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O coracao sangrado da floresta

JB, JB Ecologico, p.42-47
Autor: LAZARONI, Dalva
08 de Dez de 2003

Se um mensageiro descesse do céu e garantisse que minha morte ajudaria a fortalecer nossa luta, ela até valeria a pena (..) Não é com grandes funerais e manifestações de apoio que iremos salvar a Amazônia. Eu quero viver". Chico Mendes

O corarão sangrado da floresta
Dalva Lazaroni - O Curadora do livro "Chico Mendes 15 anos o Coração da Floresta"
Chico Mendes, como era conhecido Franco Alves Mendes Filho, brasileiro, nasceu nortista e ecologista, no dia 15 de dezembro de 1944. Proveniente de família humilde, cresceu nos seringais de Porto Rico, no município de Xapuri, Estado do Acre. Este território foi palco de grandes lutas históricas, tendo pertencido à Bolívia e ao Peru, sendo incorporada ao Brasil após as lutas travadas entre brasileiros e bolivianos.
Por força das necessidades, ainda criança, Chico tornou-se seringueiro, começando a trabalhar aos nove anos de idade, acompanhado o pai. Sem ter tido nenhuma educação formal, sem freqüentar escola, aprendeu a ler e a escrever aos 24 anos e vestiu o primeiro temo aos 40.
Chico Mendes tinha a cor morena do homem da floresta. Trazia no rosto, além dos vastos bigodes, um ar tristonho e as marcas dos tempos difíceis. Conhecia os sofrimentos do povo e vivenciava de perto as questões da terra. Tinha consciência da necessidade e da urgência em se estabelecer uma política de proteção às florestas e aos seus habitantes Esta realidade passou a ser o ideal de sua vida.
A luta e O conflito - Em nenhum momento Chico se afastou da luta, nem diante do descaso das autoridades, da ambição dos empresários e fazendeiros e da impunidade acobertada pelas forças governamentais. Os inimigos da floresta ameaçavam a todos com suas armas, desde machado e facões a modernas motosserras e tratores, derrubando árvores, provocando queimadas, destruindo a fauna e a flora amazônica, afetando o ecossistema do Planeta Terra. Inconformado com a situação, Chico Mendes abraçou a causa, que não era apenas sua, mas de todos nós, levantando a bandeira em prol da
defesa das matas. Em 1975 tomou-se líder sindical e, no mesmo ano, com a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, foi eleito secretário do órgão. A partir de então, Chico passou a fazer um trabalho de conscientização junto à população da região.
Um delegado da Policia Federal no Acre, Mauro Spósito, acusou Chico Mendes de manter relações com uma entidade "comunista", a Fundação Ford dos Estados Unidos da América do Norte.
Foi em 1976 que Chico Mendes passou a ser um ativista ecológico, juntando-se aos seringueiros na luta contra os desmatamentos. Surgia o empate, um método de resistência pacífica, que consiste em reunir grande número de pessoas, dentre elas seringueiros, trabalhadores rurais, índios e pescadores, com suas mulheres e filhos, todos desarmados, com a finalidade de impedir os criminosos desmatamentos. No ato de realização do empate, as pessoas dão as mãos, formando uma corrente humana, impedindo as árvores. O empate é um enfretamento desigual, onde os povos da floresta, desarmados, lutam contra peões dos fazendeiros e seringalistas armados até os dentes.
O objetivo do empate é tentar neutralizar a ação dos predadores e conscientizá-los sobre os perigos e as desastrosas conseqüências da prática criminosa da destruição ambiental, chamando a atenção para as atitudes inconseqüentes e agressivas dos devastadores da terra. Alguns empates conseguiram impedir ou atrasar as ações de empresários e fazendeiros inescrupulosos, mas muitos seringueiros pagaram com a vida.
