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ONU vê falta de liderança no clima

Valor Econômico, Internacional, p. A10
Autor: CHIARETTI, Daniela
30 de Nov de 2018

ONU vê falta de liderança no clima

Daniela Chiaretti

As negociações climáticas internacionais estão em momento crucial. Os impactos do aquecimento global estão acontecendo em velocidade maior do que o previsto e os compromissos dos países em reduzir gases-estufa deveriam ser cinco vezes maiores. Para piorar o cenário, há falta de liderança e vontade política.

O diagnóstico muito preocupante é do secretário-geral das Nações Unidas,

António Guterres. "Neste momento estamos nos dirigindo a um mundo de catástrofes e incertezas motivadas pela disrupção climática", disse à imprensa na sede da ONU em Nova York, pouco antes de embarcar para a reunião do G-20, na Argentina.

Guterres foi claro: "O quadro é pior do que o previsto, mas a vontade política hoje não é tão alta quanto deveria".

O ex-primeiro-ministro de Portugal disse que muitos países não estão cumprindo o que prometeram. Mas, frisou, mesmo os compromissos do Acordo de Paris não são suficientes e levam o mundo a um cenário de aumento de temperatura de mais de 3 graus até o fim do século.

"Isto é um desastre total", disse. "Teríamos que perseguir a metade disto (conter o aumento da temperatura em 1,5 grau) e, para tanto, deveríamos ter compromissos mais ambiciosos dos países".

À BBC, Guterres afirmou que o "o mundo está mais polarizado" e que há "mais abordagens nacionalistas ficando populares, ganhando eleições ou conquistando fortes resultados". "A confiança da opinião pública nas instituições, governança, establishment político e também organizações internacionais vem sendo erodida", seguiu. "Isso levou, na minha opinião, à falta de vontade política".

Guterres lembrou o recente relatório dos cientistas do IPCC, o painel científico das Nações Unidas, lançado em outubro. O estudo diz que a janela de oportunidade é de apenas 12 anos para que governos tomem ações efetivas de redução de emissões, se o que se busca é limitar em 1,5 grau o aquecimento até o fim do século e garantir impactos climáticos menos graves.

Citou também o relatório divulgado nesta semana pela ONU Meio Ambiente que mostra que as emissões globais continuam a subir, ampliando dramaticamente a diferença entre a ação dos governos e o que deve ser feito para conter o aumento da temperatura.

"A ambição dos países têm que crescer cinco vezes, para ficarmos dentro dos limites", disse o secretário-geral da ONU.

Lembrou, também, que a Organização Meteorológica Mundial acaba de divulgar que os volumes de dióxido de carbono na atmosfera aumentaram para níveis nunca vistos em três milhões de anos.

"Alguns podem argumentar que não se pode combater a mudança do clima e ter uma boa economia. Eu discordo completamente. De fato, é o oposto que é verdadeiro", disse.
"Falhar em agir significa mais desastres, emergências e poluição do ar, o que poderia custar US$ 21 trilhões à economia global em 2050", citou.

Atingir os compromissos de Paris significa salvar mais de um milhão de vidas ao ano, seguiu.

O político português, que fez do enfrentamento ao aumento da temperatura sua principal prioridade frente às Nações Unidas, aumentou o tom com os países do G-20, o bloco mais industrializado do mundo e responsável por mais de três quartos das emissões globais.

"Os membros do G-20 têm poder de mudar o rumo desta curva", disse.

Guterres reforçou a necessidade de se mobilizar US$ 100 bilhões ao ano, para ação climática, em apoio ao mundo em desenvolvimento até 2020.

A única boa notícia deste quadro sombrio foi o anúncio da Alemanha, esta semana, de contribuir com US$ 1,5 bilhão no Fundo Verde do Clima.

Na semana que vem começa a rodada de negociações climáticas na Polônia, em Katowice. Os países têm que terminar o chamado "Livro de Regras", ou seja, a regulamentação do Acordo de Paris. Também precisam definir onde acontecerá a reunião de 2019, a CoP 25, diante da desistência do Brasil de sediar o evento.

"Precisamos de mais ambição. Estamos em uma corrida pelo nosso futuro. É uma corrida que podemos e temos que vencer", conclui.

Valor Econômico, 30/11/2018, Internacional, p. A10

https://www.valor.com.br/internacional/6006809/falta-lideranca-politica…

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