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ONGs contestam avanco no combate a devastacao

OESP, Vida, p.A19
09 de Dez de 2005

ONGs contestam avanço no combate à devastação
Redução não pode se sustentar apenas em medidas de repressão
Herton Escobar
O grande resultado apresentado pela ministra Marina Silva para justificar a contribuição do Brasil no combate às mudanças climáticas foi a redução de 31% no índice anual de desmatamento da Amazônia, anunciado nesta semana. "É com grande satisfação que compareço aqui para anunciar que, pela primeira vez desde 1997, verifica-se redução nas taxas de desmatamento", declarou a ministra. Entre 2004 e 2005 foram desmatados 18.900 quilômetros quadrados na Amazônia Legal, ante 27.200 quilômetros quadrados no período anterior.
Organizações não-governamentais, porém, não vêem os números com tanto entusiasmo. Apontam que a área anual desmatada, embora tenha sido menor de um ano para outro, continua enorme: quase do tamanho de Sergipe. "Desmatamento não é emprego. Se tiver 8% de desemprego em certo mês e 6%, em outro, podemos dizer que diminui o desemprego, ou seja, alguns desempregados passaram a ser empregados", disse a ONG Amigos da Terra, num editorial publicado online. Já no caso do desmatamento, a floresta que estava desmatada não voltou a crescer. Pelo contrário, a área total desmatada aumentou 2,5%, segundo o diretor da ONG, Roberto Smeraldi.
"Temos de olhar também a distribuição geográfica e temporal desse desmatamento", disse Smeraldi ao Estado. Em agosto, quando o governo anunciou a primeira estimativa de diminuição do desmatamento (que era de 50%), mais de 90% da redução havia ocorrido apenas no mês de junho - quando foi deflagrada a Operação Curupira, que desbaratou um megaesquema de exploração e comércio ilegal de madeira em Mato Grosso. "Se a razão para a queda tivesse sido do tipo econômico, esse fenômeno teria ocorrido de forma mais gradativa."
O detalhamento da redução de 31% só será divulgado no dia 15. O medo dos pesquisadores é que uma queda apoiada só por ações de fiscalização não será sustentável a longo prazo. Para isso, são necessárias medidas estruturais, como a reorganização fundiária e econômica da região. "O governo represou o desmatamento, mas não alterou a forças principais que atuam por trás dele", disse Adalberto Veríssimo, da ONG Imazon. "É um dique pronto para explodir de novo."
"Tivemos um resultado positivo com o aperto dos mecanismos de fiscalização e controle, mas isso é insuficiente para segurar a curva para baixo", diz o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone. Ele cobra a aprovação no Congresso da lei que cria concessões para exploração de florestas públicas pela iniciativa privada. "Precisamos desse marco legal", disse.

OESP, 09/12/2005, p. A19

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