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Pajés foram perseguidos

A Crítica, Cidades, p. C5
22 de Ago de 2002

Pajés foram perseguidos

Os povos indígenas, numa relação estreita com a natureza, acumularam durante séculos conhecimentos sobre a biodiversidade amazônica, estabelecendo métodos de investigação e experimentos, desenvolvendo processos de classificação por meio de sua tradição, mitologia e formas narrativas de circulação de saber.

Mas durante os últimos 500 anos, principalmente os pajés foram muito perseguidos, não para apropriar o conhecimento, mas para negá-lo. "As igrejas, todas, ridicularizaram, desqualificando os ritos, destruindo suas casas, malocas, os locais de celebração. Hoje é mais difícil encontrar um pajé, reconhecido pela comunidade por causa da força da repressão sofrida", conta o professor Ademir Ramos.

Como se trata de um conhecimento repassado de forma histórica, de narrativa de antepassados, a iniciação dos pajés foi reduzida nas famílias tradicionais. Segundo o presidente da Fepi, há relatos, na região do Alto Solimões, frios e cruéis, da negação dessa cultura milenar. Há 30 anos teve início um processo de retorno às tradições indígenas, o que agora se volta mais para um resgate espiritual.

"O conhecimento adquirido não nega a ciência, o diferente. Eles se complementam, convergem. Até porque as doenças hoje, depois do contato, são novas. Isso é o diálogo para que haja reciprocidade", explica Ademir.

Na região do rio Negro, a reciprocidade vem sendo trabalhada através da educação, como método de levar às aldeias a defesa de seus direitos. No local vivem 22 etnias e quase 50 organizações indígenas, organismos interlocutores para a sociedade civil. Hoje, dentro das aldeias, há um processo de legitimação dos grupos políticos liderados pelos jovens índios. Uma organização só passa a ser reconhecida como legítima quando está associada ao conhecimento tradicional, o que é conferido pelos velhos das tribos. Os mais antigos começam a ser ouvidos pelas lideranças e acompanham o fortalecimento da cultura, principalmente através do ensino repassado.

A Crítica, 22/08/2002, Cidades, p. C5

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