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O novo mapa da mina

Correio Brasíliense-Brasília-DF
Autor: LAURO RUTKOWSKI
20 de Jun de 2004

Serviço Geológico do Brasil vai levantar riquezas minerais em 30% do território até 2007. Será o maior estudo das últimas três décadas. O bjetivo é encontrar desde metais preciosos a insumos para construção

O governo brasileiro vai apontar aos investidores privados os caminhos que levam ao aproveitamento dos minérios do país. Em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará nos próximos dias o maior programa de mapeamento geológico dos últimos 30 anos. 0 projeto tem como finalidade localizar, entre outros, veios de ouro, silício e diamante para exportação; de ferro, argila, brita e areia para construção civil; de fósforo, potássio e sódio para uso agrícola. 0 governo espera que, entre 2004 e 2007, os novos mapas viabilizem investimentos de US$12,6 bilhões em mineração. Atualmente, a mineração é responsável por 6,2% do Produto Interno Bruto do país (excluindo petróleo e gás). A idéia do governo é, literalmente, mostrar com detalhes inéditos o "mapa da mina" a empresários brasileiros e estrangeiros interessados em retirar do subsolo bilhões de dólares em riquezas escondidas. A partir da localização feita pelo governo em mapas digitais elaborados com a mais moderna tecnologia, as áreas serão "fatiadas" e oferecidas à iniciativa privada por meio de licitações. Esse processo é comum em países como o Canadá, em que 100% do território já foi mapeado minuciosamente com pesquisas de campo e levantamentos aerogeofísicos (veja como os mapas são feitos em arte nesta página). "As jazidas atuais foram descobertas em levantamentos realizados 20 ou 30 anos atrás. É um absurdo um país com um subsolo tão rico quanto o nosso não se conhecer", diz a ministra de Minas e Energia, Dileta Rousseff. 0 mapeamento será realizado entre 2004 e 2007, consumirá recursos da ordem de R$ 360 milhões e abrangerá 2,7 milhões de quilômetros quadrados (30% do território do país), com foco nas regiões em que os indícios de riquezas minerais são mais fortes, conforme estudos anteriores. Escala adequada Entre 2004 e 2007, serão gerados 377 mapas geológicos nas escalas 1:100.000 (em que cada centímetro do mapa representa um quilômetro na realidade) e 1:250.000 (em que cada centímetro equivale a 2,5 quilômetros). São essas as escalas necessárias para fundamentar tecnicamente a decisão de investir ou não em determinada área. "Atualmente, apenas 12% do território brasileiro está mapeado em escala adequada para atrair investimentos em exploração mineral", lamenta o secretário de Minas e Metalurgia do Ministério de Minas e Energia, Giles Carriconde Azevedo. Na solenidade de lançamento do programa, P.uu isoriamente batizado de "Redescobrindo o Brasil", o salão principal do Palácio do Planalto exibirá um mapa de mais de cem metros quadrados de todo o território brasileiro, elaborado na escala 1:1 milhão (em que cada centímetro representa dez quilômetros). 0 mapão de l:1 milhão é resultado de três anos de trabalho e foi recentemente concluído pelo Serviço Geológico do Brasil, empresa pública que substituiu a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (embora ainda mantenha a sigla CPRM). Pela primeira vez, o mapa trará informações sobre possíveis jazidas de diamantes (foram encontradas cerca de 1,2 mil pontos em que a pedra possivelmente seria encontrada). Embora não tenha a precisão dos mapas que serão elaborados entre 2004 e 2007, o gigante serviu para constatar a existência de 28 mil "ocorrências anômalas"-ou seja, 28 mil pontos em que a concentração de determinadas rochas permite aos geólogos dizer que ali existem minerais como ouro, ferro e diamante. Dessas 28 mil, apenas duas mil estão em atividade. "Na maioria ainda não é possível dizer se há ou não ocorrências economicamente viáveis (as chamadas jazidas) ", explica o presidente da CPRM, Agamenon Dantas. Informação escassa A inexistência de informações confiáveis é o principal fator de desestímulo à atuação da iniciatii a privada na exploração do subsolo. Em 1978, o governo federal investiu US$ 65 milhões em levantamentos geológicos básicos, o que alavancou investimentos da ordem de US$ 380 milhões naquele mesmo ano. Em 2002, a União alotou cerca de US$ 3 milhões em estudos e a iniciativa privada aplicou cerca de US$ 38 milhões em mineração, utilizando basicamente os conhecimentos obtidos até 1979. Com a publicação da lei 10.848, em março deste ano, foram reservados 6% dos royalties de petróleo para os levantamentos de potenciais minerais, cerca de R$ 300 milhões. A vinculação de recursos a pesquisas geológicas teve como objetivo substituir o finado Fundo Nacional de Mineração, extinto em 1979 e nunca substituído. "É a garantia de que o atual governo não encara a exploração mineral como extrativismo, mas como minero-business", diz o secretário Giles Azevedo. A primeira etapa do trabalho começará nos estados de Goiás, Amapá e Pará ainda em junho. Aviões vão começar a registrar imagens dos três estados com equipamentos especiais, que obtêm imagens digitalizadas por. meio de sinais magnéticos. Essas imagens são refinadas em computadores e complementadas com exames laboratoriais de rochas recolhidas nos terrenos' fotografados". O resultado é um mapa digital, de alta definição geológica, que será oferecido investidores e disponibilizaá nos sites do governo na internet.

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