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O sistema elétrico brasileiro está em crise?

OESP, Economia, p. B4
Autor: CASTRO, Nivalde J. de; BRANDÃO, Roberto
06 de Fev de 2014

O sistema elétrico brasileiro está em crise?

Nivalde de Castro e Roberto Brandão

O apagão de 4 de fevereiro, que provocou a "queda" simultânea de três linhões de transmissão de alta-tensão da conexão Norte-Sul, interrompendo o fornecimento de energia elétrica às Regiões Sudeste e Centro-Oeste e afetando a vida de 6 milhões de brasileiros por uma hora, não tem como causa os recordes de consumo por conta do calor e da escassez de chuvas. As linhas que provocaram o problema são novas, modernas e pertencem a uma geração de equipamentos desenhada para ter altos níveis de disponibilidade. As causas que acarretaram a interrupção serão conhecidas no relatório técnico elaborado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).
Na nossa avaliação, problemas desse tipo estão associados ao fato de o sistema elétrico brasileiro ter rede de transmissão em alta-tensão integrada, de dimensões continentais, com cerca de 110 mil quilômetros, transferindo diariamente grandes blocos de energia a longa distância. Na linha que provocou o apagão do dia 4 estava-se transportando 7% do consumo nacional de energia de Tucuruí para SP, por mais de 2mil km em linha reta. Em países onde a geração termoelétrica é preponderante, as usinas costumam ficar perto dos centros de consumo e o uso da transmissão em longa distância é pouco usado. Como no Brasil as hidrelétricas ficam longe das grandes cidades, como é o caso de Tucuruí, a dependência e importância da rede de transmissão é muito grande.
Outra hipótese que poderia explicar os apagões seria a falta de investimento e de planejamento. Não é o caso, pois de 2003 a 2013 foram construídos 31 mil km de linhas de transmissão, por meio de 107 projetos envolvendo investimentos de quase R$ 40 bilhões definidos por estudos de planejamento do ONS e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Tudo contratado via leilões públicos muito competitivos.
Como a fronteira elétrica avança para a Região Norte, novas linhas de longa distância estão sendo construídas para trazer energia das usinas do Rio Madeira, Belo Monte e linhão Tucuruí-Manaus-Macapá. Para mitigar os riscos de interrupções, além da constante necessidade de novas linhas, devem-se desenvolver novas tecnologias considerando as especificidades do Brasil. Mas o risco de um vendaval, raios e mesmo falhas técnicas e humanas sempre vai existir.

NIVALDE DE CASTRO É PROFESSOR DA UFRJ E COORDENADOR DO GRUPO DE ESTUDOS DO SETOR ELÉTRICO (GESEL) E ROBERTO BRANDÃO É PESQUISADOR SÊNIOR DO GESEL-UFRJ

OESP, 06/02/2014, Economia, p. B4

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