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Os incansáveis

CB, Brasil, p.12-14
11 de Jan de 2004

Os incansáveis
Maior, mais organizado e mais beligerante movimento social brasileiro, o MST completa neste janeiro 20 anos de incessante luta pela posse da terra

Ulisses Campbell e Sandro Lima

Teodoro Sampaio (SP) e Buritis (MG) -No início, bem no início de tudo, 110 famílias camponesas que haviam sido expulsas da reserva indígena Nanoai invadiram as fazendas Macali e Brilhante, no Rio Grande do Sul, em 1978. Logo, diversas entidades da sociedade civil, em especial a Igreja Católica, apoiaram aquela iniciativa inusitada para a época - vivíamos sob a ditadura militar Ninguém percebeu, mas nascia ali, naquela ocupação de terras, o maior e o mais organizado movimento social em atuação no país, o MST. Não muito tempo depois, entre os dias 20 e 22 de janeiro de 1984, num seminário em Cascavel (PR), surgia o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. De lá pra cá, o número de brasileiros em busca de um pedaço de chão se deu em progressão geométrica. Das minguadas 110 famílias, o MST conseguiu em 20 anos arrebanhar um milhão e meio de pessoas, o equivalente a um exército do tamanho da população do Recife. Por outro lado, a abrangência do MST criou em volta dele uma aura de mistérios, transformando o movimento em uma caixa-preta intrigante. Qual o orçamento do MST? Ninguém sabe. Quais as fontes de financiamento? Não revelam. 0 MST tem milícias armadas? Eles juram que não. Seja como for, os sem-terra têm muito a festejar Até seus críticos mais ferrenhos reconhecem que a reforma agrária só entrou na pauta de todos os governos por conta de suas ações. Decepcionado com o governo petista, o movimento promete intensificaras invasões em 2004. Os ruralistas dizem que estão preparados para se defender Sob uma atmosfera de tensão ininterrupta, o MST completa 20 anos neste mês. O Correio contará essa história hoje, amanhã e terça-feira, numa série de reportagens especiais sobre a trajetória do movimento social que já tem um capítulo garantido na história do Brasil.

O sem-terra Natalino Donizete Vianna, 39 anos, já avisou a mulher, Elen da Silva Aguiar, 24 anos, e os três filhos menores: a qualquer momento, eles e outras 800 famílias acampadas em Presidente Epitácio, oeste paulista, terão de invadir uma das fazendas da redondeza. Em Buritis, no noroeste de Minas Gerais, os sem-terra também estão de sobreaviso. 0 coordenador local do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Edvaldo José Silva, o Jurupoca, disse que as invasões vão continuar.
É nesse clima de tensão que o ano-novo começou no campo. No Pontal do Paranapanema, a oeste de São Paulo, o barril de pólvora já está com pavio aceso. De acordo com o maior líder na região e quarto homem na hierarquia do MST, Valmir Rodrigues Chaves, o Bill, os sem-terra estão mobilizados por conta do ano de 2003, que foi frustrante para os que querem a reforma agrária. "Minha preocupação é que os ruralistas estão armados e as ocupações são inevitáveis", afirma Bill.
A figura mais vistosa do MST, José Rainha Júnior, também avisa que o botão de emergência já foi acionado. "As invasões podem acontecer a qualquer momento porque o primeiro ano do governo Lula foi um desastre. Em 2003, nenhuma família foi assentada no Pontal."
Em Pernambuco, onde o movimento tem ações mais ousadas, o líder Jaime Amorim reforça: "Independentemente das decisões do governo Lula, vamos continuar fazendo ocupações".
No lado oposto da trincheira, os ruralistas promovem uma escalada armamentista. 0 presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan, sustenta que há no Brasil 19 mil produtores rurais filiados à entidade. Nos últimos dois meses, metade deles procurou a assessoria jurídica da UDR para saber como podem se armar para proteger suas propriedades. No ano passado, foram identificadas no Pontal milícias com 150 homens armados com o mais variado calibre, inclusive com fuzis AR-15.
0 MST não invade apenas fazendas. Na madrugada de ontem, cerca de 300 famílias ligadas ao movimento ocuparam uma área da Prefeitura de Sandovalina, no oeste paulista. Os agricultores se deslocaram da fazenda Santa Felicidade, também no município, onde estavam acampados havia 130 dias devido a um acordo feito com o proprietário do imóvel. "0 prazo definido com o fazendeiro terminou e não tínhamos outra saída a não ser ir para essa área", afirmou o coordenador regional do movimento, Valmir Sebastião.
Os barracos foram montados em uma área onde é mantida a horta municipal que abastece o setor de merenda escolar do município. Segundo Sebastião, a meta do MST é reunir no local entre 600 a 800 famílias, atraindo pessoas de outros acampamentos. Eles vão ficar na área até o assentamento das famílias. O prefeito Divaldo Pereira de Oliveira (PMDB) disse que pedirá a reintegração de posse da área. Assim segue o MST, pontilhando o país com suas incansáveis bandeiras vermelhas. (UC e SL)

