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Os caminhos do ecoturismo em 2006

OESP, Viagem, p. V2
Autor: WERBLOWSKY, Edgar
31 de Jan de 2006

Os caminhos do ecoturismo em 2006

Edgar Werblowsky

O ano que se inicia traz grandes expectativas para o ecoturismo. Entre os fatores que podem ser citados como contribuintes estão os ambientais, regulatórios, de produto e os mercadológicos.
Dentre os ambientais mais relevantes está a situação preocupante da Amazônia, cuja destruição assistimos de camarote, sem enxergarmos bombeiros no palco. As constantes reportagens sobre a devastação da região a colocam sob os holofotes, atraindo a atenção e preocupação dos ecoturistas mais sensíveis.
Junto com a Amazônia, o cerrado, ilustre desconhecido da maioria dos turistas brasileiros, certamente ganhará destaque este ano. Mas, infelizmente, a partir de mais notícia ruim: a pressão de produtores rurais por mais terra virgem para plantações e pastagens - no caso, os Parques Nacionais e Estaduais do Centro-Oeste.
Apesar de não ser mais tão simples como outrora, ainda é relativamente fácil para uma Assembléia Legislativa Estadual desfazer a criação de um Parque Estadual. O efeito colateral positivo dessas ameaças é a divulgação que vem a reboque e acaba alertando o ecoturista e a sociedade sobre a existência desses monumentos naturais.
Notícias boas também existem. Entre elas, na área de regulamentação, está a criação do Parque Nacional da Chapada das Mesas, decidida em dezembro. Os ecoturistas terão agora a oportunidade de desfrutar de dois grandes ícones naturais no Maranhão, os recentemente conhecidos Lençóis Maranhenses e a Chapada das Mesas.
Em termos de produto, o ano começa com o recém-criado ecoresort no alto da Serra Catarinense, na região de Urubici, colocando as belezas de cânions, cachoeiras e planaltos ao alcance do ecoturista de carteirinha e até mesmo do turista de exploração que viaja pela região de Florianópolis. Marca-se um ponto para a Serra do Mar e sua protegida e desconhecida porção catarinense, o Parque Estadual do Tabuleiro.
Em termos de mata atlântica, o ano promete mais. O Worldecotur 2006, evento de grife que ocorrerá em Ubatuba em agosto, promete trazer as melhores experiências em gerenciamento privado de áreas de mata atlântica com potencial turístico, para que possam ser replicadas em diversas regiões de Serra do Mar no País, e, com isso, aumentar significativamente a criação de produtos ecoturísticos nesse domínio.
O ano também acompanhará com atenção o desenrolar das ações de turismo responsável em Itacaré, na Bahia, que ganharam estofo com a vinda dos operadores e diretores da TOI (a comissão de turismo sustentável da ONU) em novembro, elegendo e prestigiando Itacaré como seu case no Brasil.
Do ponto de vista regulatório, fortalece-se no País o conceito de certificação e de melhores práticas. O Programa de Certificação de Turismo Sustentável (PCTS) lentamente ganha musculatura e vai levando seus procedimentos Brasil adentro - inicialmente com alguns destinos pré-selecionados para, nos próximos anos, se espalhar Brasil afora, multiplicando seus ensinamentos por meio de redes de facilitadores e de consultores.
Dessa forma, ganham muito os turistas com o aumento da qualidade do produto turístico e sua profissionalização. Ganha, também, o Brasil em seu esforço para atrair mais turistas estrangeiros, os quais, observando mais qualidade e profissionalismo nos destinos, passarão a confiar mais e, naturalmente, desembarcar mais por aqui.
O ano também assistirá ao crescimento dos nichos de ecoturismo que, cada vez mais, se desmembrarão do segmento-mãe. Assim, ouviremos falar cada vez mais de voluntariado no turismo, de turismo de observação animal, de ecoturismo para a terceira idade e de turismo de autoconhecimento, entre outros, cada qual para sua crescente tribo. Do ponto de vista do turismo internacional, estaremos vivendo a primeira onda de ecoturismo no Brasil, que deverá perdurar até 2010.
É diante desse cenário que entram os investimentos hoteleiros internacionais na Amazônia, onde algumas redes devem começar a inaugurar empreendimentos em 2007. Tais investimentos são vistos com bons olhos, mesmo do ponto de vista ambiental, desde que os projetos sejam fracionados em unidades com não mais de 60 apartamentos, para resguardar a qualidade da experiência do ecoturista e desconcentrar os impactos ambientais.
O saldo ambientalmente positivo desses projetos se deve à sua capacidade intimidatória (em relação aos devastadores), ao efeito educativo da experiência sobre os turistas e ao caráter modelar sobre a indústria do turismo, como exemplos de desenvolvimento sustentável para a região. Enfim, o ano promete.
Edgar Werblowsky é diretor de Inovação e Ações Socioambientais da FreeWay e diretor da TOI, a comissão de turismo sustentável da ONU (www.freeway.tur.br; www.toinitiative.org)

OESP, 31/01/2006, Viagem, p. V2

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