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O dino tipiniquim

CB, Brasil, p.13
16 de Jan de 2004

O dino tupiniquim
Pesquisadores descobrem que no Brasil havia dinossauros semelhantes aos que fazem sucesso na tela do cinema. O Amazonsaurus maranhensis, que chegava a ter quatro metros de altura, habitava o norte do Maranhão
Renata Giraldi
Da equipe do Correio
Dinossauros semelhantes aos que habitaram o Hemisfério Norte — e que se tornaram protagonistas de filmes e desenhos animados produzidos em Hollywood — também viveram no Brasil. A prova da existência deles no território brasileiro foi mostrada ontem por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A descoberta inaugura uma nova etapa da paleontologia nacional. Até agora, estudiosos acreditavam que apenas um único tipo de dinossauro havia vivido no país: os titanossauros.
Pesquisadores encontraram ossos de um fóssil pertencente a um dinossauro que teria vivido no norte do Maranhão, há mais de 110 milhões de anos. O fóssil, ainda de sexo indefinido, foi batizado de Amazonsaurus maranhensis. A descoberta mereceu destaque na revista holandesa Cretaceous Research.
Essa descoberta, aliada a outras pesquisas que estamos fazendo, poderá trazer mais surpresas, diz o professor Ismar de Souza Carvalho, da UFRJ, que coordenou, sempre no maior sigilo, os trabalhos sobre o dino tupiniquim. A expectativa é de que, a partir dessas pesquisas, consigamos encontrar outras espécies. E, naturalmente, obter um conhecimento ainda maior sobre a nossa história.
 O fóssil do Amazonsaurus maranhensis, encontrado no rio Itapecuru, no norte do Maranhão, representa um novo gênero e espécie do grupo dos saurópodes. As conclusões dos pesquisadores são apresentadas depois de 13 anos de pesquisas em toda a região maranhense, escolhida por reunir uma grande quantidade de rochas do período Cretáceo — de 140 milhões a 100 milhões de anos atrás.
Perfil
O Amazonsaurus maranhensis era herbívoro e sociável, segundo os cientistas. Vivia em bandos e só reagia com agressividade se fosse provocado. Os estudos paleontológicos realizados pela equipe de Carvalho, formada por geólogos, biólogos, um estatígrafo, um químico e um petroquímico, indicam que a espécie encontrada não era da família de dinossauros mais altos. Tinha, no máximo, quatro metros de altura — considerando a parte mais alta do corpo. Pesava aproximadamente 10 toneladas e chegava a 10 metros de comprimento.
Os estudos foram feitos a partir de análises dos ossadas da bacia, da costela completa e de vértebras da cauda. Até o momento, os pesquisadores não conseguiram descobrir o sexo do animal. Os ossos localizados não permitem essa avaliação. As pesquisas serão aprofundadas numa tentativa de obter mais informações sobre o grupo saurópode e também a respeito do habitat em que vivia.
Um dos aspectos mais surpreendentes da pesquisa foi descobrir que esse tipo de dinossauro, encontrado apenas nos países da América do Norte, também andou no Hemisfério Sul, diz o professor Ismar Carvalho. Para ele, outro dado relevante foi descobrir o fóssil no Maranhão. É a primeira vez que cientistas localizaram ossadas de dinossauros nessa região do país.
Pouco conhecido
O professor da UFRJ ressalta que o Brasil tem várias áreas de importância paleontológica, concentradas no Triângulo Mineiro, Mato Grosso, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraíba e Ceará. Para a Sociedade Brasileira de Paleontologia, ainda é pouco o que se conhece sobre os dinossauros. Portanto, há muito o que se pesquisar a respeito.
Os cientistas afirmam que os dinossauros viveram durante a era mesozóica, que se divide em três períodos: triássico, jurássico e cretáceo. Os dinossauros brasileiros, segundo pesquisas, viveram nesse último período. Os pesquisadores acreditam que o desaparecimento desses animais está diretamente associado às transformações ambientais, como o surgimento de flores que não pertenciam à dieta alimentar da espécie.
Para Carvalho, é provável que o Amazonsaurus maranhensis tenha vivido numa época em que o clima no Brasil era bem diferente do atual. Segundo o pesquisador, ao que tudo indica fazia mais calor e havia menos umidade. Os dinossauros preferiam ocupar as áreas mais alagadas do Maranhão, daí o fóssil ter sido localizado próximo ao rio Itapecuru.
Na próxima etapa da pesquisa, cientistas da Universidade Federal do Maranhão estarão unidos à equipe responsável pelos estudos mais recentes. Sem entrar em detalhes sobre os novos rumos dos trabalho, Carvalho afirma apenas que as rochas cretáceas, da região norte do Maranhão, têm muito o que dizer aos pesquisadores. Temos de descobrir o que elas têm a dizer, brinca.

No rastro dos gigantes
Os primeiros sinais de que os dinossauros viveram também no Brasil foram descobertos no século 18, no sertão da Paraíba, quando um agricultor encontrou pegadas em uma área próxima de casa. Anos depois, um cientista constatou que as marcas no solo teriam sido feitas por alguma espécie de dinossauro que habitou a região há 130 milhões de anos.
Mas a primeira descoberta de fóssil comprovada cientificamente, no país, ocorreu em 1942, no Rio Grande do Sul. Atualmente, pesquisadores brasileiros sabem que os dinossauros praticamente se espalharam por todo o território nacional. Eles calculam que 75% do território nacional seria ocupado por fósseis. Os períodos em que viveram variam de 220 milhões a 65 milhões de anos, de acordo com cientistas.(RG)

CB, 16/01/2004, p. 13

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