Como antes, numa mais
A tensão no campo, neste momento, tem origem numa grande decepção. 0 PT e o MST nasceram quase juntos. Durante 20 anos defenderam as mesmas causas. Nas quatro eleições presidenciais que o partido disputou, o movimento subiu no palanque da estrela vermelha. Quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Palácio do Planalto, uma euforia tomou conta do MST nos quatro cantos do país. Mas a alegria durou pouco. Sem dinheiro, engessado pela burocracia e limitado pela falta de recursos, o governo frustrou os anseios dos sem-terra.
Com isso, o PT e o MST passaram a se estranhar. À medida que esse choque se repetia, a tensão no campo aumentava. Em meio a uma nova onda de invasões no primeiro semestre de 2003, João Pedro Stédile, número um do movimento, fez duras críticas ao governo. 0 presidente respondeu à altura: "A reforma agrária não vai ser feita na marra nem do jeito que eles (MST) querem" .
0 saldo do primeiro ano de governo de Lula reforça o distanciamento. A meta oficial de assentar 60 mil famílias em 2003, por exemplo, não foi cumprida. A muito custo, o governo conseguiu assentar a metade,, E a pretensão do movimento em ter 1 milhão de famílias assentadas no campo até 2006 também foi-se ralo adentro. Pelo plano de Lula, serão assentadas nesse período 530 mil famílias, metade do que o MST sonhava.
A iminência de uma ocupação de terra esquenta o sangue de sem-terra e de fazendeiros. É o que acontece agora no maior acampamento do MST no pais, onde cerca de duas mil famílias esperam a ordem para agir
Daqui a pouco, tudo pode acontecer
Ulisses Campbell
A foto ao lado é um símbolo assustador do nível de conflito pela posse da terra no país. É o retrato da guerra instalada no campo. E isso tudo pode piorar neste primeiro semestre. A qualquer instante, em vários pontos do país, os sem-terra vão invadir fazendas.
0 mega acampamento Jair Ribeiro está de olho na fazenda Nossa Senhora das Graças, na cidade de Presidente Epitácio, no Pontal de Paranapanema. Organizado por José Rainha Júnior, o acampamento tem 1,6 mil barracões erguidos ao longo de quatro quilômetros da estrada SPV 352, que liga Presidente Epitácio a Teodoro Sampaio, oeste paulista. Cerca de duas mil famílias de sem-terra da região esperam a ordem para invadir as fazendas da redondeza. As terras da Nossa Senhora das Graças são uma das mais cobiçadas. "A gente fica tenso, mas essa tensão não se transforma em medo. Para os acampados, digo que sem-terra com medo não chega a lugar nenhum", diz um dos coordenadores do Jair Ribeiro, Natalino Donizete Vianna.
O agricultor João Luiz da Silva, 65 anos, mora sob a lona no Jair Ribeiro há nove meses. Pernambucano de Jaboatão, trocou o chão nordestino pelo oeste paulista acreditando que sua vida seria mais fácil. Não se arrependeu "Mas acho que não tenho mais força física para participar de ocupações. Ainda mais que me disseram que será de madrugada. Mas se for preciso seguir na luta para conseguir um lote, irei", avisa. (Leia amanhã a história de João Luiz e seu mascote).
No Pontal do Paranapanema, a voltagem do choque entre sem-terra e ruralistas é bem mais alta do que no resto do país. Só em 2003, ocorreram 92 invasões de terras nessa área, que soma mais de meio milhão de hectares. A invasão mais violenta ocorreu recentemente justamente na Nossa Senhora das Graças. A propriedade foi crivada de bala por mais de uma hora. O proprietário, Luiz Antônio Coelho Júnior, 35 anos, estava na sede na hora do ataque. "A cena foi de guerra. Os sem-terra rasgaram o cercado, queimaram um trator, jogaram coquetel molotov na varanda e atiraram sem parar. Peguei uma arma para me defender", relata o ruralista.
Com medo de uma nova investida, Coelho Júnior construiu uma barricada de sacos de areia em volta da sede da fazenda. Foi até a polícia e registrou o caso pela 72a vez. "Tenho muito medo de ficar na fazenda, mas não tem outro jeito. Possuo armas legalizadas em casa. Se for necessário, usarei para me defender", anuncia. O MST nega a autoria do atentado.

