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OAB pede rigor na investigação dos assassinatos de pescadores na Baía

O Globo, Rio, p. 23
30 de Jun de 2012

OAB pede rigor na investigação dos assassinatos de pescadores na Baía
Durante protesto, Wadih Damous diz que vítimas lutavam contra poder econômico

Emanuel Alencar
emanuel.alencar@oglobo.com.br

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, cobrou ontem uma rápida apuração dos assassinatos dos pescadores encontrados mortos no sábado na Baía de Guanabara. Ele disse que a entidade vai acompanhar o inquérito sobre o caso. Segundo Damous, os ativistas ambientais da Associação dos Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar) lutavam contra "interesses econômicos predatórios". As declarações foram feitas durante um ato em que representantes de movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos apresentaram um manifesto de repúdio aos crimes.
- Repudiamos veementemente um acontecimento bárbaro como este. Pescadores que lutavam contra interesses econômicos predatórios foram assassinados. A OAB não vai permitir que novos crimes venham a acontecer pelo mesmo motivo. Exigimos das autoridades da Segurança Pública do Rio a pronta apuração do que aconteceu, em quais circunstâncias e quem foram os autores - afirmou Wadih Damous.
O manifesto pede que a polícia investigue a possível relação das mortes de Almir Nogueira de Amorim e João Luiz Telles Penetra aos assassinatos de outros ativistas e fundadores da Ahomar: Paulo Cesar Santos Sousa, em 2009; e Márcio Amaro, um ano depois. Os crimes até hoje não foram esclarecidos.
Os corpos de João Luiz e Almir foram encontrados com pés e mãos amarrados na madrugada de sábado, na Baía. Desde então está sendo analisada a necessidade de proteção para outros pescadores ligados à Ahomar.

'Nossos sonhos estão sendo enterrados'
Líder de movimento ambientalista chora em discurso na OAB

Num discurso emocionado no auditório da OAB, o presidente da Ahomar, Alexandre Anderson de Souza, disse que o clima entre os 1870 pescadores artesanais representados pela associação, em sete municípios do entorno da Baía de Guanabara, é de extremo medo e preocupação. Aos prantos, afirmou acreditar que as mortes sejam um recado de grupos insatisfeitos com o ativismo ambiental da associação, fundada em 2003:
- Estão nos matando, um a um. A cada vez que sepultamos um companheiro, vai embora um pedaço da nossa luta, do nosso espírito. Nossos sonhos estão sendo enterrados. Temos certeza que isso (assassinatos) foi um aviso ao nosso movimento. Eles fizeram uma crueldade. Conseguiram calar a Baía de Guanabara. Os pescadores estão há quatro dias sem botar seus barcos na água.
Bastante aplaudido, Alexandre disse que os associados da Ahomar ainda vão avaliar se prosseguirão com o movimento.
- Não quero mais enterrar nenhum companheiro. Eu, sinceramente, acho difícil vencer esta luta. Se desta vez não houver um a investigação, penso que o movimento deve acabar. Mas de uma coisa vocês podem ter certeza: se não encerrarmos a militância, vamos nos unir ainda mais - afirmou o pescador, ao lado da mulher, Daize Menezes de Souza, também ameaçada de morte há três anos.
Caso pode ter acompanhamento federal
A ONG Justiça Global e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio articulam um acompanhamento federal do caso. Nos dias 9 e 10 de julho devem ocorrer encontros de membros da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República com o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. Há a possibilidade de os ministérios do Meio Ambiente, da Justiça e da Pesca também participarem do encontro.
Ontem, o delegado da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, ouviu familiares dos pescadores mortos. Por enquanto, a principal linha de investigação da polícia atribui os homicídios a uma briga por territórios de pesca. Barbosa, entretanto, ressaltou que o inquérito está no início e que, no momento, não pode descartar outras possibilidades. Nesta segunda, o presidente da Ahomar, Alexandre Anderson, deve ser ouvido na delegacia.
O líder dos pescadores anda escoltado por homens armados desde 2009, após o tesoureiro da Ahomar, Paulo Cesar Sousa, ser morto com três tiros no rosto, em sua casa, em Magé. A Petrobras informou, em nota, que "desconhece e repudia qualquer ameaça aos pescadores" e que todos os seus empreendimentos seguem rigorosamente as medidas de controle ambiental dos respectivos órgãos.

O Globo, 30/06/2012, Rio, p. 23

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