Chico se orgulhava de ter criado o empate e de ter liderado 45 deles, todos vitoriosos, que culminaram por salvar cerca de 1,2 milhão de hectares de florestas no Acre. No entanto, os empates tiveram triste saldo: 400 detidos, 40 torturados e muitos mortos, pois tais ações se chocavam com os interesses dos grandes latifundiários. Certa vez, Chico disse: "Xapuri se tornou o ponto de partida para uma Frente verde na Amazônia, fato que devemos à mobilização dos seringueiros. Os fazendeiros tinham como meta desmatar 10 mil hectares de florestas primárias, mas os empates conseguiram reduzir para dez hectares de selva destruída no ano passado".
Dando uma entrevista, Chico lamentou: "Em quase 5o anos de Amazônia nunca vi tantas queimadas. Estão incendiando tudo. Todos os aeroportos, no ano passado, ficaram interditados durante uma semana. Este ano, a interdição foi além de um mês. A Amazônia vista de cima é só fumaça. "Chico Mendes, em 1977, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. No mesmo ano foi eleito vereador do seu município, pelo movimento Democrático Brasileiro (MDB) e, em 1979, organizou um fórum de debates, realizado na Câmara Municipal, com a presença de lideranças sindicais, comunitárias, políticas e religiosas.
A Morte - Com tantas interferências, Chico Mendes despertou o ódio de muita gente. Acabou sendo acusado de subversão, foi torturado e passou a receber ameaças de morte. Sem se deixar intimidar, ao lado de Luís Inácio Lula da Silva, em 1980, Chico Mendes fundou o Partido dos Trabalhadores. Inteiramente dedicado a vida pública, participou de comícios e movimentos populares, fazendo inflamados discursos, na tentativa de conscientizar os companheiros trabalhadores a lutar e a defender seus diretos.
O seringueiro se transformou em sindicalista, de sindicalista em ecologia de ecologista em militante político. Em 88, o Partido Verde se expandiu para o Brasil afora alcançando muitas regiões, especialmente na Amazônia. Chico Mendes, um aliado verde, participou de diversos encontros, congressos e reuniões, discutindo a possibilidade de filiar-se ao PV e discutir uma vaga para deputado no Estado do Acre nas eleições de 1990. Foi assassinado antes de concretizar seu sonho político.
Em um dos seus discursos, Chico citou nominalmente os criminosos e apontou caminhos para o desenvolvimento da região, sem devastação. Disse: "os seringueiros, os índios e os ribeirinhos há mais de 100 anos ocupam as florestas. Nunca a ameaçaram. Quem ameaça são os projetos agropecuários, os grandes madeireiros e as hidrelétricas, com inundações criminosas."
Chico Mendes ajudou a implantar e a difundir o conceito de "reserva extrativista". Dizia ele: "A reserva deveria utilizar a selva de forma racional, sem destruí-la, oferecendo condições aos seringueiros para comercializar e até industrializar os seus produtos, sem intermediários".
Durante o 1o.Encontro Nacional dos Seringueiros, Chico Mendes apresentou o manifesto "União dos Povos da Floresta", que conclamava à união das forças dos índios, trabalhadores rurais e seringueiros em defesa e preservação da Floresta Amazônica e das reservas extrativistas em terras indígenas.
Além das reivindicações, o documento fazia graves denúncias sobre o massacre dos índios e o desmatamento e teve o efeito de uma bomba, atraindo o interesse de organizações nacionais e internacionais. Vários dirigentes vieram ao Brasil constatar a veracidade das denúncias.
