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O valor das boas práticas ambientais e sociais

CB, Opinião, p. 25
Autor: YANG, Ana
16 de Set de 2006

O valor das boas práticas ambientais e sociais

Ana Yang
Secretária executiva do FSC Brasil

Ao completar cinco anos de existência, o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, organização que representa no Brasil o FSC (sigla para Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal), pode comemorar uma mudança positiva de cenário no setor produtivo florestal. Uma parte significativa desse setor se modernizou e está apto a competir globalmente sem temor de boicote por parte dos compradores mais exigentes, no Brasil e no Hemisfério Norte, onde as preocupações ambientais e sociais têm tanto peso quanto as econômicas.
No entanto, para avançar faltam políticas públicas de incentivo. É preciso que o governo brasileiro valorize as empresas florestais que operam na legalidade (um requisito da certificação FSC), estabelecendo mecanismos de regulamentação e controle eficientes para aprovação de planos de manejo, maior fiscalização das atividades ilegais e predatórias, e preferência no critério de compra de produtos florestais.
Até agora, o foco do FSC Brasil foi desenvolver os padrões nacionais e regionais, adequando os princípios e critérios universais das boas práticas florestais - o chamado manejo florestal sustentável aos diferentes tipos de floresta e produtos para extração disponíveis no país. Nos próximos anos, os esforços devem se concentrar na expansão da cadeia produtiva, visando aumentar a oferta de produtos certificados com o selo FSC, e no fortalecimento da marca, para que o mercado doméstico e de exportações identifique o Brasil não apenas como o país que detém um terço das florestas tropicais que restam hoje no mundo mas, também, como um fornecedor confiável e significativo de madeira e outros produtos de origem florestal com garantia de origem: Isso porque o selo FSC atesta os mais elevados padrões sociais e ambientais, além dos econômicos, na forma como é tratada a floresta de origem da matéria-prima.
Trazido por um grupo de ONGs ambientais e sociais aliadas a lideranças empresariais do setor florestal, o conceito do FSC chegou ao Brasil em 1995, quando foi formado um grupo de trabalho liderado e apoiado pelo WWF Brasil, dando início à promoção da certificação independente e universal da atividade florestal sustentável. 0 cenário nacional do setor era então dominado por práticas predatórias e ilegais, mas naquele mesmo ano a pioneira Duratex obteve a certificação FSC para a primeira operação florestal e para o primeiro produto industrializado com selo FSC: o piso de madeira. Para ter o selo no produto, é exigida a certificação da cadeia de custódia, que faz o rastreamento da matéria-prima desde a árvore dentro da floresta certificada até a prateleira onde o produto é colocado à venda. A instituição FSC Brasil foi criada em 2001, numa assembléia inaugural, formada pelas organizações que apoiaram o selo no Brasil.
Hoje, 40% de toda a área de florestas plantadas no país já estão certificados, mas ainda falta avançar na certificação das florestas naturais da Amazônia. Em setembro de 2006, o Brasil teve 69 operações certificadas, das quais 26 são em florestas naturais - inclusive 10 em áreas de operação comunitária-, somando um total de 3,5 milhões de hectares de florestas e 198 certificações de cadeias de custódia. 0 selo FSC, que garante ao consumidor a procedência legal, social, ambiental e economicamente adequada da matéria-prima florestal, está presente em uma vasta gama de produtos brasileiros: artigos madeireiros para construção civil, indústria moveleira, artigos domésticos e de decoração, até lápis, carvão, cosméticos, farmacêuticos, moda, embalagens, papel e livros. E a iniciativa brasileira está institucionalizada no FSC Brasil.
A certificação florestal FSC é o selo que mais cresce no mundo, com presença em 82 países, num total de quase 80 milhões; de hectares de florestas e mais de 5 mil cadeias de custódia.
Além dos princípios que garantem o cumprimento de questões sociais e ambientais, o diferencial da certificação florestal FSC é o seu modelo de governança. Os padrões e políticas que regem o manejo responsável das florestas no Brasil e no mundo surgem a partir de diálogos e construções coletivas, reunindo no mesmo espaço atores, e grupos de interesses de vários setores (ambientais, sociais ( econômicos). Presente dentre da floresta e ao longo de toda cadeia até o produto vendido na prateleira, a certificação FSC visa mudar o comportamento - dos produtores que extraem da floresta a matéria-prima até o consumidor. Esse modelo tem sido inspirados para instituições, de outros setores que trabalham com recursos naturais e que também buscam forma mais, responsável de atividade econômica, pois a sustentabilidade interna exige o respeito a todas as partes interessadas.
0 FSC Brasil conta com o apoio das organizações parceiras para mobilizar produtores florestais,, responsáveis e consumidores brasileiros cada vez mais conscientes.
É apostando num modelo de governança e produção que não destrói a floresta que a organização passará os próximos anos.

CB, 16/09/2006, Opinião, p. 25

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