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País tem 300 casos graves de problemas ambientais

OESP, Vida, p. A19
21 de Abr de 2010

País tem 300 casos graves de problemas ambientais
São Paulo concentra 30 deles, revela mapa que relaciona os conflitos a riscos de saúde

Afra Balazina e Andrea Vialli

O Brasil tem pelo menos 300 casos graves de problemas ambientais e o Estado de São Paulo concentra 30 deles. É o que mostra levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), que será apresentado na Assembleia Legislativa de São Paulo na próxima semana.
O trabalho, chamado de Mapa da Injustiça Ambiental e de Saúde no Brasil, está disponível para consulta na internet (conflitoambiental.icict.fiocruz.br). Ele aborda casos como os de contaminação na Vila Carioca e em Jurubatuba, na capital paulista, e situações do interior e do litoral.
"É em São Paulo onde aparecem mais conflitos. É o Estado mais populoso e mais industrial, além de ter o passivo ambiental mais conhecido, com entidades ambientais atuantes", afirma Marcelo Firpo, coordenador do projeto e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).
Segundo Firpo, o objetivo do mapa é "dar maior visibilidade às lutas por melhor qualidade de vida e por um ambiente mais saudável". Ele admite que o universo levantado num período de um ano e meio de trabalho não esgota as inúmeras situações de contaminação existentes no País. "Mas reflete uma parcela importante de casos", diz.
O mapa apresenta, além de muitas situações de contaminação do solo e da água, questões como a construção de um porto em Peruíbe - que impactaria uma área preservada de Mata Atlântica e uma aldeia indígena - e a criação de hidrelétricas no Vale do Ribeira, no sul do Estado, que afetaria quilombolas.
Sem solução. Vários casos de contaminação são conhecidos dos moradores da capital. Porém, a maior parte dos problemas não teve uma conclusão considerada satisfatória pelos atingidos. Um dos exemplos é a Vila Carioca, na zona sul, que teve o solo e a água contaminados por substâncias cancerígenas por uma unidade estocagem da Shell. De acordo com o mapa, a situação ameaça a saúde de até 30 mil pessoas num raio de um quilômetro.
Segundo a agência ambiental paulista (Cetesb), a Shell mapeou e removeu o solo contaminado e tem feito o tratamento da água subterrânea. Rodrigo Cunha, coordenador do grupo que gerencia as áreas consideradas críticas pela Cetesb, afirma que durante as investigações do caso foi descoberta também a contaminação "por solventes clorados, que a Shell nunca manipulou". Agora, segundo ele, é preciso continuar os estudos para identificar quem foi responsável pela contaminação.
Segundo Marcelo Guirao, vice-presidente da SOS Vila Carioca, quatro CPIs sobre o caso já foram feitas, mas não houve desfecho. Ele pede um acompanhamento efetivo da saúde das pessoas afetadas. "É tudo muito devagar e os exames são sempre inconclusivos, o que dificulta qualquer processo na Justiça."
Em nota, a Shell Brasil afirma que finalizará neste ano os trabalhos de contenção da poluição do local e dará continuidade aos monitoramentos. Mas a empresa nega que suas atividades coloquem em risco a saúde da população no entorno de sua unidade.
"Todos os estudos, análises e monitoramento ambiental que a Shell vem realizando desde o início dos trabalhos indicam que os impactos ambientais das atividades do passado estão concentrados na área interna da unidade, não oferecendo exposição a risco de saúde dos seus vizinhos."
Em relação a Jurubatuba, também na zona sul, o mapa informa que é considerada a área com maior passivo ambiental da cidade. "Os aquíferos da região estão contaminados com solventes clorados. Além da proximidade com a Represa Billings, há na área grande número de indústrias com aquíferos poluídos, uma faculdade e bairros residenciais expostos."
Segundo Cunha, há 19 empresas envolvidas e, enquanto algumas fazem uma investigação detalhada do problema, outras já iniciaram a descontaminação. A Cetesb tem oito áreas atualmente consideradas críticas - tanto a Vila Carioca quanto Jurubatuba estão na lista.