No ano de 1987, a Organização das Nações Unidas (ONU) enviou seus representante, que saíram do Acre convencidos de que algumas providências tinham de ser tomadas para conter os absurdos cometidos contra a Natureza Amazônica e os povos da floresta.
Meses depois, Chico Mendes ganhou o prêmio de destaque Global 500 (único brasileiro a recebê-lo da ONU) e a "Better World Society" lhe outorgou outro prêmio pela defesa do meio ambiente. Um ano depois foi assassinado.
Poucos dias antes de morrer, Chico Mendes declarou: "Se descesse um enviado dos céus e me garantisse que minha morte facilitaria nossa luta, então valeria a pena morrer. Mas a experiência me ensinou o contrário. As manifestações ou os enterros não salvarão a Amazônia. Quero viver."
Marcado para morrer - Chico Mendes previu a própria morte. Denunciou as ameaças que vinha recebendo e apontou os nomes dos criminosos. "O fazendeiro Darli Alves da Silva e seu filho Darcy só se entregam à justiça depois de verem o meu cadáver", disse ele em uma entrevista, no dia 9 de dezembro, ao Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. A entrevista foi dada 13 dias antes de Chico ser assassinado, ao jornalista Edílson Martins, e só foi publicada depois do crime.
Chico tinha tanta certeza de sua morte, que declarou ao repórter Randau Marques, do Jornal da Tarde: "Quero apenas que meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços sob a proteção da Polícia Federal do Acre, que de 1975 para cá mataram 5o pessoas como eu, líderes seringueiros empenhados em defender a floresta amazônica e fazer dela um exemplo de que é possível progredir sem destruir. Adeus, foi um prazer.".
As ameaças e as perseguições foram uma constante na vida de Chico Mendes durante todo o ano de 1988. Jurado de morte, ele sabia que por trás de tudo estavam políticos, fazendeiros e exploradores de madeira da floresta. Aliás, o mundo sabia, mas ninguém foi capaz de deter o ódio e a reação furiosa dos incomodados. Chico Mendes, marcado para morrer, alertou todas as autoridades brasileiras, escreveu cartas denunciando, pedindo ajuda e proteção, endereçando-as ao Presidente da República, ao Ministro da Justiça e ao Delegado Chefe da Policia Federal.
Era quinta-feira do dia 22 de dezembro de 1988 e faltavam 15 minutos para as seis horas da tarde, Chico Mendes avisou aos seus guarda-costas, dois soldados da PM, que ia tomar banho. Estava escuro e ele voltou para pegar uma lanterna. Mal pós os pés no quintal, um tiro de escopeta, calibre 12, estourou seu peito.
Arrastando-se pelo chão, perdendo muito sangue, Chico murmurou: "Dessa vez me acertaram".
Acabava de morrer o líder dos seringueiros da Amazônia, o defensor dos povos da floresta. O chão do Acre se tingiu de sangue, o Brasil, envergonhado, se cobriu de luto. Assassinando Chico Mendes, na verdade os criminosos deram um tiro no coração da floresta.
15 anos depois - Quinze anos depois, a morte do líder sindical e ecologista Chico Mendes inspira muitas perguntas que continuam sem respostas. Quem matou Chico Mendes? Chico Mendes morreu em vão? O que podemos fazer?
Em abril de 2003, os jornais deram notícias sobre a possibilidade da policia reabrir o caso para investigar detalhes que foram desconsiderados na fase inicial do inquérito. As organizações não-governamentais, que fundaram o Comitê Chico Mendes, solicitaram ao governador do Acre, Jorge Viana, a retomada das investigações. O Secretário de Segurança Pública do Estado, Fernando Melo, prometeu atender o pedido. Na carta entregue ao governador pelo Comitê Chico Mendes, solicitando a abertura do caso, consta: " outros possíveis envolvidos nunca foram sequer investigados e muitos fatos continuam sem respostas".