José Rainha
Coordenador do MST no Pontal do Paranapanema
Correio Braziliense -Na sua avaliação, como foi a reforma agrária no primeiro ano do governo Lula?
José Rainha Júnior - Deixou muito a desejar porque usou o mesmo método dos governos passados. Assim como Fernando Henrique Cardoso, Lula não teve dinheiro para assentar famílias no campo. Outro problema é que o processo de reforma agrária sempre acaba no Poder Judiciário, que é lento. Enquanto isso não mudar, a reforma agrária não avançará no país.
Correio - Desde que Lula assumiu, o que mudou no processo de assentamento no Pontal?
Rainha - Não mudou nada. Em 2003, não foi assentada nenhuma família no Pontal do Paranapanema. Pelo contrário, houve assentamento nos presídios. Mais de seis lideranças do MST foram presas no ano passado em todo o Brasil. Eu passei 120 dias preso. Ficamos na defensiva. Para 2003, foram destinados R$ 35 milhões para se fazer a reforma. No entanto, gastou-se apenas R$ 3 milhões. Ou seja, não avançou nada.
Correio -O MST vai fazer Invasões neste Início de ano no Pontal?
Rainha - Ninguém faz ocupações porque tem vontade, e sim porque há necessidade. Eu espero e acredito que o governo Lula colocará o Plano Nacional de Reforma Agrária em ação ainda no início do ano e que ele dê prioridade à região do Pontal. É isso que a gente espera. A ocupação é o último recurso do MST.
Correio -Vocês esperaram o ano de 2003 inteiro e não aconteceu nada, conforme o senhor mesmo mencionou. Em 2004, vocês vão esperar até quando?
Rainha - A nossa chama da esperança no governo Lula vai ficar acesa até março. A gente acredita que, até lá, o presidente ponha a máquina para trabalhar e teremos ações práticas do governo. Nossa missão é organizar o povo e nós estamos fazendo isso. 0 MST na Bahia está crescendo muito e já tem 30 mil famílias acampadas. Até o final do ano, teremos 60 mil. Se a reforma agrária não acontecer, as ocupações serão inevitáveis.
Correio -Como estão clima aqui no Pontal? RAINHA- Está tenso, como sempre foi. 0 MST sofre a pressão armada do latifúndio e a perseguição do Judiciário. Há um juiz aqui que tenta enquadrar sem-terra como bandido. Enquanto isso, vem crescendo o número de famílias assentadas na beira das estradas.

Luiz Antônio Nabhan
Presidente da União Democrática Ruralista
Correio Braziliense - Como o senhor avalia a reforma agrária no primeiro ano do governo Lula?
Luiz Antônio Nabhan - Na minha opinião, essa foi uma reforma inventada em números desde a campanha. Prometeu o que não dava para cumprir.
A farsa do governo Lula nessa área criou expectativas nos movimentos sociais, principalmente no MST. Aqui no Pontal e em todo Brasil, a reforma que todo mundo sonha é inviável. A falsa promessa do governo criou tensões no oeste de São Paulo, em Pernambuco e no Pará. Até agora, foi desastrosa.
Correio - O senhor já teve sua propriedade rural invadida pelo MST uma vez. Se eles invadirem de novo, o senhor hesitaria em defendê-la com armas?
Nabhan - Para defender meu patrimônio e minha integridade física, eu usaria armas, sim. Mas procuraria usá-la dentro da legalidade, isto é, o faria dentro do direito de legítima defesa, que é assegurado pela lei.
Correio - O MST tem cobiça nas terras do Pontal porque é o lugar do país onde mais se concentram terras devolutas. O senhor acha que esse fator aumenta a tensão no campo?
Nabhan - Isso é uma afirmação do MST, que é uma organização criminosa que age a reboque do crime. Isso não existe.
Correio - Esse questionamento é histórico. Há centenas de propriedades rurais do Pontal com a titularização sendo questionada na Justiça. E a maioria das causas é movida pelo estado de São Paulo.
Nabhan - Isso é invenção do MST. O Pontal tem 1,6 milhão de hectares de terra. Não temos hoje nem 1% de terras devolutas. Essa discussão jurídica envolve uma minoria de propriedades, e os processos ainda estão em primeira instância. Ninguém pode dizer nada antes de o caso estar tramitado e julgado em última instância.
Correio - Como o senhor e sua família conseguiram terras no Pontal?
Nabhan -Através de suor, luta e muito sacrifício. Meus avós são imigrantes espanhóis que chegaram aqui no início do século passado. Trabalhou como empregado e lutou uma vida inteira com a família. Comprou um pedacinho de terra aqui, aqui outro ali. Nessa época, aqui não tinha estrada, comunicação, não tinha nada. Tudo que tem aqui hoje foi construído por essas famílias pioneiras.

