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O preço salgado da água doce

O Globo, Rio, p. 11
08 de Dez de 2009

O preço salgado da água doce
´Atlas de Abastecimento Urbano´ mostra que Guandu precisa de investimentos de R$ 3,6 bi

Gustavo Paul e Maria Elisa Alves
Brasília e Rio

O governo do Rio precisará investir R$ 3,6 bilhões nos próximos anos para garantir o abastecimento de água no estado até 2015 e evitar problemas no fornecimento durante as Olimpíadas de 2016. Serão necessários R$ 1,4 bilhão para água e R$ 2,2 bilhões para saneamento. Os números constam do "Atlas de Abastecimento Urbano de Água", que será divulgado amanhã pela Agência Nacional de Águas (ANA) e abrange todas as regiões metropolitanas do país, além de partes do Nordeste (semi-árido) e do Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina). O "Atlas" mostra que mais da metade dos municípios dessas áreas vai precisar de investimentos nos próximos cinco anos para garantir o abastecimento.

A lógica vale para os 17 municípios do Grande Rio, cuja população deve aumentar 6,5% entre 2005 e 2015, passando de 10,7 milhões para 11,4 milhões. Ao mesmo tempo, a demanda por abastecimento de água crescerá neste período 5,7%, de 62,5 para 66,1 metros cúbicos por segundo. O diagnóstico feito na região aponta que não será preciso mais água para atender a esse crescimento de demanda, pois o sistema Guandu deverá responder por 90% das necessidades. O problema, diz o estudo, é a poluição dos rios, ou seja, o "comprometimento da qualidade da água no local da captação da Estação de Tratamento de Guandu, em função da poluição oriunda, principalmente, dos rios Poços/Queimados e Cabuçu/Ipiranga".

As bacias desses rios, com área total de 225 quilômetros quadrados, recebem esgotos domésticos e efluentes industriais. O diagnóstico descrito no "Atlas" indica "a necessidade de ampliação de capacidade dos sistemas Guapimirim, Guandu e Imunana/ Laranjal, além de implantação de tratamento da água bruta do sistema Ribeirão das Lajes".
Projeto de desviar rios está parado
A Cedae tem um projeto para desviar a água dos rios Queimados, Poços e Ipiranga para depois da zona de captação do Guandu, que está parado desde 2007. Na época, o presidente da empresa, Wagner Victer, disse que a intervenção, que custaria cerca de R$ 36 milhões, estaria pronta até o fim de 2009. Hoje Victer diz que o projeto está em fase de licenciamento ambiental - alega que o financiamento da Caixa Econômica Federal demorou a sair. Segundo ele, a licitação estará na rua em 120 dias e a qualidade da água não está comprometida:
- Com o desvio, a qualidade da água continuará igual. O que muda é que gastaremos menos produtos químicos no tratamento.

Uma análise da Cedae mostrou que, em média, o índice de coliformes fecais no ponto de captação da estação já era, em 2007, o dobro do encontrado no trecho em que o Rio Guandu não tinha a influência dos três rios. Pelas estimativas da época, a obra reduziria em 20% as 140 toneladas diárias de sulfato de alumínio usadas para tratar a água.

O diretor-presidente da ANA, José Machado, lembra que os investimentos são fundamentais para garantir não só o abastecimento em 2015 como nos anos seguintes. Ele ressalta que o governo do Rio tem conhecimento do problema e está "em linha" com a agência:
- Trata-se de uma região populosa que vai ter uma demanda crescente de água no futuro. O Rio tem feito planejamento para enfrentar esta situação.

A avaliação da ANA é que a situação do Rio ainda é confortável, pois há tempo suficiente para as obras serem concluídas. Sérgio Ayrimoraes, especialista em recursos hídricos da agência, alerta que a ampliação do sistema Guandu já está prevista há alguns anos e vem se arrastando:
- Não se pode postergar mais.

Victer garante que os investimentos estão sendo feitos e que as obras serão suficientes para manter o abastecimento até 2030. Segundo ele, os dados do "Atlas" são baseados em informações da própria Cedae. A ampliação do sistema Guandu, que deverá custar R$ 1,3 bilhão, não visa exclusivamente ao aumento de capacidade para o atendimento das demandas futuras, mas também a permitir maior flexibilidade de manutenção e operação. Para a proteção da tomada de água no Rio Guandu estão previstas obras emergenciais que possibilitam o desvio das águas dos rios Poços, Queimados e Ipiranga e o tratamento dos afluentes em tempo seco, estimadas em R$ 217 milhões.

O "Atlas" também sugere a implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos em cidades localizadas antes da captação das águas do Guandu, resultando em investimentos de R$ 1,682 bilhão nos municípios de Japeri, Paracambi, Queimados e Nova Iguaçu. Segundo o presidente da Cedae, essas obras terminam até 2012. A meta é estar pronto para atender ao aumento de dois milhões de pessoas em 20 anos.

Segundo Victer, as intervenções não visam aos Jogos, mas são investimentos até 2030. Ele calcula que boa parte dos R$ 3,6 bilhões já estão contratados, seja com recursos do estado, da Cedae ou do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

- Não são investimentos para os Jogos, são para o estado como um todo, até 2030. Os compromissos para as Olimpíadas vão estar prontos quatro anos antes. A Lagoa Rodrigo de Freitas, por exemplo, já está completamente despoluída.

Segundo Victer, uma das próximas obras é a ampliação da estocagem de água para a Zona Oeste.

- Vamos investir R$ 900 milhões na construção de três grandes reservatórios, cada um com capacidade para 20 milhões de litros, na Barra, Jacarepaguá e Campo Grande. A licitação estará pronta até abril de 2010 - anunciou.

O Globo, 08/12/2009, Rio, p. 11

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