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O que levou a FAO a apoiar os transgenicos

OESP, Geral, p.A14
23 de Mai de 2004

O que levou a FAO a apoiar os transgênicos Relatório mostra que alimentos geneticamente modificados até agora não fizeram mal à saúde
HERTON ESCOBAR
O último relatório anual da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) é talvez o documento mais completo e objetivo já produzido sobre os alimentos transgênicos no mundo. Em especial nos capítulos que tratam da segurança alimentar e ambiental desses produtos, que é o que toca mais diretamente o interesse dos consumidores. Com mais de 200 páginas, o documento faz um resumo científico, econômico e social do conhecimento disponível até agora sobre a engenharia genética.
Uma consideração básica permeia todo o texto: a transgenia, quando usada corretamente, pode ser extremamente benéfica para agricultores, consumidores e para o meio ambiente. Sempre com a ressalva de que nenhuma tecnologia está isenta de riscos, de que o uso dos transgênicos deve ser avaliado caso a caso e de que são necessárias mais pesquisas para garantir e monitorar a segurança desses cultivos a longo prazo.
As conclusões são baseadas, em grande parte, em um relatório do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU), organização não-governamental que representa a comunidade científica global. Além de várias outras fontes especializadas.
Segurança alimentar - "As plantas e os alimentos transgênicos derivados delas hoje disponíveis foram julgados seguros para comer e os métodos usados para testar sua segurança foram considerados apropriados", começa o capítulo sobre segurança alimentar. Mesmo após vários anos de consumo em larga escala, segundo a FAO, não há nenhuma evidência de efeito nocivo sobre a saúde decorrente dos transgênicos. "Muitos milhões de pessoas consumiram alimentos derivados de plantas GM (geneticamente modificadas) - principalmente milho, soja e canola - sem nenhum efeito adverso observado", afirma o relatório.
Cautelosa, entretanto, a FAO deixa claro que "a falta de evidências sobre efeitos negativos (...) não significa que novos alimentos transgênicos sejam isentos de risco". "Cientistas concordam que não se sabe o suficiente sobre os efeitos a longo prazo de alimentos transgênicos (e convencionais)", completa.
Entre as grandes preocupações envolvendo a segurança alimentar dos transgênicos, segundo a FAO, estão risco de provocar alergias, presença de substâncias tóxicas e uma possível transferência de genes para o organismo humano. "Muitos desses receios também se aplicam a variedades agrícolas desenvolvidas pelos métodos de cruzamento tradicional e cultivadas sob práticas agrícolas convencionais", aponta o documento. Todos esses riscos, segundo a FAO, foram devidamente avaliados e não há evidência de que representem perigo para os consumidores.
Segurança ambiental - Avaliar o efeito dos transgênicos sobre o ambiente é mais complicado do que sobre a saúde, já que as condições podem variar muito de uma região para outra. "O impacto ambiental de cultivos geneticamente transformados pode ser positivo ou negativo, dependendo de como e onde eles são usados", aponta a FAO.
Também nesse caso, muitos dos riscos levantados já existem na agricultura convencional, como o surgimento de ervas daninhas e insetos com resistência elevada a pesticidas (as chamadas "superpragas"), a transferência de genes para plantas silvestres ou convencionais (fluxo gênico) e possíveis efeitos negativos sobre espécies não alvo (ameaça à biodiversidade).
"Embora os cientistas tenham visões diferentes sobre esses riscos, eles concordam que os impactos ambientais precisam ser avaliados caso a caso e recomendam monitoramento ecológico pós-liberação para detectar qualquer evento inesperado", explica o relatório. "Agricultura de qualquer tipo - subsistência, orgânica ou intensiva - afeta o meio ambiente, portanto é natural esperar que o uso de novas tecnologias genéticas na agricultura também afetará o meio ambiente."
Segundo a FAO, não há dúvida de que plantas transgênicas - assim como quaisquer outras - podem cruzar com parentes silvestres e suas similares convencionais. Pesquisadores ainda debatem, porém, se isso representa algum problema, já que o fluxo gênico é um fenômeno natural e as características genéticas dos transgênicos dificilmente ofereceriam alguma vantagem evolutiva para plantas fora do ambiente agrícola.
Conclusão - "Até agora, naqueles países em que variedades transgênicas são cultivadas, não há nenhum relato confirmado de qualquer dano significativo à saúde ou ao meio ambiente", conclui o relatório. "Pelo contrário, benefícios ambientais e sociais importantes estão emergindo. Fazendeiros estão usando menos pesticidas e estão substituindo produtos químicos tóxicos por outros menos perigosos. Como resultado, trabalhadores rurais e recursos hídricos são protegidos de venenos e insetos benéficos e pássaros estão voltando aos campos dos fazendeiros."
"Entretanto, a falta de efeitos negativos observados até agora não significa que eles não possam ocorrer e cientistas concordam que nosso conhecimento sobre processos de segurança alimentar e ecológica é incompleto. Muito ainda é desconhecido. Segurança completa nunca pode ser garantida, e os sistemas regulatórios e as pessoas que os gerenciam não são perfeitos."

OESP, 23/05/2004, p. A17

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