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Organizações indígenas ainda brigam por controle da Raposa Serra do Sol

Agência Brasil - http://agenciabrasil.ebc.com.br/
Autor: Luana Lourenço
16 de Abr de 2010

Boa Vista - A saída dos grandes produtores de arroz e da maioria dos não índios da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, não encerrou a tensão entre organizações indígenas pelo controle e ocupação da reserva, de 1,7 milhão de hectares. A disputa entre indígenas ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR) e à Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos de Roraima (Sodiu-RR) é visível dentro da reserva.

Na entrada da terra indígena, no local conhecido como Vila Surumu, a situação é a mesma de um ano atrás, quando os grandes produtores de arroz ainda ocupavam parte das terras: de um lado, famílias ligadas à Sodiu, que defendiam a permanência dos rizicultores; de outro, o grupo que representa o CIR e que exigia a saída dos não índios.

Os moradores da pequena comunidade dividida relatam que ainda há provocações entre os dois grupos e, principalmente, disputa para ocupar novas áreas. Uma das polêmicas foi o processo de retomada das antigas fazendas produtoras de arroz. Na Fazenda Depósito, do líder arrozeiro Paulo César Quartiero, quatro pequenas casas foram construídas e, segundo o CIR, os arrozais foram transformados em pastos coletivos. "Nós tentamos entrar lá para fazer casas e o pessoal do CIR não deixou", disse a indígena wapixana Arlete Soares.

Coordenador regional de tuxauas (caciques) da região do Surumu, o macuxi Rossildo de Oliveira reclama da convivência com os não índios que ainda vivem na Raposa e que puderam ficar porque são casados com indígenas. "Nós temos nosso jeito e nossa cultura e eles têm a deles. Não pode dar certo junto. Todos deveriam ter saído", argumenta.

O principal problema, segundo o tuxaua, é o consumo e a venda de bebida alcoólica pelos brancos, o que é proibido por lei no interior de terras indígenas. "É mais uma prova de que eles deveriam ter saído, a cachaça está acabando com as nossas comunidades", afirma. Oliveira disse que já comunicou à Fundação Nacional do Índio (Funai) a entrada de álcool na reserva e pediu que o órgão instale um posto de fiscalização para controlar a chegada de mercadorias proibidas.

Mesmo com o clima de discórdia, o funcionário público aposentado João Carneiro, de 74 anos, não pensa em deixar a Raposa Serra do Sol. Apesar dos olhos azuis, seu João se considera "quase um índio" e está na área há mais de 70 anos, mais de 50 deles casado com uma indígena macuxi. "Não costumam implicar comigo aqui não. Ainda bem. Vamos ficando por aqui enquanto der. Não me acostumo com a vida de cidade", contou seu João, em uma cadeira de balanço na varanda de sua casa, enquanto observava os porcos e galinhas criados soltos pelo quintal.

A macuxi Amazonina Carneiro, mulher de seu João, lamenta a ida dos filhos para Boa Vista após o fechamento das fazendas instaladas na Raposa. "Tiveram que ir, não tem mais emprego aqui, não tem mais de onde tirar um dinheirinho". Amazonina teme o isolamento da reserva nos próximos anos e diz que não quer mais viver sem estrada ou ser cuidada por um pajé. "Depois da homologação, pensei que a gente fosse se unir, mas não mudou nada. Índio nunca foi unido, pode olhar nos livros de história, não ia ser aqui que isso ia acontecer".

Na última terça-feira (13), em entrevista à Agência Brasil, o coordenador-geral da Sodiu, Sílvio da Silva, não descartou a possibilidade de um conflito violento entre os dois grupos. "Alguém vai ter que ser sacrificado", disse. O CIR e a Sodiu foram convocados para uma reunião na próxima semana com o presidente do Tribunal Regional Federal da 1o Região, desembargador Jirair Mengherian, para tentar diminuir a tensão entre os indígenas.

Edição: Graça Adjuto

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