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Os índios famintos de Dourados

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: ONOFRE RIBEIRO
26 de Mar de 2005

A morte de crianças na Reserva Indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul, e em Campinápolis, em Mato Grosso, revelam o caos indígena no país. Na quarta-feira desta semana conversei com a deputada federal de Mato Grosso, Thelma de Oliveira, membro da Câmara dos Deputados que acabava de chegar de uma visita a Dourados junto com outros deputados de comissão.

O resumo da situação de Dourados é de chorar. São 11.500 índios de três etnias: terena, guaranis e caiuás ajuntados artificialmente numa área de 3.500 hectares, na década de 70. A aldeia acabou ficando na área urbana de Dourados, onde os índios acabaram se envolvendo numa sub-aculturação com os defeitos da vizinhança e sem os seus valores ancestrais. Usam álcool, drogas, prostituem-se, sofrem estupros, conflitam-se internamente, vivem sem emprego numa aldeia poeirenta de terra vermelha, onde não existe água. Os homens são recrutados por "gatos" intermediários para trabalhar nas usinas de cana de açúcar e deixam as famílias passando fome, à espera unicamente da comida que vem nas cestas básicas incertas doadas governo federal.

Nascem 500 crianças por ano na aldeia nesse ambiente de miséria, acrescido da discriminação da população de Dourados. O índice de mortalidade é de 64 entre cada 1 mil crianças nascidas vivas, contra 29 entre os brancos.

Segundo a deputada Thelma a crise tem piorado muito com os cortes orçamentários feitos nos orçamentos da Fundação Nacional do Índio-Funai e da Fundação Nacional de Saúde-Funasa. Os recursos que mantinham minimamente a Reserva de Dourados foram reduzidos e a própria prefeitura de Dourados cortou as parcerias que mantinha. O governo do estado também não se envolve mais no assunto. O pior, diz a deputada, é que esta situação surgiu, cresceu e ninguém planejou o futuro.

Hoje, além de tudo isso, acumulam-se disputas entre as lideranças das três etnias, uma questão fundiária entre eles na medida em que para comprar comida muitos venderam os lotes do assentamento, onde vivem sob o nome de aldeia indígena.

Mas o mais dramático talvez seja o fato de estarem projetando uma nova etnia que os índios antevêem, resultante da miscigenação forçada. Eles estão chamando de "Guateca" (guaranis, terenas e caiuás). Num ambiente como o que vivem, esta pode ser a sua sentença de extinção.

Os deputados resumem os problemas da Reserva Indígena de Dourados num ponto fundamental; falta de gestão. Aliam-se secundariamente, a miséria, a discriminação social contra os índios das três etnias, e a falta de sensibilidade do governo federal.

Sem espaço físico, os índios perdem a sua identidade. Sem identidade eles não capazes de se situarem no mundo que os cerca.

Nos próximos dias a comissão de deputados vai visitar a aldeia dos xavantes em Campinápolis, no Vale do Araguaia, em Mato Grosso, onde crianças índias têm morrido por doenças decorrente e por desnutrição. Voltarei ao assunto.

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