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O sucesso dos laupalas no Havai

OESP, Vida, p.A17
Autor: REINACH, Fernando
30 de Mar de 2005

O sucesso dos laupalas no Havaí
Fernando Reinach
A extinção é o destino de todas as espécies. O estudo dos fósseis demonstra que as espécies que habitam nosso planeta representam uma pequena fração das que já existiram. Por este motivo, a diversidade de seres vivos é determinada pelo balanço entre o número de espécies que surgem e o número que se extingue. O mito da criação do mundo, de uma só vez, em sete dias, e as listas de espécies em vias de extinção nos faz esquecer que existe um número desconhecido de novas espécies surgindo no planeta a cada ano. Mas quantas são elas? O estudo da evolução dos laupalas, um grupo de gafanhotos do Havaí, mostra, grosso modo, a magnitude dos números envolvidos nesse processo.
Os laupalas são um grupo de gafanhotos composto por 26 espécies e centenas de raças espalhadas pelas cinco principais ilhas do Havaí. Para estimar a velocidade com que novas espécies surgem, pesquisadores compararam seqüências de DNA de cada uma das populações existentes no Havaí. Como o grau de diferença entre as seqüências de DNA de duas populações é uma medida do tempo transcorrido desde que as populações se separaram, uma diferença maior implica que a separação ocorreu num passado distante (homens e ratos) enquanto uma diferença menor significa que a separação ocorreu num passado recente (homens e chimpanzés). Por meio de registros fósseis, é possível determinar a data em que duas espécies divergiram, o que torna viável relacionar o grau de diferença nas seqüências de DNA com o tempo transcorrido desde a separação das espécies. A escala de tempo que resulta destes estudos permite afirmar, por exemplo, que 1% de diferença na seqüência do DNA corresponde a 100 mil anos. Assim podemos descobrir que duas espécies com 3% de diferença se separaram faz 300 mil anos.
Uma árvore genealógica dos laupalas feita com este método permitiu determinar quando cada espécie surgiu e quantas espécies surgiram ao longo do tempo. A conclusão é que os laupalas estão colocados em segundo lugar em número de espécies geradas por unidade de tempo. Mais rápidos que os laupalas só um grupo de peixes africanos. A taxa de geração de novas espécies neste grupo é dez vezes maior que qualquer outra já determinada. Quanto tempo você acha que este grupo leva para gerar uma nova espécie? Um, dez, ou cem anos? A resposta é aproximadamente 250 mil anos, isso mesmo, 4 espécies a cada 1 milhão de anos. Mas cuidado, este número engana. Apesar de um gênero levar muito tempo para gerar uma nova espécie, o número total de espécies que surgem no planeta a cada ano, apesar de desconhecido, é provavelmente da ordem de dezenas. Isto porque existem centenas de milhares de populações, espalhados por todo o planeta, cada uma evoluindo e gerando novas espécies.
O estarrecedor é que nem sequer sabemos quantas espécies existem no planeta (um número estimado entre 5 milhões e 50 milhões) e só podemos imaginar quantas espécies estão sendo criadas ou extintas a cada ano. Mesmo conhecendo nossa ignorância estamos destruindo, ano após ano, ambientes com milhares de espécies desconhecidas. É provável que nestes ambientes estejam surgindo espécies que um dia vão substituir o homem na superfície da Terra.
Mais detalhes em Rapid speciation in an arthropod, revista Nature, vol. 433, pág. 375, 2005. Existe um projeto que visa a catalogar todas as espécies existentes no Estado de São Paulo (http://www.biota.org.br).
Fernando Reinach (fernando@reinach.com) é biólogo

OESP, 30/03/2005, p. A17

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