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Origem dos índios Pareci pode estar vinculada ao povo Inca

Gazeta de Cuiabá
01 de Ago de 2001

A história da ocupação de povos indígenas na região de Tangará da Serra pode ser mais recente do que se imagina. Ao mesmo tempo, a procedência destes povos pode ser surpreendente: os altiplanos andinos. A teoria é defendida pelo administrador regional da Funai em Tangará da Serra e estudioso das nações indígenas locais, Daniel Matenho Cabixi.
Segundo ele, a origem do povo Pareci, nação indígena predominante na região de Tangará da Serra, Campo Novo e Sapezal, encerra o raciocínio de que as ondas migratórias para este território tenham sido o resultado da diáspora do Império Inca após a chegada dos conquistadores espanhóis na América do Sul, a partir do século XV. "As nações indígenas da região possuem o mesmo tronco lingüístico dos incas", observa, lembrando das línguas aimaras e qchuas, típicas do região andina.
A ocupação das Américas possui uma teoria principal que remonta entre 40 mil e 20 mil anos antes da era cristã, quando levas de migrantes asiáticos cruzaram o estreito de Behring, entre a Ásia e o Alasca. Estes povos teriam ocupado todo o continente americano, gradativamente, até chegar à América do Sul, quando os incas formaram seu grande império.
No entanto, os povos pré-colombianos, assim denominados por terem ocupado as Américas antes de Cristóvão Colombo, em 1492 d.C. (séc. XV), não conheciam a escrita, daí a inexistência de registros históricos antes da chegada dos conquistadores espanhóis. Teoricamente, a história do Império Inca remonta, através de lendas, narrativas e registros orais, ao século XII.
Na época, teria havido a expansão do império, que veio se consolidar no século XV através do soberano Pachacútec Inca Yupan chi, quando houve a construção da cidade de Cuzco, do Templo do Sol, além do cultivo de alimentos no sistema de terraços.
Marcas rupestres encontradas lembram um sistema numérico
Apesar da ausência da escrita, há registros de marcas rupestres feitas em rochas, como as encontradas na Gruta do Formoso, nascente do rio de mesmo nome, no município de Tangará da Serra. Este tipo de inscrições lembra um sistema numérico, semelhante ao utilizado pelos incas para reavivar a memória e registrar algumas situações do cotidiano. Marcas semelhantes foram encontradas sobre rochas encravadas na região varzeana de um afluente do rio Papagaio, no Chapadão do Parecis, dentro da reserva indígena Pareci, assim como outros resquícios de povos passados na aldeia Zolomo, na Ponte de Pedra (entre Sapezal e Campo Novo) e em vários pontos das encostas da serra.
Também foram encontradas, por lavradores, peças de cerâmica nas proximidades do penhasco da serra de Tapirapuã. Informações sobre estes sítios arqueológicos, no entanto, são muito limitadas ou quase nulas.
Além dos sinais humanos, a região apresenta marcas de um passado bem mais distante, como na cachoeira Utiariti.
Migração para o planalto brasileiro
Durante a expansão, grupos de habitantes de regiões conquistadas pelo Império Inca acabaram sendo deportados para outras regiões e substituídos por colonos já pacificados, o que evitava eventuais rebeliões. Os que não se retiravam eram dizimados ou escravizados. De acordo com o administrador regional da Funai, Daniel Cabixi, estes povos expulsos pelos incas das suas regiões de origem podem ter migrado para o centro do continente, em direção ao planalto brasileiro.
"As serras, como a do Parecis, de Tapirapuã e das Araras devem ter servido de referencial para os migrantes", observou, lembrando que há semelhanças de traços entre os povos andinos e os do planalto brasileiro, que por sua vez se parecem muito com os povos asiáticos, tanto no semblante como na compleição física. A nação Pareci deu origem a outros segmentos sociais indígenas, como os nambikwara, os irantxe, myky e salumã.
Sítios arqueológicos revelam segredos dos antepassados Tangará da Serra Daniel Cabixi considera ainda que há uma relação muito grande dos indígenas locais com as serras, grutas e cavernas, além da personificação dos espíritos através das pedras e rochas. A teoria de Daniel Matenho Cabixi indica que a origem dos povos nativos sul-americanos se refere a um passado relativamente recente, ou seja, em torno de um milênio. Por outro lado, é possível que outros povos ainda mais primitivos tenham passado pela região, pois as glaciações ocorridas na era pleistocênica, há cerca de 1,6 milhão de anos, dizimaram muitos animais e civilizações.
Os povos nativos que habitavam as Américas antes da chegada do homem branco desconheciam a escrita. Segundo estudos de especialistas, o isolamento ou talvez a adaptação ao meio, forçou os nativos a uma condição extremamente primitiva de vida, o que justifica o encontro de artefatos de pedra lascada, algo típico da revolução neolítica ocorrida entre 5.000 e 1.500 anos antes da era cristã. Este período foi identificado pelos estudiosos como proto-história, que se caracteriza por uma lenta evolução das civilizações locais. Um dos exemplos são os ianomâmis, na Amazônia, considerados um dos povos mais primitivos do mundo.
Na América do Sul, os grandes vales e a divisão propiciada pela Cordilheira dos Andes em relação ao litoral oeste do continente acentuou o isolamento, tanto que, além da escrita, os povos da região não conheciam a roda, a metalurgia e a astronomia, muito embora adorassem astros como o Sol e a Lua. Apesar da precisão das edificações incas, também não havia conhecimento do arco e da abóbada nas construções.
O resultado destas carências culturais foi uma economia de subsistência baseada na caça e na coleta, com uma importante tendência ao nomadismo. Os resquícios destas características são percebidas nos inúmeros sítios arqueológicos encontrados na região médio norte, em especial nas chapadas de Tapirapuã e do Parecis. Nestes sítios, o material encontrado apresenta, basicamente, artefatos de pedra lascada, como machadinhas e pontas de lança, e algumas peças de cerâmica.

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