Senhores, apresentem suas armas
Os dois já se falaram por telefone duas vezes, o que não -significa que haverá trégua. De um lado da linha, afigura mais polemica do MST José Rainha Junior, 43 anos. Coordenador do movimento no Pontal do Paranapanema, ele anuncia que as invasões se intensificarão em 2004.. Para Rainha, o ano de 2003 não foi dos melhores. Passou 120 dias na prisão. Na outra ponta, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan, atribui ao MST o clima tenso do Pontal. No entanto, ele não esconde que os fazendeiros da região estão armados. Ele próprio, segundo diz, não hesitaria em defender suas propriedades cora armas, f m comum, tanto Rainha quanto Nabhan compartilham aia seguinte opinião: a reforma agrária do governo Lula em 2003 foi um desastre.

Janeiro de 1984 Primeiro encontro nacional dos sem-terra que deu origem ao MST
Janeiro de 1985 Primeiro congresso nacional do movimento. O segundo ocorreu cinco anos depois
Agosto de 1995 Nove sem-terra e dois policiais morrem em confronto durante a desocupação de uma fazenda no sul do Rondônia. O condito ficou conhecido como Massacre) de Corumbiara
Abril de 1996 Dezenove sem-terra que bloqueavam uma estrada são assassinados por policiais militares em Eldorado de Carajás, no Pará. O caso ganha repercussão internacional
Maio de 1996 Governo FHC cria o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas a tensão ,no campo não diminui
Junho de 1996 Novo conflito armado entre sem-terra e fazendeiros no Maranhão deixa 4 mortos, e cinco feridos
Novembro de 1996 Exército mobiliza 2 mil homens Mais três sem-terra para proteger a fazenda de FHC, em Buritis (MG), pistoleiros ameaçada de invasão pelo MST
Janeiro de 1997 Mais três sem-terras são assassinados no, Pará por pistoleiros
Abril de 1997 Depois de uma longa marcha até Brasília, sem-terra de todo país são recebidos por FHC, que aceita negociar
Setembro de 1997 Fazendeiros são mantidos como reféns e espancados durante cinco horas por sem-terra no Paraná
Abril de 1998
Em protesto contra as mortes de sem-terra no Pará, o MST mobiliza 25 mil famílias e invade 26 fazendas em cinco estados
Maio de 2000
O MST invade prédios públicos em 15 capitais e um militante e morto pela polícia. Governo anuncia pacote para agilizar reforma agrária
Abril de 2002
MST invade a fazenda de FHC e permanece 22 horas no local. Polícia Federal retira os sem-terra e prende 15 líderes da invasão
Março de 2003
Já governo Lula, MST promove invasões de terra e de prédios públicos em seis estados
Julho de 2003
Lula pede paciência ao MST, mas as invasões prosseguem
Julho de 2003
O presidente recebe líderes do MST no Planalto, põe na cabeça o boné vermelho do movimento e irrita oposição e ruralistas
Novembro de 2003
Pressionado por movimentos sociais, lula lança Plano Nacional de Reforma Agrária e promete assentar 530 mil famílias até o final de seu mandato
Dezembro
Durante cerimônia de desapropriação da fazenda Maísa, no Rio Grande do Norte, Lula volta o usar o boné do MST e promete cumprir o plano de reforma agrária

