressão do poço, apesar de haver 62 poços perfurados no campo. Também diz ter havido excesso de pressão no trecho do reservatório, com um poço injetor.
Segundo a agência, a Chevron desconsiderou os resultados de testes de resistência de formação de três poços perfurados anteriormente na mesma região. Uma quarta falha aponta que a Chevron desconsiderou seu próprio manual de controle de poços, com falha de pressão para um poço investigativo. O assentamento da última sapata usada na proteção do poço com pouca profundidade (600 metros do leito marinho) também contribuiu para o descontrole do poço, diz a ANP. Por último, a agência diz que a Chevron demorou em reconhecer o descontrole do poço, com adoção de metodologia ineficaz que possibilitou um maior volume vazado.
A Chevron garante que seguiu as regras da agência. "Estamos trabalhando com a ANP em relação a toda as questões", disse, em nota.
Para lembrar
Ibama e PF se contradizem
No dia 21 de novembro do ano passado, duas semanas após o início do vazamento, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou a petroleira Chevron em R$ 50 milhões.
Depois, no início de dezembro, a própria procuradoria jurídica do Ibama contestou a penalidade, pois ela havia sido anunciada um dia antes da conclusão do laudo que classificou o acidente como "dano ambiental grave".
Na semana passada, foi revelado um relatório da Polícia Federal que indicou ser impossível mensurar o dano ambiental do vazamento de novembro, contrariando o laudo do Ibama.
Na ocasião, representantes da Chevron alegaram que "não houve impacto à vida marinha ou à saúde humana" e "nenhum óleo chegou à costa brasileira".
OESP, 20/07/2012, Vida, A14
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