"Os seringueiros e os índios habitam há muito tempo a região. Os seringueiros vivem do extrativismo, desmatam também para suas culturas de sobrevivência e nunca ameaçaram a Amazônia. Por outro lado, a principal atividade econômica da região continua sendo a extra ti vista: borracha e castanha" Chico Mendes

Na realidade, até hoje, apenas dois dos envolvidos no assassinato foram a julgamento e cumprem pena: o fazendeiro Darli Alves da Silva e seu filho Darcy Alves Pereira. Os assassinos, em 91, foram condenados a 19 anos de prisão. Naquela ocasião, os jurados concluíram que Darcy matou Chico Mendes a mando do pai. Em dezembro de 93, os dois fugiram a penitenciária em Rio Branco (AC) e foram recapturados pela Polícia Federal em 96. Em 99, Darli, o mandante, conquistou o direito de cumprir a sua pena em prisão domiciliar e Darcy, o matador, em regime semi-aberto (no Presídio da Papuda, em Brasília).
Quinze anos depois surge uma nova testemunha, que diz saber da existência de outros participantes (fazendeiros, policiais, madeireiros, etc) envolvidos na trama O comitê Chico Mendes afirma que Jader Pereira, o "Mineirinho", pronunciado no processo como co-autor do assassinato, jamais foi preso e continua foragido. Pesam sobre ele inúmeras suspeitas, dentre as quais o envolvimento com o narcotráfico, na fronteira da Bolívia com o Brasil.
Lamentável, mas chega-se a conclusão de que os verdadeiros mandantes do assassinato de Chico Mendes não foram punidos. Como ainda estão impunes os mais de mil crimes registrados nos últimos anos, todos cometidos contra as vidas de dirigentes sindicais, militantes da esquerda, advogados, sacerdotes e índios da Amazônia. A pergunta não quer calar: a morte de Chico Mendes foi em vão? Não há certeza se a resposta é sim ou não. É certo que seu assassinato atraiu a atenção internacional sobre a destruição da Amazônia e sobre a violação dos direitos humanos. Não há duvidas de que a morte de Chico serviu para diminuir a impunidade absoluta que reinava no Acre. Também é do conhecimento de todos que sua morte possibilitou a criação das Reservas Extrativistas, oficialmente transformadas em lei.
Por outro lado, não podemos negar, a resposta também passa pela análise da realidade atual. Hoje, diminuiu consideravelmente o número de seringueiros e a floresta está cada vez menor. Muitos trabalhadores da região, sem qualquer alternativa, acabaram por atuar na extração de madeira, atraídos e patrocinados por empresários gananciosos e criminosos. Outros tantos partiram para a pecuária, desertificando imensas áreas de terras pensadas para a reforma agrária, para o extrativismo, transformadas em pastos. A extração de madeira predatória agrava a situação. E os seringueiros que ainda resistem estão cada vez mais empobrecidos.
Infelizmente o governo ainda não implantou uma política destinada a subsidiar a borracha amazônica, agregando o seu valor ecológico. Sem esta política o produto da Amazônica continua incapaz de competir com plantações mais bem localizadas e com as importações, tomando-se comercialmente inviável. As Reservas Extrativistas entraram em crise e agonizam, pois seus produtos são vendidos a preços infinitamente baixos em um mercado desigual, não oferecendo vida digna aos seus habitantes.
Chico Mendes morreu e a economia continua investindo e apostando contra a ecologia. Sem apoio, os seringueiros se desmobilizaram, outros movimentos e ganhos sociais retrocederam, voltando à estaca zero. Ninguém conseguiu sufocar as ações dos devastadores e dos predadores da floresta amazônica. Os direitos humanos continuam a ser violados.
Isso tudo sem contar com os incêndios criminosos que descaracterizam a Amazônia, prejudicando os povos da floresta, causando irrecuperáveis danos ambientais, provocando considerável perda da biodiversidade, alterando os ciclos das águas, aumentando a erosão e a emissão exagerada de carbono.
"Quinze anos depois do assassinato de Chico Mendes, sem entrar no mérito da resposta à pergunta de seu sacrifício ou não em vão, chego à conclusão de que os ideais de sua vida, que o conduziram à morte, continuam hoje mais necessários do que nunca. Apesar de seu assassinato ter fortalecido a luta dos povos da floresta, melhor seria se Chico Mendes estivesse vivo. No entanto, percebo que Chico Mendes continua entre nós. Essa lembrança não há tiro que mate! Seus ideais continuam mais vivos do que nunca.".