Indignação
Marcelo Guirao
Vice-presidente da SOS Vila Carioca
"Falta atuação do poder público na Vila Carioca. Nesse caso, o tempo é sempre amigo da empresa. Estamos desde 2002 em cima disso e nada aconteceu
até agora."
"Não é justo a gente arcar com todo o prejuízo. A administração municipal também deveria cobrar o que já gastou até agora com a saúde das pessoas."

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100421/not_imp540965,0.php

A falta de regulação ambiental era uma aliada de empresas

Afra Balazina e Andrea Vialli

Os casos de contaminação por indústrias no Estado ocorreram, em sua maior parte, antes de existirem leis ambientais ou quando a fiscalização ainda era mais precária.
Na zona leste da capital há prejuízos antigos. O mapa da Fiocruz afirma que desde 1935 a Companhia Nitro-Química Brasileira tem provocado acidentes ambientais em São Miguel Paulista, em terrenos localizados próximos ao Rio Tietê e ao Córrego Itaquera.
"Nos anos 30, quando a indústria fez sua primeira descarga de resíduos no Rio Tietê, a mortandade de peixes foi tão grande que eles se acumularam aos milhares nos remansos dos rios, cobrindo a superfície das águas", informa o estudo.
Rodrigo Cunha, da Cetesb, lembra também do caso em que as Indústrias Químicas Matarazzo poluíram uma área de 200 mil metros quadrados em São Caetano do Sul com pesticidas e mercúrio. "São Caetano é um município pequeno e demanda áreas para expansão. Por isso, precisamos acompanhar a região", diz.
O caso de Jurubatuba, na zona sul de São Paulo, só veio à tona quando a empresa Gillette fez uma autodenúncia, depois de comprar um terreno da Duracell e encontrar solventes. No passado, a região era uma zona industrial, bem diferente do que é hoje, com residências, shopping e faculdade.
Hoje, muitas das indústrias acusadas de contaminação se dizem comprometidas com a responsabilidade ambiental. Resta saber se efetivamente estão tomando os cuidados necessários para que eventos semelhantes não ocorram novamente, deixando a conta para as próximas gerações.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100421/not_imp540966,0.php

Aterro Mantovani continua sem solução

Andrea Vialli

Um dos casos mais conhecidos de contaminação ambiental no interior de São Paulo, o Aterro Mantovani, permanece sem uma solução definitiva. O aterro industrial, localizado no km 147 da Rodovia Campinas-Mogi Mirim, em Santo Antônio de Posse, recebeu entre 1974 e 1987 todo tipo de resíduo contaminante - borras oleosas, resíduos de destilação de solventes, de indústrias químicas, farmacêuticas e metalúrgicas e de refino de petróleo, entre outros.
Dispostos no ambiente, esses resíduos contaminaram as águas subterrâneas e o solo. Das mais de 60 empresas que ali descartaram seus rejeitos, cerca de 40 negociaram com a Cetesb ações para evitar que a poluição continue se espalhando, além do fornecimento de água potável para três sítios vizinhos ao aterro.
"Mas são ações que apenas contornam o problema. A fonte primária de poluição, que é o aterro, continua lá, ativa", diz Lúcio Flávio Furtado Lima, gerente da agência ambiental de Paulínia (SP). "Não há um projeto definitivo de descontaminação da área", diz.
No total, as empresas depositaram no aterro, ao longo dos anos, 326 mil toneladas de resíduos tóxicos. Segundo Lima, há dois anos houve a remoção de 3 mil toneladas de borras oleosas, que foram utilizados em fornos de indústrias de cimento. A maior parte dos resíduos ainda aguarda uma solução adequada.
Uma das propostas das empresas era acondicionar os resíduos em uma vala coberta por material impermeabilizado - que foi descartada pelo órgão ambiental. "Será preciso uma solução técnica mais eficiente. Mas não sabemos quanto tempo será necessário para que a área fique livre de contaminação."

OESP, 21/04/2010, Vida, p. A19

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100421/not_imp540967,0.php

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