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O que você faria sobre o clima se fosse a presidente Dilma?

OESP, Metrópole, p. A22
Autor: RITTL, Carlos
27 de Set de 2015

O que você faria sobre o clima se fosse a presidente Dilma?

ANÁLISE: Carlos Rittl

Imagine a cena. O Brasil ferve debaixo de uma crise que se agrava a cada dia na política e na economia. O brasileiro sofre sob um clima cada vez mais severo. Só neste ano, 24% dos municípios brasileiros já decretaram situação de emergência ou calamidade pública por secas, tempestades e inundações. Você é presidente do País. Está com popularidade tão baixa quanto o volume morto do Sistema Cantareira. Busca saídas e boas notícias para si e para o País.
Você está em Nova York, para a Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável. Ambiente não é exatamente a sua agenda preferida. Mas não é que, de repente, você se dá conta que de onde você menos espera está a saída para boa parte de seus problemas?
Em suas mãos estão os resultados do trabalho de anos de alguns dos maiores especialistas em clima do Brasil: um cardápio com cenários e opções para reduzir emissões de gases de efeito estufa com benefícios para o País. Você tem, então, um estalo: percebe que a saída do vermelho da crise econômica pode estar no verde da economia limpa.
Setores retrógrados do governo tentam dissuadi-la: defendem a tese ultrapassada "do direito sagrado de poluir" de um país em desenvolvimento. Tentam convencê-la a fazer como fizeram outros países: colocar o mínimo de ambição na meta do Brasil.
Mas a ambição climática tem apoio maciço da sociedade civil e dos cientistas. Dar uma boa resposta a tanta expectativa pode, além de tudo, angariar o que lhe anda escasso: apoio! Você, então presidente, o que faria?
Pois é, você, como eu, muito provavelmente anunciaria ao mundo que o Brasil vai deixar de destruir suas florestas e passar a recuperá-las, reduzir os investimentos em fontes fósseis de energia e multiplicá-lo sem energia do sol, dos ventos, da biomassa, em biocombustíveis e massificar as práticas que reduzem emissões e aumentam a captura de carbono na agropecuária. Mas nem eu nem você somos a presidente Dilma.
O Observatório do Clima tentou construir o quebra-cabeças da possível meta do Brasil a partir de anúncios recentes do governo. Antecipamos o que pode estar no anúncio presidencial hoje.
Podemos nos surpreender com um meta e um discurso ousados? Por ora, é muito pouco provável. Mas quem sabe? Vai que, lendo os jornais durante o café da manhã, nossa mandatária finalmente se dá conta de que ação climática, recuperação da economia e apoio da sociedade são todos ingredientes à sua disposição.
O que pode estar no anúncio:
1) Emissões: ficarem entre 1,3 bilhão e 1,5 bilhão de toneladas de CO2 e em 2030. É pouco. Limitar o aquecimento global a 2oC exige do Brasil um limite de emissões inferior a 1 bilhão de toneladas de CO2 e naquele ano. E os cientistas dizem que mais ambição no clima melhora nossa economia.
2) Florestas: eliminação do desmatamento ilegal até 2025/2030 e restaurar 12 milhões de hectares de florestas. Pouco. Até 15 anos a mais de crimes ambientais é inaceitável (Estados da Mata Atlântica acabarão com ilegalidade em 2018). Devemos acabar com todo desmatamento até 2030, evitando o desmatamento "legal" pelo pagamento pela "floresta em pé". E podemos ter pelo menos 14 milhões de hectares só de floresta nativa em recuperação até 2030 (o governo não disse ainda quanto daqueles 12 milhões de hectares incluiria eucalipto).
3) Energia: 20% de participação de renováveis (exceto hidrelétricas) na matriz de eletricidade e 28% a 33% de participação de renováveis mais biocombustíveis na matriz total de energia. Também é pouco. Energia elétrica já contratada de eólica, solar e biomassa nos encaminha para aqueles 20%. E, com biocombustíveis, já temos 29% destas fontes na nossa matriz de energia. Devemos recuperar o setor de etanol, ampliar de 15 bilhões para 80 bilhões de litros consumidos no País até 2030, substituindo fósseis. E ter pelo menos 40% de fontes renováveis (não hidrelétricas) na matriz de eletricidade, estimulando setores como o de solar.
4) Fortalecer a agricultura de baixo carbono. Muito genérico. No Plano Safra 2015 / 2016, este investimento foi de menos de 2%.
Devemos vincular todo o crédito agrícola às práticas de baixo carbono e recuperar, no mínimo, 18 milhões de hectares de solos em pastos improdutivos no País até 2030.

É SECRETÁRIO EXECUTIVO DO OBSERVATÓRIO DO CLIMA

OESP, 27/09/2015, Metrópole, p. A22

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