Vermelho-sangue, verde-esperança
O vermelho representa o sangue derramado na luta pela terra, mas também significa que o perigo no campo é permanente. 0 preto simboliza o luto pelas 285 baixas ocorridas nos últimos dez anos nessa guerra por um pedaço de chão. Mas o número é bem maior. Antes, as pessoas morriam nos confins do Brasil sem que ninguém tomasse nota, já que não havia banco de dados.
0 verde é a esperança de que um dia todo camponês terá terra no Brasil. As principais cores da bandeira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) são a síntese da trajetória de 20 anos da mais notória organização social que atua no Brasil. Para comemorar a data, a cúpula da entidade programou atividades em 23 estados.
A trajetória do MST é marcada por mortes no campo, lentidão de governos, violência de fazendeiros. Mas nada arrefeceu a disposição dos sem-terra em alcançar seus objetivos. E engana-se quem pensa que eles querem apenas terra para plantar. Exigem muito mais: sonham em fazer uma revolução socialista no Brasil sob a ditadura do proletariado, como fizeram Che Guevara e Fidel Castro em Cuba. Para isso, eles contam com forte estrutura e rígida doutrina molde marxista- leninista. São 1,5 milhão de militantes espalhados em 23 estados.
Hoje, o movimento mantém 632 acampamentos - no total, 80 mil famílias.
Dois extremos
A opinião pública sobre o MST oscila. Quando há conflitos e um camponês morre, o movimento ganha simpatia. Quando invadem uma fazenda ou bloqueiam estradas, o apoio popular míngua. Uma pesquisa feita pelo Instituto Vox Populi, em dezembro, em todo país, revela que 14% da população acham que as ações dos sem-terra são positivas para o Brasil, enquanto 45% dizem ser negativas.
Um dos maiores antagonistas do MST e da esquerda brasileira, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, diz que o movimento, ao longo dos anos, substituiu a luta pela terra por uma busca pelo poder e, -com isso, perdeu o apoio da população. "0 MST quer ocupar a máquina do Estado", afirma o filósofo, que é professor da Universidade do Rio Grande do Sul.
Desde a sua fundação, o MST usa a estratégia da alta temperatura e forte pressão. Criado no colo da Igreja Católica, mais precisamente dentro da Comissão Pastoral da 'Terra (CPT), o movimento tinha suas ações políticas na década de 80 voltadas somente para a reforma agrária.
Em 1996, com o massacre de Eldorado dos Carajás, no qual a Polícia Militar do Pará matou 19 sem-terra, o MST aproveitou a comoção social e tomou outro rumo. Com espaço na mídia, ganhou projeção nacional e internacional, alargou suas bandeiras e acoplou novas causas a seu rol de reivindicações. Hoje, os sem-terra se manifestam contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), as plantações de transgênicos, os agronegócios, o superávit primário.

Quem é quem na liderança do movimento
Três dos mais importantes líderes dos sem-terra vêm da região Sul. O mais jovem de todos eles tem 23 anos.
João Pedro Stédile
Gaúcho, 50 anos, é a figura mais antiga e influente do movimento. Pós-graduado em Economia na Universidade Autônoma do México, Stédile é o líder mais preparado do MST. É considerado o mentor e principal formulador de políticas do movimento.
Gilmar Mauro
É o segundo homem na hierarquia do MST. Paranaense, 36 anos, há 19 está na direção nacional. Integra a ala mais antiga e influente do movimento. Agricultor, não terminou o ensino fundamental. Gilmar é considerado o melhor coordenador de massa.
José Rainha Júnior
a figura mais conhecida do MST. Capixaba, 43 anos, ganhou prestígio com sua atuação no Pontal do Paranapanema, oeste de São Paulo. Analfabeto até a adolescência, foi preso quatro vezes e levou um tiro nas costas durante invasão de terras. Perdeu força e não é mais integrante da
João Paulo Rodrigues
Líder mais jovem, com apenas 23 anos já integra a direção nacional. Paulista, é o interlocutor do MST nas embaixadas e no Congresso. Ganhou destaque ao articular a retirada dos invasores da fazenda de FHC. Estudou técnicas agrícolas e cursou um ano de Filosofia na Universidade Metodista
Jaime Amorim
Catarinense, 43 anos, formado em Pedagogia, lidera o movimento no Nordeste. Em 1998 ganhou destaque ao comandar uma serie de saques em a caminhões carregados de alimentos. É admirador de Che Guevara e dos guerrilheiros zapatistas. Atua no Pernambuco.

CB, 11/01/2004, Brasil, p. 12-14

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