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ONG inglesa denuncia ameaça a índios

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: NATACHA WOGEL
08 de Mar de 2006

A Survival, com sede em Londres, aproveitou visita de Lula à
Inglaterra para cobrar providências em relação à pressão em reserva

Representantes da organização não-governamental Survival, com sede em
Londres, aproveitaram a visita do presidente Lula ao país para
protestar contra a degradação da área indígena enawenê-nawê,
localizada dentro do município de Juína, a 737 quilômetros de Cuiabá.
Conforme denúncias da ong, os cerca de 500 índios que vivem na reserva
estão ameaçados pela expansão do cultivo da soja e da pecuária, que
têm provocado a poluição dos rios, prejudicando diretamente a
principal fonte alimentar da etnia, o pescado.

Segundo uma matéria publicada ontem em sua página da internet, a
Survival alega que, além dos problemas de poluição, a população
indígena local também poderá sofrer a escassez de recursos hídricos
caso sejam colocados em prática os projetos de construção de pequenas
centrais hidrelétricas (PCHs) no rio Juruena. Conforme o administrador
da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Juína, Antônio Carlos de
Aquino, as PCHs estão sendo pleiteadas por produtores da região e os
processos tramitam na Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio
Ambiente do órgão.

"Apesar do rio não estar muito próximo à reserva, ele influencia muito
na qualidade de vida dos índios de lá. A Funai irá fazer o estudo de
impacto ambiental para a construção dessas pequenas centrais e, se
comprovada a possibilidade de dano à população, a Funai pedirá ao
Ministério Público que impeça as centrais", informou Aquino.

Outra queixa dos índios enawenê-nawê é com relação à área da bacia do
rio Preto, que está fora das terras indígenas de acordo com a
demarcação feita pela Funai, mas que segundo os representantes da
etnia é parte fundamental das terras dos enawenê-nawê, por realizarem
ali um dos rituais mais importantes para a nutrição do povo. "Toda
essa terra pertence ao yakiriti (espíritos ancestrais), que é o dono
dos recursos naturais. Se você acaba com a terra e com os peixes, o
yakiriti se vingará e acabará com os enawenê-nawê", disse ao Survival
o cacique Kawari Enawenê.

Conforme o representante da Funai em Juína, o território indígena está
demarcado com 762 mil hectares, entre os rios Papagaio, Juruena, 12 de
Outubro, Ique e Comararé. Dentro desta área, Aquino garante que não
existe nenhum tipo de invasão, mas que ao redor são várias as fazendas
de produção de soja e de criação de gado. "Os índios têm vindo aqui,
há uns 15 dias, reclamar de sujeira na água dos rios, provocada pelo
escorrimento das lavouras. Ainda não existe um estudo para definir se
a água está sendo mesmo poluída, como também não existem reclamações
sobre intoxicação do povo. Estamos passando por um trâmite de
contratação de profissional para realizar o estudo, o que será feito
assim que liberado o recurso do governo federal".

O diretor da ong, Stephen Corry, declarou ontem, conforme a matéria do
site, que o presidente Lula deve honrar sua promessa de proteger os
povos indígenas e reconhecer a terra dos enawenê-nawê o quanto antes.
"A área vital para a pesca dos enawenê-nawê (a bacia do rio Preto)
ainda não foi demarcada. Se ela desaparecer completamente, a forma de
sobrevivência deles também acabará e eles não resistirão".

A importância da bacia do rio Preto para os enawenê-nawê é a
realização do ritual de espiritualidade e garantia de pescado para
todo o ano, o yankwã. De acordo com o funcionário da Funai, homens da
etnia montam acampamentos e barragens em seis pontos de rios
diferentes da região e permanecem lá por dois meses e meio. "No
sábado, houve uma reunião entre os proprietários de terra da região,
os índios, a prefeitura e a Funai a respeito disso, quando os
fazendeiros disseram que permitirão a permanência dos índios durante o
ritual, até que seja realizado o estudo etno-ecológico da bacia do rio
Preto para ver se a área realmente pertence aos enawenê-nawê"

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