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País investe pouco em pesquisa geológica

Valor Econômico, Especial, p. G6
23 de Set de 2013

País investe pouco em pesquisa geológica

Por Salete Silva | Para o Valor, de São Paulo

O Brasil investe em pesquisa de novas jazidas menos do que países menores ou com dimensões e formação geológicas semelhantes. Embora ocupe território sete vezes maior, o país destinou em 2011 cerca de 60% do valor investido pelo Peru em investigação geológica, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Elevar os recursos destinados à pesquisa de novas reservas está fora dos planos de grandes investidores.
"Trata-se de uma atividade de alto risco sem nenhum mecanismo de financiamento disponível", explica a gerente de pesquisa e desenvolvimento do Ibram, Cinthia de Paiva Rodrigues. Os investimentos mundiais em exploração mineral foram estimados em US$ 10,7 bilhões pelo Meals Economic Group (MEC).
A participação do Brasil nesse volume é de apenas 3%, enquanto o Canadá e a Austrália, com dimensões e formação geológicas similares às brasileiras, lideram o ranking de investidores, com 19% e 12% respectivamente. Os EUA ocupam a terceira posição, com 8%. O Brasil fica não só atrás da China (4%) e Rússia (4%) como também do México (6%) e do Peru (5%).
Para cada mil áreas pesquisadas, Cinthia calcula, apenas uma vira mina. Dos requerimentos de pesquisa apresentados ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), menos de 1% acabam em registro de extração. O DNPM recebeu no ano passado 20.463 requerimentos de pesquisa e efetivou 136 registros de extração. "O risco fica todo para a iniciativa privada", afirma.
Os investimentos em investigação de novas reservas são baixos, mas podem superar os US$ 321 milhões estimados pelo MEC, ressalva o diretor-executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo João Marini. É que o levantamento exclui, segundo ele, os metais ferrosos, urânio e também manganês, que, segundo ele, tem sido bem explorado no Brasil. "O estudo exclui também os investimentos de pequenas mineradoras que investem pouco, mas que formam um grupo de até 20 mil empresas", explica.
A ausência de linhas de financiamento é um dos desestímulos à pesquisa. Mas o diretor da Adimb aponta outros fatores importantes para estimular a investigação de novas reservas: incentivos fiscais, garantias e estabilidades jurídicas com menor cobrança de royalties, e menor custo Brasil. No Canadá, ele lembra, os investidores em ações de empresas mineradoras nas bolsas de valores podem abater até 15% do valor no imposto de renda. "É uma forma indireta de o setor público investir na exploração mineral", avalia.
O alto custo Brasil, segundo ele, está afugentando até o beneficiamento das commodities. Muitas empresas, ele relata, fazem esse serviço no exterior. "Procuram países como o Peru, por exemplo, que tem energia elétrica duas vezes mais barata do que a do Brasil." Novas pesquisas esbarram ainda na falta de infraestrutura. A Amazônia e o Leste do Brasil, ele avalia, seriam mais bem exploradas se houvesse maior oferta de energia elétrica, hidrovias e rodovias.
Falta também informação geológica, mapas geológicos precisos e mais detalhados para facilitar o trabalho e reduzir os gastos. O Brasil avançou nessa área, mas, segundo ele, está longe de ter uma cartografia geológica como as dos distritos minerais do Canadá e Austrália. "Os mapas canadenses são de alta qualidade e o investidor sabe onde estão todos os tipos de minerais", diz.
As maiores investidoras nessa área devem manter ou reduzir os investimentos. Os recursos para financiar a pesquisa de novas jazidas da Votorantim Metais no Brasil e no exterior, como Argentina, Colômbia, Peru, Canadá e mais recentemente em países do continente africano estão estimados em R$ 100 milhões e saem do caixa da empresa, segundo o diretor de Exploração Mineral do grupo Votorantim, Jones Belther.
Com o foco principal na alocação de capital, privilegiando investimentos com maior retorno aos acionistas, a Vale tem reduzido os investimentos em P&D, informa a assessoria de imprensa da Vale. No ano passado, a empresa investiu US$ 1,6 bilhão dos US$ 2,35 bilhões previstos para essa área. Este ano, será investido US$ 1 bilhão, equivalente a 7% do valor projetado para 2013. Desse total, US$ 382 milhões devem financiar programa de exploração mineral, US$ 645 milhões estudos conceituais, de pré-viabilidade e de viabilidade e US$ 206 milhões os novos processos e inovações tecnológicas.

Valor Econômico, 23/09/2013, Especial, p. G6

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