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OMS avalia que qualidade do ar em São Paulo é melhor que a do Rio

OESP, Metrópole, p. C1
27 de Set de 2011

OMS avalia que qualidade do ar em São Paulo é melhor que a do Rio
No geral, o Brasil ainda tem uma média de contaminação duas vezes superior ao ideal, segundo a Organização Mundial de Saúde

JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE , GENEBRA

O Rio tem um índice de poluição do ar três vezes superior aos níveis recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pior que o de São Paulo e de Cubatão. Em um estudo inédito com 1,1 mil localidades no mundo, a entidade alerta que os municípios de países emergentes são hoje os mais poluídos.
São Paulo, apesar de estar em uma situação melhor que a do Rio, não tem nada a comemorar. A capital paulista tem um índice duas vezes superior às recomendações da OMS, conforme os dados mais recentes, de 2009. No geral, o Brasil tem uma média de poluição do ar duas vezes superior ao que estabelece a entidade. Os dados tomam por base 68 estações em quatro Estados. O poluente considerado é o material particulado - a poeira formada principalmente pela queima de combustíveis. Essas micropartículas, com até 10 milésimos de milímetro, podem causar asma, câncer e doenças cardíacas.
De 91 países avaliados, o Brasil é o 44.o com maior índice médio de poluição. A situação mais preocupante é a do Rio, na 144.ª colocação entre as mais poluídas. A cada m³ de ar na cidade foram encontrados 64 microgramas de material particulado. O limite ideal para a OMS é 20.
Procurado, o governo do Rio atribuiu o alto índice de poluição do ar constatado no levantamento à grande circulação de veículos na região metropolitana. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), carros, ônibus e caminhões são fontes de mais de 70% dos poluentes detectados. O sistema semiautomático que mede poluição por acúmulo de horas, diferente do de São Paulo, também contribuiria para uma distorção no ranking.
Segundo o coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS, o brasileiro Carlos Dora, uma redução da poluição aos níveis aceitáveis pela OMS reduziria em 15% o número de mortes anuais por problemas respiratórios no Rio. Maria Neira, diretora da OMS para Saúde Pública e Meio Ambiente, acredita que o investimento em transporte público pode ser a solução. "Basta ver o que os países ricos fizeram. Há décadas, estavam entre os locais mais críticos do mundo e conseguiram reverter essa situação." A diretora evitou comentar o fato de a Olimpíada ser no Rio. "Já fizeram os Jogos em Pequim (com índice seis vezes superior ao ideal)." /COLABOROU BRUNO BOGHOSSIAN

Campinas está pior que a capital

GENEBRA

Além do Rio e de Cubatão, na Baixada Santista, a região de Campinas, no interior paulista, é mais poluída que a cidade de São Paulo, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O índice médio anual de material particulado na região de Capinas é 39 microgramas por metro cúbico, quase o dobro do limite indicado, 20 microgramas.
A Região Metropolitana de São Paulo vem logo atrás, na 268.ª posição no mundo, com 38 microgramas por metro cúbico. Na mesma posição estão Paris e Buenos Aires. São Paulo é mais poluída que Caracas, Roma e Londres. / J.C.

OMS compilou relatórios oficiais

Para fazer o estudo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) levantou relatórios de fontes oficiais dos governos federais e locais na internet. Do Brasil, a OMS só conseguiu usar dados de quatro entidades: Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb); Instituto Estadual do Ambiente (Inea), do Rio; Instituto Ambiental do Paraná (IAP); e Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), de Minas.
"Muitas das cidades com a pior taxa sequer estão na lista", alertou Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS. Com a publicação da lista, a entidade espera mobilizar a sociedade para lutar por um ar mais adequado.

É inimaginável falar que a situação no Rio está pior que em SP

Análise: Paulo Saldiva

Os dados precisam ser interpretados com cuidado. O Rio tem um problema de poluição, mas considero inimaginável falar que é, como um todo, mais poluída que São Paulo. As medições dependem de quantas estações existem e de onde elas são colocadas. É provável que o Rio, por não ter uma rede tão grande de medidores quanto São Paulo, esteja focando em áreas problemáticas.
Em São Paulo há regiões muito poluídas, como no entorno da Avenida Salim Farah Maluf, com caminhões e carros antigos. O Rio também é dependente do automóvel e tem uma frota/habitantes parecida. Mas não tem desempenho tão negativo. Um estudo do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, entre 2007 e 2009, mostrou que a presença do material particulado era 30% menor no Rio em relação a São Paulo. Um dos fatores que beneficiam o Rio é a presença do mar, e do vento. Já São Paulo passa a ser considerada ainda pior quando você calcula o risco atribuível, que é o nível de poluição em relação ao número de pessoas.
São Paulo era muito mais poluída nos anos 80 do que hoje. Ela está como Los Angeles nos anos 70 em termos de partículas. Isso é coerente com o fato de temos legislação daquela época. Por que o estudo mostra que cidades americanas e europeias que antes também tinham problemas hoje apresentam bons resultados? Porque a mudança de legislação, com padrões mais rígidos, implica tomar medidas para melhorar o ar.
A OMS adota o limite de 20 microgramas por metro cúbico para material particulado. Os EUA consideram 30, e São Paulo, 50. As cidades brasileiras precisam adotar padrões mais rígidos. O Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) solicitou a mudança dos padrões. Um grupo da Cetesb fez força para isso. Mas o projeto parou na Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
Ao mudar os padrões, é provável que uma medição de ar "regular" passe a ser "ruim". Aí, por lei, o governante teria de tomar medidas - que passam pela qualidade do diesel, uma política de incentivo para carros de tecnologia mais avançada, investimento em transporte público, inspeção veicular e ciclovias, etc.

COORDENADOR DO LABORATÓRIO DE POLUIÇÃO , ATMOSFÉRICA DA USP

OESP, 27/09/2011, Metrópole, p. C1

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