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Os transgenicos e o preco do atraso

OESP, Economia, p.B2
Autor: MING, Celso
27 de Mar de 2004

Os transgênicos e o preço do atraso
Enquanto o Brasil segue impondo barreiras burocráticas às instituições de pesquisa e às empresas que desenvolvem produtos transgênicos, a concorrência externa vai avançando.
O pesquisador Francisco Aragão é o gestor do núcleo de Biotecnologia do Centro Nacional de Recursos Genéticos da Embrapa (Cenargen).
Foi ele o responsável pelo projeto do feijão transgênico resistente ao vírus do mosaico dourado, cujos testes de campo levaram três anos e meio para ser autorizados.
Ele conta a história dessa via-sacra. O pedido de liberação dos testes foi encaminhado à CTNBio em outubro de 2000. Em abril de 2001, o juiz Charles Moraes, da 14.ª Vara Federal do Distrito Federal, acatou liminar do Ministério Público e suspendeu os testes com transgênicos destinados ao controle de pragas que não tivessem Registro Especial Temporário (RET), exigido para pesquisas com agrotóxicos. O Ministério da Agricultura, responsável pelo fornecimento desse registro, nunca havia expedido RET para testes com transgênicos. Foram necessárias três licenças, duas do Ibama e uma da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que o Ministério da Agricultura pudesse, em 15 março deste ano, liberar o RET, autorizando a pesquisa de campo.
"A exigência de tantas licenças impõe enorme desvantagem ao Brasil em relação aos concorrentes internacionais. Na China, a liberação de uma pesquisa de campo não leva mais que três meses", queixa-se Aragão.
O número de autorizações para pesquisas de campo caiu de 339, em 1999, para 159 em 2001, quando o tal RET passou a ser exigido. Em 2003, foram apenas 32 autorizações. Na Argentina, a Comissão Nacional de Assessoria em Biotecnologia e Agropecuária (Conabia) autorizou 99 pesquisas em 2003. Na União Européia, foram liberadas 1901 pesquisas desde 1991. Nada menos que 21 produtos foram licenciados para comercialização.
Os recordistas nesse segmento são os Estados Unidos. Relatório do Departamento de Agricultura (USDA) dá conta de que lá foram autorizadas 10.373 pesquisas desde 1997 e liberados para venda 52 produtos. Só no ano passado, foram concedidas 549 autorizações.
Por aí se vê que atraso tem seu preço. A seguir, você confere uma lista das novidades que estão em teste de campo:
Soja com maior teor de ácido oléico (gordura monoinsaturada) - Desenvolvida pela Pioneer DuPont nos Estados Unidos. Diferentemente das gorduras saturadas, presentes em alimentos de origem animal, e das gorduras poliinsaturadas presentes no óleo de soja, o ácido oléico não forma depósitos de colesterol nas artérias. Isso implica menor risco de doenças cardiovasculares.
Soja com alto teor de aminoácidos - As pesquisas estão sendo feitas na Argentina pela Monsanto. Embora a soja possua 38% de aminoácidos (responsáveis pela síntese de proteínas), seu teor de aminoácidos sulfurados é baixo. A dieta pobre em metionina pode causar deficiências no crescimento.
Amendoim resistente a vírus - Desenvolvido na Índia pelo Instituto Internacional de Pesquisa Agrícola para os Trópicos Semiáridos (Icrisat). O Peanut Clum Virus (PCV) provoca atrofia nas plantas e amarelamento das folhas.
Mamão de amadurecimento mais lento - A modificação genética foi feita pela Universidade de Queensland (Austrália). O objetivo é aumentar o tempo de conservação da fruta após colhida, reduzindo perdas e custos com refrigeração.
Tabaco com capacidade de sintetizar colágeno - Extraído de pele bovina nos curtumes, o colágeno é matéria-prima para as indústrias farmacêutica, de alimentos e de cosméticos. Desenvolvido na Espanha pela Biocem e pela Clause Ibérica.
Batata com alteração da composição de carboidratos - A empresa responsável pelas pesquisas é a Axis Genetic. As alterações na composição dos carboidratos podem, por exemplo, resultar numa variedade de batata que absorva menos óleo na fritura. Os testes estão sendo feitos na Inglaterra.
Cravos com alterações na síntese de etileno - Desenvolvidos na Holanda pela Hilverda. O etileno é um hormônio responsável pela maturação das flores. A idéia é reduzir a síntese desse hormônio para aumentar o tempo de conservação.
(Com Danilo Vivan)

OESP, 27/03/2004, p. B2

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