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ONS sob pressão

O Globo, Economia, p. 35
08 de Fev de 2014

ONS sob pressão
Após apagão, governo 'intervém' no operador e envia representante à reunião

DANILO FARIELLO, MONICA TAVARES,
RONALDO D'ERCOLE E ROBERTA SCRIVANO
economia@oglobo.com.br

BRASÍLIA E SÃO PAULO - O governo federal adotou um expediente excepcional e enviou um representante do Ministério de Minas e Energia (MME) à reunião do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), realizada na quinta-feira, no Rio, para discutir as causas do apagão que afetou cerca de 12 milhões de pessoas na terça-feira. O escolhido foi José Brito Trabuco, coordenador-geral de Gestão de Programas e Regulamentação da Secretaria de Energia Elétrica do ministério. Este expediente só havia sido adotado após apagões de grandes proporções, como o de Itaipu em 2009.
O apagão de terça-feira foi considerado de "médio porte" pelo secretário executivo de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Assim, nos bastidores, a presença de Trabuco na reunião foi vista como uma espécie de intervenção do governo no órgão, encarregado de preparar o relatório com as causas do acidente, que só depois é submetido ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Procurado, o ONS confirmou a presença de Trabuco na reunião. O MME não se manifestou.
Horas após a reunião no Rio, a presidente Dilma Rousseff divulgou nota em que atacou o ONS, apontando-o como responsável por "apurar se as operadoras estão mantendo adequadamente sua rede de para-raios". Mas o ONS não é responsável pela fiscalização de instalações.
No governo, Trabuco é um dos responsáveis pela implantação do Protocolo de Avaliação dos Sistemas de Proteção, criado após uma série de apagões de menor porte em 2012, para reforçar as linhas de transmissão. Entre quatro ações programadas neste sentido para 2013 pelo próprio Trabuco, o Ministério de Minas e Energia reconheceu que ao menos uma foi prorrogada para maio de 2014, mas "sem prejudicar o desempenho atual do sistema".
'Não podemos dizer que não temos problemas'
O apagão desta semana pode inviabilizar a recondução de Hermes Chipp para a direção geral do ONS, para a qual foi indicado pelo Executivo. O mandato de Chipp - que assumiu em 2005 e já foi reconduzido uma vez - termina em março. Apesar de não haver previsão legal para que ele continue à frente do ONS, antes do apagão estava em elaboração no Palácio do Planalto uma medida provisória para permitir nova recondução. Nos últimos anos, Chipp passou a ser mais admirado por agentes do setor do que por integrantes do governo.
O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, disse na sexta-feira que, embora a presidente Dilma cobre que o sistema elétrico nacional seja "à prova de raio", não há como assegurar que ele seja imune às descargas provenientes dos raios.
Falando sobre a segurança do setor a jornalistas, depois do leilão de uma linha de transmissão de Belo Monte, Costa afirmou que em 2013 "não houve nenhum desligamento no sistema Eletrobras que causou interrupção a mais de 500 megawatts, o que é uma performance boa".
- Nós não podemos dizer que nós não temos problemas. Mas o que dizemos é que a nossa performance é boa e que queremos cada vez aprimorar mais - disse.
Indagado sobre se isso queria dizer que não existe sistema à prova de descargas de raios, ele disse que "essa é uma pergunta complicadíssima de responder". E acrescentou:
- A cada dia nós pretendemos fazer todas as correções, todas as blindagens possíveis, de tal maneira que tenhamos um sistema imune a raios. Mas alguma coisa sempre acontece - disse, explicando que, quanto menor a tensão de uma linha de transmissão, mais vulnerável ela estará.
Outro indicador muito usado no setor para medir a eficiência do sistema, acrescentou Costa, é o índice de desligamento por quilômetro.
- No sistema Eletrobras, temos hoje 2,1 defeitos por 100 quilômetros de linha por ano, que internacionalmente é baixo.
Já em linhas de transmissão como a leiloada nesta sexta-feira, que ligará a usina de Belo Monte, no Xingu, ao Sudeste, que funciona com uma tensão "extra alta", explicou ele, o risco de desligamentos por raios é bem menor. Contudo, ele se recusou a assegurar que tais linhas são efetivamente à prova de raios.

Ajuda a elétricas dificulta corte no Orçamento

Martha Beck
marthavb@bsb.oglobo.com.br

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff passou mais de seis horas reunida ontem com a Junta Orçamentária (ministérios da Fazenda e do Planejamento e Casa Civil) para discutir o tamanho do corte que será feito no Orçamento de 2014. Segundo fontes do Planalto, o número não foi fechado e surgiu um complicador. Eles dizem que a missão do governo será difícil, sobretudo agora que ficou claro que a ajuda do Tesouro Nacional ao setor elétrico precisará ser maior que os R$ 9 bilhões programados inicialmente para o ano.

- O efeito da energia entrou na conta. Isso não estava no radar quando o Orçamento foi fechado - disse uma fonte.

No setor elétrico, o grande problema para o Tesouro em 2014 está no repasse de recursos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que subsidia a desoneração das contas de luz e compensa as distribuidoras pelo uso de energia térmica (mais cara que a hidrelétrica).

Com o forte calor e a baixa capacidade dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o setor prevê maior demanda das térmicas este ano. Assim, se o Tesouro não bancar a conta, as distribuidoras terão que repassar os custos adicionais aos consumidores, o que bateria em cheio na inflação. O mercado prevê que a despesa do governo com a CDE em 2014 pode chegar a algo entre R$ 18 bilhões e R$ 22 bilhões.

Uma das fontes descartou que o governo recorra, como no passado, a manobras para contornar o problema. Em 2013, para tentar poupar as contas públicas, o Tesouro pôs recursos na CDE mediante a venda de recebíveis da usina de Itaipu, o que foi visto pelo mercado como uma ação pouco transparente:

- Não haverá manobra - garantiu a fonte.

O Globo, 08/02/2014, Economia, p. 35

http://oglobo.globo.com/economia/apos-apagao-governo-intervem-no-ons-en…

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