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A opção pela hidreletricidade

OESP, Economia, p. B2
Autor: SAMEK, Jorge
16 de Jun de 2007

A opção pela hidreletricidade

Jorge Samek

A polêmica em torno das hidrelétricas do Rio Madeira coloca o Brasil perante um dilema. Aumentar a oferta de energia elétrica de qualidade e alta confiabilidade é condição sine qua non para o desenvolvimento. Mas de que forma abasteceremos um mercado consumidor em permanente expansão e ávido por um vigoroso crescimento econômico? Recentemente o presidente Lula sinalizou ter em vista dois caminhos de viabilidade comprovada. O imediatismo e a urgência apontam para a opção pela geração termoelétrica, isto é, a produção de energia por meio da queima de combustíveis fósseis. Fonte de 67% da energia elétrica produzida no mundo, as plantas termoelétricas convencionais, movidas a carvão, gás ou petróleo, têm o relógio a seu favor. Seu tempo de construção é de três anos, em média, enquanto uma hidrelétrica leva de cinco a seis anos para sair do papel. Impulsionadas no Brasil de modo a abreviar os impactos do apagão, as usinas termoelétricas se notabilizam, contudo, como uma solução poluente - a queima de combustíveis fósseis é um dos agentes causadores do aquecimento global - e cara. Para obter uma produção de energia equivalente à da Hidrelétrica de Itaipu, o Brasil teria de queimar 526 mil barris de petróleo por dia, um gasto de US$ 12 bilhões anuais. De outro lado, o planejamento e o compromisso sincero com a preservação do meio ambiente sugerem a adoção de fontes de energia renováveis, sobretudo a hidreletricidade, uma vez que as energias solar e eólica, dado o seu custo elevado e intermitência, são incapazes de atender à demanda brasileira de consumo. Motor da economia do País a partir do século 20, a energia gerada a partir do aproveitamento da força dos rios é limpa, renovável e merecedora de apoio. No mês passado, o Brasil reafirmou sua opção pela hidreletricidade com a inauguração das últimas duas unidades geradoras de Itaipu. Juntos, os dois geradores têm potência instalada de 1.400 MW - equivalente à usina nuclear de Angra 2 (1.350 MW) - e capacidade para abastecer 5 milhões de residências. Mas é preciso ir adiante. E dar início a um novo ciclo de investimentos na construção de hidrelétricas, medida prevista no PAC que se tornou alvo de ataques em um debate em que a emoção supera a razão. A hidreletricidade usa a energia da água corrente, sem reduzir sua quantidade. Portanto, enquadra-se perfeitamente no conceito de fonte de energia renovável. Ademais, as usinas hidrelétricas dispõem de vantagens irrefutáveis. Seus reservatórios oferecem flexibilidade operacional incomparável e podem responder imediatamente às flutuações da demanda de eletricidade, o que dá segurança à operação do sistema elétrico - a energia de hidrelétricas pode ser injetada no sistema mais rapidamente do que a de qualquer outra fonte energética - e ajuda a viabilizar inclusive o emprego concomitante de outras fontes intermitentes de energia renovável. Os reservatórios também coletam a água da chuva, que pode então ser usada para consumo ou para irrigação. Ao armazenar água, eles reduzem nossa vulnerabilidade a inundações e secas. Ainda na perspectiva ambiental, a hidreletricidade produz quantidades muito pequenas de gases do efeito estufa e as hidrelétricas evitam por dia a queima de 16 milhões de barris de petróleo em escala mundial. Além disso, os empreendimentos hidrelétricos não geram subprodutos tóxicos. Economicamente, os empreendimentos hidrelétricos são de notável êxito. Com um tempo médio de vida de 50 a 100 anos, são investimentos de longo prazo que podem ser facilmente atualizados para incorporar tecnologias mais modernas. E contam com custos de operação e manutenção muito baixos. Além disso, a solução hidrelétrica evita a dependência de insumos importados como o gás natural, com preços sujeitos a oscilações e riscos de desabastecimento. Por tudo isso, não há dúvidas: a hidreletricidade é uma tecnologia conhecida e comprovada há mais de um século, que dominamos plenamente. Seus impactos são bem compreendidos e administráveis, mediante medidas de abrandamento e compensação de danos. Os empreendimentos hidrelétricos concebidos e operados de forma economicamente viável, ambientalmente sensata e socialmente responsável representam desenvolvimento sustentável em sua melhor concepção. Com a opção pela hidreletricidade, o Brasil tem muito a ganhar.

Jorge Samek, engenheiro agrônomo, é diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional

OESP, 16/06/2007, Economia, p. B2

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