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O mapa da conservação

O Globo, Ciência, p. 30
06 de Set de 2013

O mapa da conservação
Estudo revela quais regiões do mundo concentram maior quantidade de espécies endêmicas

Renato Grandelle
renato.grandelle@oglobo.com.br

Preservar regiões estratégicas do planeta, como a América Central, a Mata Atlântica e a Caatinga, é suficiente para garantir a sobrevivência de até 67% das espécies de plantas - e, por extensão, também de aves, anfíbios e mamíferos. As localidades traçadas por uma equipe internacional de pesquisadores e publicadas esta semana na revista "Science" correspondem a 17% da superfície terrestre. Isso equivale a 24,3 milhões de quilômetros quadrados, ou a soma da área territorial de Rússia e EUA.
Se as localidades apontadas forem integradas a unidades de conservação, a comunidade internacional cumpriria uma meta estipulada três anos atrás, durante a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD, na sigla em inglês). O acordo exige que 60% das espécies de plantas da Terra sejam protegidas até 2020.
ILHAS CONCENTRAM MAIOR DIVERSIDADE
As regiões prioritárias são aquelas com maior quantidade de espécies endêmicas - as que não existem em qualquer outra localidade do planeta.
- Somamos as espécies encontradas em pequenas regiões para registrar o maior número possível de espécies endêmicas - explica Lucas Joppa, cientista conservacionista do Laboratório de Ciência da Computação da Microsoft e autor principal do estudo.
Quanto menor a localidade, maior é a ameaça sobre as espécies endêmicas. Por isso, as 43 regiões com maior densidade de espécies em perigo de extinção são ilhas tropicais e subtropicais - as principais estão no Caribe e na Oceania. O ranking segue com a Costa Rica, considerada referência na preservação da natureza. O país dedica 20% de seu território a unidades de conservação. Ecossistemas mediterrâneos também registram uma grande incidência de espécies endêmicas de plantas. Muitas, aliás, ainda precisam ser estudadas pelos cientistas.
O Equador, outro destaque entre as nações com maior densidade de espécies endêmicas, preocupa os conservacionistas. A sobrevivência de seus ecossistemas é ameaçada pela crescente disposição do governo em explorar petróleo nas áreas protegidas.

FISCALIZAÇÃO PROBLEMÁTICA NO BRASIL
No Brasil, a Mata Atlântica e a Caatinga concentram a maioria das espécies ameaçadas. O país foi responsável por 74% de todas as áreas protegidas criadas no mundo entre 2003 e 2008.
Segundo Clinton Jenkins, coautor do estudo na "Science" e pesquisador da Universidade da Carolina do Norte, esta medida não é suficiente para mostrar o engajamento do Brasil para cumprir as metas da CBD.
- O governo brasileiro não consegue fiscalizar suas unidades de conservação - lamenta.
- De acordo com a lei, metade da Amazônia é composta por áreas protegidas e indígenas, mas não há vigias para garantir a integridade do bioma.
A Mata Atlântica, porém, é a região brasileira com maior densidade de espécies endêmicas - e, por isso, aquela cuja conservação seria prioritária. A urbanização, no entanto, minguou o bioma. Apenas 8% de sua vegetação original ainda está de pé. Mesmo assim, Jenkins é otimista.
- Boa parte dos fragmentos da floresta já está em unidades de conservação. A próxima medida é conectá-las, o que exige a revitalização de outras áreas - ressalta. - A Região Nordeste também tem muitas espécies de plantas não existente sem qualquer outra localidade do planeta. Na verdade, existe ali uma grande mistura das vegetações típicas da Mata Atlântica e da Caatinga.
Segundo o estudo, 13% da superfície terrestre estão em áreas protegidas. No entanto, uma parcela significativa das unidades de conservação está em regiões frias e secas, onde não há uma grande incidência de espécies endêmicas.
Muitas dessas regiões também são desérticas. Para os pesquisadores, é importante observar ainda os ambientes urbanos com diversas espécies endêmicas. Afinal, a ameaça de extinção é maior nas localidades populosas.
As ilhas não sofrem com a urbanização, mas precisam lidar com a introdução de espécies invasoras, que se adaptam facilmente ao ecossistema local e consomem recursos que, antes, eram destinados apenas às espécies da região.
A pesquisa incluiu 110 mil espécies de plantas, retiradas do banco de dados do Royal Botanic Gardens da Inglaterra.
As regiões selecionadas pelo estudo também contam com 89% de todas as espécies de aves do planeta, assim como 80% das espécies de anfíbios e 74% das de mamíferos.
- Nosso levantamento identifica as regiões de maior importância - avalia Stuart Pimm, professor da Escola de Meio Ambiente da Universidade Duke, nos EUA. - O próximo passo é lógico e muito desafiador: tomar decisões mais táticas sobre os locais em que a biodiversidade se encontra em um estágio mais crítico e que, por isso, precisa ser conservada.
O estudo ressalta que cada país deve decidir o percentual da área protegida de acordo com suas "questões ecológicas" - por exemplo, que espécies estão ameaçadas: "Um tigre precisa de mais espaço do que lírios", dizem os pesquisadores.
- Estamos chegando perto de atingir as metas determinadas pela CBD - destaca Pimm. - Mas ainda temos etapas enormes pela frente.

Números
67% DAS ESPÉCIES ENDÊMICAS DE PLANTAS concentram-se em 17% da superfície terrestre

74% DE TODAS AS ÁREAS PROTEGIDAS criadas no mundo entre 2003 e 2008 foram no Brasil

O Globo, 06/09/2013, Ciência, p. 30

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