VOLTAR

O Holoceno está acabado, e achamos isso já há algum tempo

O Globo, Sociedade, p. 30
30 de Ago de 2016

O Holoceno está acabado, e achamos isso já há algum tempo

Cesar Baima

RIO - Presidente do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno, que desde 2009 avalia a possível adoção oficial da apelidada "era dos humanos" pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), Jan Zalasiewicz, geólogo da Universidade de Leicester, Reino Unido, acredita haver evidências suficientes para isso. Segundo ele, nos últimos sete anos o grupo compilou, analisou e discutiu dados de dezenas de estudos que indicam que a Humanidade de fato alterou a face e os sistemas naturais da Terra de tal maneira que um hipotético cientista do futuro poderá observar estas mudanças no registro geológico daqui a centenas de milhares ou até milhões de anos.
- O Holoceno (como é conhecida a atual época geológica) está acabado, é o que a maioria de nós no grupo de trabalho achamos já há algum tempo - afirmou Zalasiewicz em entrevista exclusiva ao GLOBO. - Nestes anos tentamos dar sentido a toda a informação que temos sobre o assunto para montar um caso em defesa da sua adoção.
Zalasiewicz destacou, no entanto, que a formalização do que deverá ser uma nova época da Escala de Tempo Geológico, com provável começo em 1950, início da chamada "Grande Aceleração" dos efeitos da ação humana na Terra, vai demorar para acontecer. Isso porque ainda é preciso definir quais entre os muitos potenciais marcadores físicos serão usados para caracterizar o registro geológico do Antropoceno, assim como demonstrar que eles são fortes o suficiente para convencer até os mais conservadores integrantes da comunidade científica da realidade e profundidade das mudanças provocadas pela Humanidade no planeta. Sem contar o tempo necessário para o próprio processo de formalização correr na IUGS, estimado em pelo menos dois anos.
- Já começamos o trabalho de juntar estas evidências físicas, mas são muitos os sinais possíveis que podemos usar para caracterizar o Antropoceno, desde a rápida e expressiva alta nas concentrações de CO2 na atmosfera às alterações nos ciclos naturais de elementos como o nitrogênio e os radioisótopos espalhados pelas bombas atômicas pelo mundo - contou. - E para isso teremos que contar com a ajuda de cientistas ao redor do mundo. É hora de ir a campo para achar e mostrar estas marcas da ação humana no registro geológico, nos estratos, que são o modo que os geólogos medem a passagem da História do planeta.
Aos críticos que afirmam que, caso seja aprovada, a formalização do Antropoceno será uma decisão mais política que científica, ou que do ponto de vista geológico estas marcas são muito recentes e fracas para estarem, literalmente, escritas em pedra, Zalasiewicz respondeu:
- O tempo desde a Grande Aceleração pode ser pequeno, mas também foi de grandes mudanças em todo mundo. Quase todo plástico e concreto fabricados pela Humanidade foram produzidos neste período, como também as emissões de CO2. Assim, mesmo que o Antropoceno ainda não esteja totalmente escrito em pedra, ele já foi incorporado de forma permanente e muitas vezes irreversível nos sedimentos de lagos e oceanos, no gelo dos polos e dos glaciares, nas alterações na biosfera e na extinção em massa de animais. Será uma decisão política tanto formalizar quanto não o Antropoceno. De qualquer jeito, avaliar isto é um trabalho que vale a pena por si, pois aprendemos mais sobre as mudanças que provocamos na Terra e suas consequências.

O Globo, 30/08/2016, Sociedade, p. 30

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/presidente-de-grupo-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.