FSP, Brasil, p.A6
10 de Mai de 2004
Outras etnias se dizem discriminadas
Tiago Ornaghi
Índios do Estado de Rondônia afirmam estar enfrentando uma onda de discriminação em razão do assassinato de garimpeiros por indígenas de uma das etnias que vive no Estado, a cinta-larga.
O massacre de pelo menos 29 garimpeiros ocorreu no dia 7 de abril dentro da reserva Roosevelt, localizada no sudeste de Rondônia (veja mapa ao lado).
Representantes da etnia tupari, que vive em uma reserva na região do município de Alta Floresta d'Oeste (540 km de Porto Velho), se queixaram na sexta-feira ao Ministério Público Federal, em Porto Velho, que estão sendo vítimas de discriminação por parte de não-índios em vários municípios do Estado.
Ameaças
De acordo com o chefe indígena Brasilino Tupari, já foram registrados pelo menos três casos em que índios foram constrangidos pela população não-índia. "As cidades estão se tornando um ambiente perigoso para os índios. Não podemos mais andar seguros onde existem garimpeiros", declarou o chefe.
O garimpeiro Sabiá, do sindicato dos garimpeiros de Espigão d'Oeste (534 km de Porto Velho), cidade mais próxima da reserva Roosevelt, disse que desconhece todos os casos e que não são os garimpeiros os responsáveis pela discriminação contra os indígenas. "Sempre trabalhamos junto com os índios até o massacre da Roosevelt", declarou.
Em Guajará-Mirim (330 km de Porto Velho), na fronteira com a Bolívia, no dia 27 de abril, um índio conhecido por "Chuá", da etnia urupá, foi espancado por três homens que, segundo o índio, diziam estar se vingando pelo assassinato dos garimpeiros. De acordo com Chuá, eles o chamaram de "matador de brancos".
Chuá sofreu diversas escoriações e ficou hospitalizado por três dias no hospital da cidade.
Em Ariquemes (199 km de Porto Velho), no último dia 25 de abril, por volta das 20h, três jagunços de uma fazenda da região constrangeram uma comitiva de índios tupari que estava na cidade para comprar comida.
Em um restaurante no centro da cidade, os homens, que segundo os índios estavam armados, abordaram os indígenas e perguntaram se eles eram cintas-largas. Agentes da Polícia Militar intervieram e separaram os grupos. Não houve confronto.
Nesse mesmo dia, em Pimenta Bueno (515 km de Porto Velho), próximo à reserva Roosevelt, uma mulher tupari afirma ter sido impedida de fazer compras em um mercado da cidade. Ela afirma que a bolsa que carregava foi atirada no chão por dois jovens que a expulsaram do estabelecimento.
FSP, 10/05/2004, Brasil, p. A6
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