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"O que o Pará não quer é perder Carajás", diz professor

FSP, Poder, p. A12
10 de Jul de 2011

"O que o Pará não quer é perder Carajás", diz professor
Manuel Dutra, autor de tese sobre Tapajós, afirma que, qualquer que seja o resultado do plebiscito, as consequências serão graves

Da enviada a Santarém (PA)

A radicalização do debate sobre a divisão do Pará pode levar ao esgarçamento das relações entre as três regiões do Estado, qualquer que seja o resultado do plebiscito.
A avaliação é do jornalista e professor-doutor da Universidade Federal do Pará Manuel Dutra, autor de um livro e de uma tese de doutorado sobre separatismo e a criação do Estado de Tapajós.
"Qualquer resultado vai ter consequências graves. O plebiscito é um fenômeno político que o Brasil deveria olhar com atenção", diz.
Santareno radicado em Belém, ele apoia o "sim, mas devagar", e discorda dos que veem a divisão como panaceia para todos os males. (VM)

Folha - Apesar de partidário do "sim", o sr. tem recomendado cautela. Por quê?

Manuel Dutra - Sou a favor do "sim, mas devagar". Desde que passou o plebiscito, aumentou o emocionalismo no debate. Não sei como vai ficar o tecido social se vencer o "não". Qualquer resultado vai ter consequências graves. Será a primeira vez que se criará Estados por plebiscito. Até hoje foi na canetada.

O sr. vê problemas caso haja a separação?

Os projetos foram aprovados pleiteando uma área muito extensa. Tapajós, originalmente, não englobava a região do Xingu. Haverá uma capital, Santarém, tão distante quanto hoje. E falta tanto na região de Carajás quanto na de Tapajós líderes políticos à altura do desafio.

De onde nasce esse sentimento separatista?

A Amazônia não se reorganizou territorialmente após a Independência. Há Estados enormes e vazio de poder, graças à centralização. Isso leva a movimentos separatistas. No Tapajós, há o pleito de separação desde o século 19. Há um sentimento difuso de que a vida vai melhorar, mas se você perguntar como, ninguém sabe dizer.

Os novos Estados são viáveis economicamente?

Aqui se tem a sensação que basta virar Estado para que as coisas aconteçam. Não é assim. Mas há investimentos que o governo do Pará segura, como a rodovia Santarém-Cuiabá. Há um porto estratégico para escoar produção para a Europa. Quem é contra a divisão diz: "Vocês são pobres demais para se separar". Aqui se diz que temos de nos separar porque somos pobres.

O caso de Carajás é o mesmo?

Não. Há uma elite em Marabá que veio de fora. Em pouco tempo, se transformou em uma região rica. Se fosse só Tapajós, não haveria resistência. O Pará não quer é perder Carajás.

FSP, 10/07/2011, Poder, p. A12

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1007201112.htm

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