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O controle do aquifero

OESP, Notas e Informacoes, p.A3
04 de Mai de 2004

O controle do aqüífero
Uma licitação internacional começa a ser preparada para selecionar as empresas que farão os estudos hidrogeológicos que servirão de base para o Projeto de Proteção Ambiental e Manejo Sustentável do Aqüífero Guarani, o maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo. Até 2007, os governos do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina esperam contar com um modelo de gestão conjunta e preservação do sistema. Pela primeira vez, um grupo de países da América do Sul age de forma preventiva para proteger lençóis hídricos transfronteiriços.
O Projeto de Proteção Ambiental e Manejo Sustentável do Aqüífero Guarani exigirá investimentos de US$ 26,7 milhões, dos quais praticamente a metade virá do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), gerido pelo Banco Mundial.
O restante será formado pela contrapartida dos quatro países que compartilham o aqüífero e pela participação de outras organizações internacionais. Detentor de 71% do sistema, o Brasil investirá US$ 6,6 milhões. As unidades locais do projeto, integradas por funcionários de cada um dos países, escolheram a Organização dos Estados Americanos (OEA) como agência executora da iniciativa.
O Aqüífero Guarani tem área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e é considerado um recurso de água doce estratégico para o Cone Sul. Na região onde está localizado o sistema, vivem 15 milhões de pessoas e as perspectivas são de uma crescente demanda provocada pelo aumento demográfico e pelo desenvolvimento industrial. Evitar a extração descontrolada e a poluição das águas são medidas necessárias e urgentes para que, no longo prazo, haja condições de manter suprimento sustentável de água para consumo humano, produção industrial e para as estâncias hidrominerais da região, entre outros usos.
Pouco conhecido do ponto de vista científico, o aqüífero já suporta grande demanda. Somente na cidade de São Paulo, 60% da população (5,5 milhões de pessoas) depende das águas do sistema. No Estado de São Paulo, 300 cidades extraem as águas do Guarani para abastecimento público. No Paraná, outros 50 municípios usam a mesma fonte.
Dados do Laboratório de Pesquisas Hidrogeológicas da Universidade Federal do Paraná, publicados pelo jornal Valor, revelam que a cidade de Ibiporã, no Paraná, captava, até 2001, 620 metros cúbicos de água por hora do Ribeirão Jacutinga. Naquele ano, dois poços foram perfurados no município que, localizado na região do aqüífero, passou a contar, a cada hora, com 1.150 metros cúbicos de água limpa a custo baixo. A água dos poços exige apenas resfriamento e cloração preventiva.
Mas essa prática, sem o devido plano de gestão, tem os seus riscos. Em Cianorte, no Paraná, um poço de 1,1 mil metros de profundidade ultrapassou o aqüífero e a água extraída apresentou 1,5 mg/l de flúor. O limite máximo para consumo humano é de 0,2 mg. Malconduzida, a extração provoca a poluição do sistema.
Merece reconhecimento a iniciativa dos quatro países de instituir normas técnicas e institucionais comuns, numa ação preventiva e não para remediar um desastre ecológico ou uma crise de abastecimento. Apesar de os recursos hídricos serem aparentemente abundantes na América do Sul, a água potável não é farta e precisa ser preservada.
OESP, 04/05/2004, p. A3

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