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Organizações declaram apoio para dois candidatos indígenas

Folha de Boa Vista-Boa Vistas-RR
13 de Jul de 2002

Nos últimos 50 anos a população indígena de Roraima sempre esteve à mercê de políticos estranhos ao seu convívio. Apesar de algumas tentativas nos últimos 15 anos, os índios nunca elegeram nenhum representante para a Assembléia Legislativa ou Congresso Nacional.

Para as eleições deste ano, as oito organizações das diferentes etnias estão mais amadurecidas e cinco delas unidas no projeto de eleger pelo menos um representante para o legislativo estadual e outro para o federal.

CIR, Apir, Opir, Omir, TWM e DEI apóiam sete candidatos indígenas, sendo seis para cargo estadual e um federal. Decididas a lutar pelo objetivo, priorizaram as candidaturas de José Adalberto Silva (PC do B), para a Câmara, e de Clóvis Ambrósio (PT), para a Assembléia.

As entidades esperam que os cerca de 12 mil eleitores índios estejam cientes da importância de ter representantes legítimos nos parlamentos estadual e federal. Os dirigentes acreditam que tendo representantes indígenas nestas bancadas será mais fácil executar os projetos que pretendem desenvolver.

Clóvis Ambrósio disse que conheceu a movimentação política desde 1958, quando ainda curumim de 12 anos acompanhava o pai aos comícios. Hoje, aos 56 anos de idade, o indígena de etnia Wapichana, ex-tuxaua e ex-coordenador do CIR, tem a candidatura priorizada e acredita que seu povo está mais consciente.

"Eu espero que os indígenas elejam seus semelhantes. Estamos fazendo um trabalho sério, comprometido com as organizações e pretendemos alcançar - no meu caso - os quase dois mil votos que preciso para chegar a Assembléia Legislativa", comentou.

Macuxi da região do Uiramutã, ex-vice-coordenador do CIR, José Adalberto, informa que em Roraima os índios já ocupam espaço político em câmaras de vereadores e prefeituras. São três vereadores e dois vice-prefeitos (Uiramutã e Normandia), representação que considera inexpressiva para o contingente populacional indígena. A partir daí acredita na ampliação deste espaço, com a eleição dele para a Câmara Federal e de Clóvis Ambrósio para a Assembléia.

"Ao longo dos anos, a população indígena vem se organizando e mostrando capacidade de participar do desenvolvimento do Estado. Infelizmente, até agora, o que para nós foi destinado é irrisório diante das necessidades que temos para contribuir de forma mais significativa. Por exemplo, na agricultura nunca tivemos projetos de plantio com recursos suficientes para desenvolvê-los aliados a um plano de assistência técnica. A classe política do Estado nunca se empenhou em nos dar mais apoio", disse Adalberto.

Ele mesmo afirma que os índios só são lembrados nas campanhas eleitorais ou para se manifestarem favoráveis aos interesses da sociedade economicamente estabilizada contra a demarcação de terras, por exemplo.

"Somos gente capaz de decidir o nosso futuro e fazer o que pretendemos. Temos 600 professores e 400 agentes de saúde, todos indígenas. Claro, ainda estamos em processo de desenvolvimento e com dificuldade por falta de apoio. O que conseguimos foi com muita luta e união das organizações indígenas. A nossa luta continua, agora, buscando ampliar a nossa participação política", declarou Adalberto.

ENTIDADES - Durante a reunião realizada na tarde de quinta-feira, os coordenadores do CIR, Opir, Apir, Omir, TWM e CEI decidiram elaborar um documento formalizando o apoio das entidades às candidaturas de José Adalberto e Clóvis Ambrósio.
Nele, as lideranças declaram apoio irrestrito a Clóvis Ambrósio e José Adalberto, afirmando que os dois têm respeito e prestígio junto às entidades, estando a altura de representar as comunidades indígenas. "Por isso vamos priorizar as duas candidaturas", declaram.

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