OAB vai levar caso de ataque a índios à Corte de Direitos Humanos

OAB vai levar caso de ataque a índios à Corte de Direitos Humanos

Marcos de Moura e Souza

BELO HORIZONTE - A Ordem dos Advogados do Brasil vai levar à Corte Interamericana de Direitos Humanos o caso do ataque contra indígenas ocorrido no domingo no interior do Maranhão. O episódio teve como pano de fundo a reivindicação dos índios Gamela de demarcação de um terra indígena em uma região do Estado onde há a presença de fazendeiros.
Em entrevista ao ValorPRO, o serviço de informações em tempo real do Valor, Rafael Silva, presidente da comissão de direitos humanos da entidade no Estado, afirmou que será enviada uma medida cautelar à corte a ser redigida pela OAB e por outras entidades, entre elas a Comissão Pastoral da Terra e o Conselho Indígena Missionário.
"Vamos abordar a questão da segurança do povo Gamela do processo, que não anda na Funai, de identificação e demarcação da terra indígena", disse ele.
O advogado afirmou que esteve hoje com um dos Gamela, José Ribamar, uma das vítimas no Hospital Geral em São Luís. "Ele teve a mão direita decepada com um facão. O médico me disse que foi um caso de amputação e que foi preciso uma cirurgia para por a mão dele no lugar", contou o advogado.
"A mão estava pendurada por uma pele quando o levaram para o hospital."
Outro índio, Aldeli de Jesus, estava ainda na UTI e o advogado não o viu, mas afirmou que a informação que recebeu foi que ele teve as duas mãos decepadas e que, também em cirurgia, foram reimplantadas.
Por meio de nota, o governo do Maranhão afirmou que "nenhum [dos índios] teve a mão decepada." E que, por conta da "agressão sofrida, um dos gamelas teve fraturas expostas nos braços. A equipe médica interveio e fez cirurgia para resolver a grave lesão."
Rafael Silva afirmou que um terceiro indígena foi baleado no abdome e no tórax e continua internado.
Ao todo, o ataque teria deixado 13 vítimas, mas o governo afirmou que registrou o atendimento a sete vítimas da violência.
"Não houve confronto. Os Gamelas foram atacados por mais de 200 pessoas com paus, facões e armas de fogo", afirmou Rafael Silva. O episódio ocorreu na região do município de Viana (MA) na região norte de Estado.
O presidente da comissão da OAB vem acompanhando a situação de tensão entre fazendeiros e índios da etnia Gamela e afirmou já ter presenciado por duas vezes homens numa moto atirando na direção de um carro da CPT em que ele estava. Os dois ataques ocorreram, segundo contou, no início do ano passado, quando de uma visita aos índios.
Em outro momento, disse, Silva testemunhou uma ameaça verbal: "Eu presenciei um fazendeiro ameaçando de morte um indígena".
Um dos temas que suscita questionamentos específicos da OAB é a suposta omissão de alguns policiais militares no episódio de domingo, disse Silva. Ele afirmou que houve denúncias de que PMs estariam dando apoio aos fazendeiros na disputa de terra com os índios.

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