"Só na minha região, de 1970 a 1975, foram destruídas pelo fogo e pelas motosserras 180 mil árvores seringueiras, 80 mil castanheiras e mais de 1,2 milhão de árvores de madeira de lei, sem contaras várias espécies de árvores medicinais que foram devoradas e transformadas em pastagens". Chico Mendes

Ficou a esperança
André do PV - Presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj
Parece mesmo que foi ontem. Mas se passaram quase 15 anos do martírio daquele homem amazônico que o mundo aprendeu a respeitar. Faltando poucos minutos para as seis horas da tarde de quinta-feira, 22 de dezembro de 1988, Chico Mendes foi assassinado por um tiro de escopeta, que deixou seu peito com mais de 40 perfurações de chumbo. A terra inteira chorou um longo e sentido pranto.
Planos, projetos e promessas afirmaram que o triste exemplo do assassinato de, Chico Mendes serviria para redimir, de vez, os seringueiros de toda a Amazônia. Infelizmente, o passar de dias e noites nos mostra que só ficou a esperança.
Os trabalhadores continuam a extrair um produto comercialmente inviável, sem subsídios governamentais. Muitos transformam-se mais e mais em miseráveis e outros se dirigem ao antes impensável: lidar na atividade madeireira. Contudo, a ação política que Chico Mendes começou tem que ser continuada, pelos tempos que virão. É uma luta persistente que, como ele dizia, pode nos aparecer até na forma de sonhos e utopias. E deles e delas, quem um dia não viveu?

A morte pela vida
Olavo Rufino
A minha relação com a floresta vem desde a infância. Aquibadá é o nome da comunidade seringalista, situada a 1300 km de Manaus, onde eu e meus onze irmãos nascemos e fomos criados. Subir em árvores, - andar de canoa, comer frutas e pescar foram momentos ingênuos de uma vida em que o recreio e a sala de aula eram a floresta. De fotografia, passei a gostar na adolescência, quando minha família se transferiu para Manaus. Mais tarde, tornei-me profissional e nunca mais parei. De lá para cá, foram inúmeras experiências marcantes em minha carreira. Uma delas aconteceu em 1988, quando fui escalado, pelo jornal do Brasil, para cobrir o velório e mais tarde, o julgamento dos assassinos do líder sindical Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, em Xapuri, no Acre. Durante dois meses, adotei aquela comunidade como minha "residência". Foram dias de muita correria e o ritmo era intenso por causa de diferença de fuso horário com relação ao Rio de Janeiro: eu fotografava revelava o filme selecionada as melhores fotos e transmitia tudo com três horas a menos, sempre concorrendo com a TV. Apesar do clima tenso, o resultado foi exatamente positivo, tanto pessoal quanto profissionalmente. Já havia fotografado conflitos de greves, violência na Baixada Fluminense, enchentes, Copa do Mundo e posses presidenciais mas, certamente, nenhuma dessas coberturas em comoveu tanto quanto os dias em que "morei" em Xapuri.
Conheci Chico Mendes em 1988, quando de sua passagem pelo Rio de janeiro. Naquela época, o líder sindical já estava sofrendo ameaças por parte dos fazendeiros. Ainda assim, não se intimidava. A morte não apenas fora cumprida, mas anunciada para ele, que dedicou praticamente toda a sua vida à defesa dos trabalhadores e dos povos da floresta. Chico participou da fundação dos sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Xapuri, além da fundação do Partido dos Trabalhadores do Acre e do Conselho Nacional dos Seringueiros. Teve seu trabalho reconhecido internacionalmente, sendo várias vezes premiado, inclusive pela ONU, que o destinguiu como um dos mais importantes defensores da natureza no ano de 1987.
Chico também lutou pela implantação de reservas extrativistas e defendeu a floresta contra o desmatamento e as queimadas, contrariando grandes interesses, principalmente os dos latifundiários e da UDR. Foi acusado várias vezes, por fazendeiros e políticos, de prejudicar o progresso do estado do Acre, uma vez que, em razão de suas denúncias, os financiamentos haviam sido suspeitos pelo Banco Mundial. Em visita a Xapuri, os membros da ONU, puderam ver de perto a devastação.
0 impacto de sua morte revelou ao mundo o caráter de um homem de extrema sabedoria, que vivia com a simplicidade de seringueiro e defendia a união dos povos da floresta e que, com uma visão crítica do progresso, revelava para a opinião pública as mazelas dos grandes latifundiários e políticos deste país.
É esse homem que merece a nossa homenagem.

JB, 08/12/2003, p. 42-47 (JB Ecológico)

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