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O valor econômico e o ambiental das comunidades tradicionais

Época - http://epoca.globo.com
Autor: Roberto Palmieri
09 de Out de 2014

O papel desempenhado pelos milhões de hectares de florestas das unidades de conservação brasileiras na prestação de serviços ambientais, regulação do clima e produção de água são indiscutíveis e começam a ser reconhecidos pela sociedade. Mas a importância econômica das atividades exercidas pelas comunidades tradicionais como aliadas na conservação das áreas protegidas ainda é pouco entendida. Assim como a capilaridade da cadeia produtiva que desenham, do coração da Amazônia às prateleiras de supermercados, indústrias farmacêutica e de produtos de beleza, gerando renda, empregos e contribuindo para a manutenção da floresta em pé.

Ao longo da história, é possível constatar que o extrativismo de produtos como a castanha-do-Brasil, a copaíba, o látex, o babaçu, o cumaru e a andiroba manejados por povos indígenas, populações ribeirinhas e quilombolas, detentores de um conhecimento ancestral sobre a biodiversidade, têm contribuído para a defesa dos territórios das atividades predatórias e ilegais e vem despertando a atenção de fabricantes. Eles reconhecem nos produtos comunitários valores intrínsecos, identificados como essenciais à conservação dos recursos naturais.

Fazendo um recorte a partir da nossa vivência prática em campo, é possível constatar a relevância das unidades de conservação como barreira ao desmatamento e na manutenção da sociobiodiversidade. Indo um pouco mais longe, talvez possamos dizer que estamos testemunhando o início de um ciclo, no qual cresce a preocupação com cadeias produtivas mais éticas e justas em seu percurso até o comprador final. Temos exemplos nesse sentido: uma multinacional suíça, fabricante de aromas, procurou as comunidades que extraem copaíba nas unidades de conservação da Calha Norte e da Terra do Meio, no Pará. Pactuou com os comunitários os critérios para compra do produto, entendeu a necessidade de um capital de giro, as especificidades do trabalho artesanal e os aspectos culturais ali representados. Pagou 87% mais pelo produto, o que permitiu a eliminação do intermediário na cadeia e, portanto, maiores ganhos para os extrativistas. Casos semelhantes, envolvendo processadores de castanha-do-Brasil, de borracha e indústrias de beleza, também poderiam ser contados. Empresas que buscam nessas relações e nos produtos das unidades de conservação, garantias de procedência e de manejo compatível com a conservação da natureza.

Embora ainda não tenhamos a mensuração exata dessa cadeia é possível vislumbrar sua importância nas diversas dimensões socioambientais: como fonte de renda para as populações tradicionais, que por sua vez, encontram na atividade recursos que permitem a manutenção de suas atividades em seu local de origem, exercendo o extrativismo de baixíssimo impacto; portanto conservando a floresta.

Por todos esses aspectos, diante da importância dessas áreas protegidas para o fornecimento de bens e serviços ambientais, uma das ações prioritárias da Coalização Pró Unidades de Conservação é incorporá-las como ativo e polos dinamizadores dos planos de desenvolvimento do país, inserindo-as no planejamento de setores chaves, desde a extração na floresta, o abastecimento da indústria, até o consumidor; com o reconhecimento e garantias necessárias à continuidade dos bens e serviços que vem prestando à sociedade.

*Roberto Palmieri é gerente de projetos no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, entidade que integra a Coalizão Pró Unidades de Conservação. É mestre em ecologia aplicada pela USP e trabalha há 15 anos com projetos relacionados à sustentabilidade e desenvolvimento.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2014/10/…

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