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País bate 9o pico de consumo de energia

FSP, Mercado, p. B3
07 de Fev de 2014

País bate 9o pico de consumo de energia
Para especialistas, consumo alto deixa sistema elétrico mais frágil
Operador Nacional do Sistema recomenda economia e diz que causas do apagão de terça sairão em 15 dias

Samantha Lima do Rio

Em pouco mais de dois meses, o país bateu nove vezes o recorde do consumo de eletricidade. O mais recente foi anteontem, um dia depois da falha em linhas de transmissão em Goiás que deixou 13 Estados sem eletricidade.
A carga instantânea atingiu 85.708 MW às 15h41, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Desde o primeiro pico desta temporada de calor, em 3 de dezembro, a carga adicional exigida pelos consumidores das usinas foi de 7.676 MW, um aumento de 9,2%.
Essa energia elétrica adicional é suficiente para abastecer mais de 20 milhões de pessoas e equivale a 70% da potência da usina de Belo Monte (Pará), que vai atingir capacidade máxima em 2018.
"Em um sistema estressado pelo nível baixo dos reservatórios do Sudeste e do Sul e pela inversão do fluxo elétrico no Sistema Interligado Nacional, que agora vem do Norte para preservar reservatórios no Sudeste, os picos de energia são fator adicional de instabilidade, aumentando o risco de apagões", diz José Wanderley Marangon, professor de sistemas elétricos da Universidade Federal de Itajubá.
A redução no preço da energia em 2013 foi, na avaliação de Ennio Perez, professor da Unicamp, fator de incentivo ao consumo. A presidente Dilma Rousseff determinou, via decreto, redução média de 20% nas tarifas.
"Falta no Brasil a cultura de incentivar a economia de energia elétrica", afirma.
Economia foi coincidentemente a sugestão dada ontem pelo diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, para quem a situação atual não implica necessidade de racionamento, mas "toda economia é bem-vinda".
Chipp disse que o relatório sobre as causas do apagão só será divulgado em 15 dias.

PREÇO RECORDE

Em meio ao cenário de poucas chuvas e de nível baixo dos reservatórios, o preço da energia começará sua segunda semana seguida no patamar mais alto da história, segundo projeção da Abiape (associação de produtores).
Para a entidade, o preço do megawatt médio vai permanecer em R$ 822 - R$ 560 acima da média do ano passado. Isso elevará o valor que o Tesouro terá de destinar às distribuidoras para evitar repasses aos preços finais.
Apenas em janeiro de 2014 as empresas gastaram R$ 1 bilhão com a compra de energia, mais R$ 500 milhões na primeira semana de fevereiro. Estima-se mais ou menos o mesmo valor na segunda semana deste mês.
Em outras palavras, neste começo de ano já se consumiu cerca de um quinto dos R$ 9 bilhões de repasse previstos para este ano.

Ritmo de expansão segue ritmo mais lento do que o planejado

DIMMI AMORA / JÚLIA BORBA DE BRASÍLIA

Dados oficiais mostram que a expansão do setor elétrico segue ritmo bem mais lento do que o planejado pelo governo.

De acordo com a EPE (Empresa de Planejamento Energético), nos próximos dez anos será necessário expandir a rede de linhas de transmissão de 104.000 km para 155.000 km. O crescimento representa, em média, 5.000 km de linhas entregues a cada ano. Entre 2007 e 2012, a média anual de construção de linhas no país foi de 3.000 km.

Na geração, o quadro não é melhor. A EPE planeja, também para os próximos dez anos, a implantação de usinas capazes de gerar mais 63.500 MW para o sistema.

A capacidade passaria de 119.000 MW para 183.000 MW. Uma média de 6.300 MW novos disponíveis por ano.

Nos últimos seis anos, o país só conseguiu colocar para funcionar 4.000 MW, em média, a cada ano.

Em janeiro, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou as metas para o ano de 2014, que coincidem com as da EPE: "Pelo menos 6.000 MW de capacidade instalada em novas usinas e 6.800 km de linhas de transmissão", informa nota no site do ministério.

No ano de 2013, a situação foi melhor. Em dados ainda não oficializados pela EPE, Lobão anunciou que o país implantou 10.000 km de linhas e 6.500 MW novos.

Ainda assim, o novo parque não está bastando para dar mais segurança ao sistema, que já apresentou uma falha grave nesta semana, gerando apagão em 13 Estados.

As obras de infraestrutura também acumulam atraso. Segundo dados do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, 71% das obras de transmissão estão atrasadas. O tempo médio de atraso é de 13,5 meses, maior do que nas obras de geração, em que 64% ultrapassam as previsões em 8,5 meses, em média.

Para o consultor Roberto Pereira d'Araújo, o impacto dessa demora é a dificuldade de ofertar energia para atender, com sobra, a demanda.

Ele diz que, em 2012, houve mau gerenciamento do volume de água nos reservatórios para evitar aumento no preço da energia antes de o governo anunciar que haveria redução desse custo.

FSP, 07/02/2014, Mercado, p. B3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/151093-pais-bate-9-pico-de-con…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/151092-ritmo-de-expansao-segue…

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