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O futuro em jogo

O Globo, Opiniao, p.6
30 de Jul de 2004

O futuro em jogo

As queimadas na Floresta Amazônica são um grave problema atual e uma séria ameaça ao futuro no Brasil. Tão intenso é esse processo destrutivo que, como constatou o grupo de estudos formado por cientistas brasileiros e estrangeiros cujos dados tiveram papel central nos debates da Conferência da Amazônia, em Brasília, dele resulta o lançamento na atmosfera de 200 milhões de toneladas por ano de dióxido de carbono. Com isso, o país já é um dos dez maiores emissores de gases do efeito estufa.

É importante manter a perspectiva correta. Mesmo a emissão total do país de 550 milhões de toneladas de CO2 — incluído o resultado da queima de combustível fóssil — é menos de um décimo dos 5,75 bilhões de toneladas que os Estados Unidos lançam na atmosfera, isso sem contar outros gases do efeito estufa. Assim, a adoção pelos americanos de uma política de contenção mesmo tímida seria mais eficaz no combate ao aquecimento global do que o maior dos esforços por parte do Brasil.

Mas devemos estar conscientes de que conter essa devastação da maior floresta do planeta é tão importante para nós quanto para os outros países. No chamado arco do desmatamento, é tamanha a alteração do regime de chuvas que algumas áreas já se tornaram verdadeiras savanas, prenunciando a transformação, em 50 a 100 anos, de até 60% da floresta em cerrado, como advertiram pesquisadores na conferência. A alteração do clima resultante traz como risco a desertificação de imensas áreas do país.

A destruição é movida por claros objetivos econômicos — extração de madeira, abertura de espaço para pecuária, plantio de soja etc. Como propõe a revista The Economist”, os países do Primeiro Mundo, que tanto devastaram suas próprias florestas, se estão realmente interessados em combater o aquecimento global, devem oferecer alguma compensação ao Brasil, para que se torne igualmente vantajoso não destruir.

Mas nós também precisamos agir, e com urgência. É essencial a presença do Estado brasileiro, até hoje virtualmente inexistente, na Amazônia, para que tenha início a tarefa de combater a destruição da floresta. Que, como já ficou claro, equivale à destruição do próprio futuro do país.

O Globo, 30/07/2004, p.6

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