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País poderia produzir uma "Tapajós" de energia renovável, diz Greenpeace

Valor Econômico, Brasil, p. A2
13 de Abr de 2016

País poderia produzir uma "Tapajós" de energia renovável, diz Greenpeace

Daniela Chiaretti

O Greenpeace lança hoje um relatório internacional com três cenários energéticos que indicam que o Brasil poderia produzir energia a partir de fontes renováveis na mesma quantidade que a prevista, em média, pela usina de São Luiz do Tapajós. Os ganhos seriam ambientais e sociais, evitando desmatamento, o deslocamento de povos indígenas e comunidades tradicionais, além de perdas de biodiversidade na maior floresta tropical do mundo. Ainda, poderiam impulsionar o país a investir em fontes de energia contemporâneas e de menor impacto.
"As centrais hidrelétricas da Amazônia representam uma escolha desatualizada em relação ao patrimônio ambiental da região e às populações indígenas", diz o relatório "Hidrelétricas na Amazônia: um mau negócio para o Brasil e para o mundo", obtido com exclusividade pelo Valor. Há mais de 10 mil índios mundurukus espalhados pela calha do rio Tapajós e que se sentem ameaçados pelos planos de construção de usinas na região onde vivem há séculos.
A combinação entre a energia produzida por usinas solares, eólicas e de biomassa seria mais cara que a previsão de investimentos em São Luiz do Tapajós, estimada em R$ 28 bilhões. Mas, se os investimentos em São Luiz aumentarem, acompanhando a trajetória das hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, o valor de São Luiz do Tapajós poderia saltar para R$ 52 bilhões, calculam os ambientalistas. Neste caso, a opção pelas outras fontes se tornaria atraente.
O relatório do Greenpeace lembra que a usina de São Luiz do Tapajós teria capacidade instalada de 8.040 MW, com uma média de energia firme esperada de 4.012 MW. Seriam cinco anos de construção, mas com a última turbina entrando em operação no 7o ano, prazo equivalente ao dos cenários sugeridos pelo Greenpeace.
O estudo explora três cenários energéticos. O primeiro combina fontes solares com eólicas que poderiam resultar em 4.425 MW em oito anos (considerando o prazo do contrato e instalação), com investimentos de R$ 50 bilhões. O segundo explora a combinação de usinas solares, eólicas e energia de biomassa a um custo de R$ 45 bilhões. A proposta mais econômica conjuga geração eólica com biomassa e significaria R$ 35 bilhões.
"A estratégia atual de construir a matriz energética do futuro é a de não se basear em uma única fonte", diz Ricardo Baitelo, coordenador de clima e energia do Greenpeace no Brasil. "Ao complementar com a energia produzida por outras fontes, se consegue ter maior segurança energética. Quando uma fonte está fora de sua temporada de geração, a outra pode complementar a lacuna energética", explica. "Eólica e biomassa são perfeitas para a época de estiagem, quando as hidrelétricas têm problemas", ilustra, referindo-se ao que costuma ocorrer entre maio e novembro. O Brasil, na época da estiagem, tem usado fontes térmicas, mais caras e emissoras de gases-estufa.
Na investida do Greenpeace há também um caminho político. "Buscamos fazer uma discussão com as empresas e questioná-las", diz Danicley de Aguiar, da Campanha da Amazônia do Greenpeace, referindo-se aos agentes financiadores e empresas que poderiam se interessar pelo projeto das usinas do Tapajós, tanto na construção como no fornecimento de equipamentos. Os ativistas têm entrado em contato com empresas procurando convencê-las do contrário. Há ações previstas também no exterior. "Nossa tese é que elas não deveriam participar dos leilões do Tapajós e de nenhuma outra hidrelétrica na Amazônia", diz Aguiar.
No relatório, o Greenpeace pede que o governo brasileiro cancele seus planos de construir hidrelétricas na Amazônia e estimule empresas e financiadores a desenvolver um futuro de energia "verdadeiramente limpa para o Brasil".
São Luiz do Tapajós pode vir a ser a maior usina na Amazônia depois de Belo Monte. Se construída, irá alagar 376 km²de florestas em região de biodiversidade excepcional. "A aposta em novas hidrelétricas na Amazônia tem causado enorme destruição e se mostrado um erro desastroso para o país e para o mundo", diz Aguiar.

Valor Econômico, 13/04/2016, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/4521737/pais-poderia-produzir-uma-tapajo…

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