VOLTAR

Ofício valoriza mulheres ribeirinhas

Diário Online - www.diarioonline.com.br
24 de Mar de 2014

O Projeto de Pesquisa "Cultura, Educação e Gênero na Amazônia: um estudo com as professoras ribeirinhas da região de ilhas de Belém do Pará", do Instituto de Ciências da Educação (ICED) da UFPA, analisa a formação cultural de professoras ribeirinhas que nasceram, vivem e atuam como docentes nas ilhas de Belém. "Queremos compreender, por meio de reflexões pautadas na história cultural e na história de vida, a formação da professora ribeirinha na Amazônia paraense. O objetivo é indicar o sentido das relações de gênero nesse processo", explica a professora Sônia Maria da Silva Araújo, coordenadora da pesquisa. No curso da pesquisa, os dados indicaram que era preciso remontar ao sistema de honra e vergonha instalado na região, durante a colonização, para esclarecer tal sentido.

De acordo com a coordenadora, a intenção era desenvolver a pesquisa com as professoras ribeirinhas. No entanto, "por conta do tempo exíguo, não pudemos realizar esse trabalho na dimensão planejada, mas tentamos nos aproximar ao máximo de um trabalho em que não falávamos sobre as professoras, mas junto com elas, numa relação próxima de escuta", afirma Sônia Araújo.

APROXIMAÇÃO

Para Sônia Araújo, a coleta de dados por meio de depoimentos requer uma aproximação maior entre o pesquisador e o sujeito que narra a sua história de vida, "isso exige do pesquisador uma escuta atenta aos silêncios, às recorrências, às pausas, ou seja, requer uma escuta significativa para além do que é dito, do que a voz materializada expressa. Ora, para isso, é preciso disponibilidade".

Segundo a coordenadora, trabalhar com as trajetórias numa reflexão pautada na história cultural é o que distingue o projeto. "Embora não se trate de uma metodologia nova ou de uma matriz teórica desconhecida, essa forma de pesquisa não é muito frequente nos estudos sobre o 'ser professora'. A necessidade de relacionar os depoimentos à observação do lugar de trabalho, de seus deslocamentos diários, seu cotidiano, sua vida cultural acabou por resultar em uma reflexão interessante", analisa.

A pesquisa mostra que a literatura sobre a profissão docente na educação básica está distante dos sentidos históricos que o ofício assume em contextos particulares, como é caso das ilhas de Belém. "Do ponto de vista epistemológico, trabalhamos com a história cultural, o que também favoreceu a produção de resultados ainda não apresentados, análises ainda não promovidas acerca da vida dessas professoras. A importância da escolarização, o domínio da leitura e da escrita, o exercício de uma profissão qualificada no conjunto da sua classe social foram muito importantes para a compreensão do sentido que ela, a professora, assume no contexto das escolas das ilhas", pondera Sônia Araújo.

Sônia Araújo destaca, ainda, que a professora ribeirinha vive os conflitos inerentes a uma sociedade em que as políticas públicas de acesso à cultura, à tecnologia e à escolarização ainda não predominam. Porém essas questões aproximam os sujeitos escolares, promovendo relações de solidariedade e dando à professora um lugar de liderança na comunidade. Nesse sentido, "o trabalho da professora qualifica o gênero e, de certa forma, oferece às mulheres ribeirinhas uma forma de superar as relações de subjugação e exploração da mulher na Amazônia, instaladas a partir da colonização", afirma.

Ademais, nesse contexto, a professora pode assumir funções que extrapolam o seu ofício. No espaço ribeirinho, com sua história de ascensão econômica e cultural, a professora assume lugares muito variados. "A professora, que, na sua maioria, é mãe, mas também pode ser líder comunitária, ou mesmo liderança religiosa, vai assumindo funções que acabam por lhe garantir um sentido cultural de importância para além da docência, embora sempre a ela associada", finaliza.

www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-279008-.html

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.