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Países ricos tampouco apresentam metas

O Globo, Ciência, p. 38
05 de Nov de 2009

Países ricos tampouco apresentam metas
Em Barcelona, ganha força tese de que a cúpula de Copenhague não terá acordo

Catarina Alencastro*
Enviada especial

Cresce o desconforto dos países em desenvolvimento com a falta de clareza dos países ricos sobre as metas de redução de gases-estufa que irão assumir a partir de 2012. Nos bastidores das negociações que acontecem em Barcelona, ganha corpo a tese de que o mais provável é que o encontro de cúpula em Copenhague não feche um protocolo oficial, com força de lei, mas apenas um acordo político. Na prática, tal acordo não teria muita força, pois não implicaria um compromisso oficial dos países membros, como é o Protocolo de Kioto.

O representante da União Europeia, Arthur Metzger, admitiu que essa hipótese circula nos corredores em Barcelona, mas que deverá haver algum entendimento em Copenhague:
- É muito difícil antevermos o rumo que estamos tomando. Nós não teremos isso antes de Copenhague. Provavelmente não teremos isso antes da última noite do encontro de Copenhague, como aconteceu em Kioto.

Uma das condições essenciais para o sucesso de Copenhague é uma posição dos Estados Unidos - historicamente os maiores emissores - sobre ações consistentes que irão tomar para reduzir suas emissões. O problema é que o Senado americano não está disposto a acelerar a votação de sua lei climática, sem a qual o país não se comprometerá com metas.

Caso isso não aconteça até o dia 7 de dezembro, quando começa a reunião em Copenhague, o resultado pode ser um acordo sem metas, com um catálogo de propostas a serem regulamentadas no ano que vem.

Outra possibilidade é que os membros da convenção acordem uma faixa de redução de emissões a ser cumprida pelos ricos, ao invés de um número específico. Nesse cenário, os países desenvolvidos aceitariam cortar entre 20% e 30% de suas emissões de gases-estufa até 2020.

Para o negociador-chefe do Brasil, embaixador Luiz Figueiredo, o país espera que um acordo mais ambicioso que esses planos B e C seja alcançado. Ele não quis comentar a decisão do governo de adiar o anúncio de suas metas, mas disse que espera que as ações brasileiras ajudem a alavancar as negociações:

- O Brasil fez uma escolha clara de não apostar no fracasso e, ao apresentar suas ações, contribuir para o êxito de Copenhague. A gente quer um resultado robusto, que respeite as recomendações da ciência.

Ele explicou que o desejado é que os países industrializados cortem de 25% a 40%, e que os emergentes reduzam o crescimento de suas emissões, com financiamento e tecnologia dos ricos.

Já Arthur Metzger elogiou a intenção do Brasil de reduzir o desmatamento em 80% até 2020.

- É uma proposta muito boa porque nos ajudará a alcançar a meta global que desejamos.

(*) A repórter viajou a convite da organização da COP 15.

Para inglês ver
É tão ruim o Brasil desembarcar em Copenhague sem meta de redução de emissões quanto definir um número irreal, que não possa cumprir. Como o papel aceita tudo, o maior risco é o segundo.

Teme-se que isso ocorra, pois a supressão exótica do Ministério da Agricultura das discussões internas sobre o assunto - logo o setor que direta e indiretamente mais contribui para as emissões - coloca em dúvida a qualidade da decisão a ser tomada.

O Globo, 05/11/2009, Ciência, p. 38

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