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O caminho contra o rodízio

FSP, Cotidiano, p. C8
23 de Abr de 2015

O caminho contra o rodízio
Água para 'socorrer' o Cantareira e evitar torneiras secas em 2015 passará por sítios, 'praias' e um pequeno riacho da Grande SP

FABRÍCIO LOBEL DE SÃO PAULO

Um estreito e raso córrego escondido em meio a um matagal será o caminho da água que, na visão do governo paulista, livrará a Grande São Paulo de um rodízio em 2015.
É por esse riacho, no lado leste da região metropolitana paulistana, que irão passar cerca de 4.000 litros de água retirados a cada segundo do reservatório do Rio Grande.
Esse volume será puxado da represa e correrá por 11 km de novas adutoras até desembocar neste córrego, o Taiaçupeba Mirim. O deságue é numa área rural de Ribeirão Pires, no ABC paulista. A partir desse ponto, o riacho que chega a ter um metro de largura e 38 cm de profundidade ficará cheio e levará a água até represas do sistema Alto Tietê.
Segundo o governo Geraldo Alckmin (PSDB), o projeto tem viabilidade técnica e ambiental. Mas quem mora do lado do córrego duvida.
"Você pode anotar que nós vamos sofrer aqui. Qualquer chuva já alaga o córrego", diz Carlos Gomes, 52, mostrando a marca da última enchente no muro de casa.
Ao transferir água do Rio Grande ao Alto Tietê, a Sabesp espera que esse segundo manancial possa permanecer cheio e, com isso, empurrar um volume excedente para socorrer o Cantareira, o maior sistema da Grande SP e que corre o risco de colapso na temporada de seca.
Com o Cantareira socorrido, a capital estaria livre de um rodízio até outubro, quando as chuvas devem voltar.
BOMBAS FLUTUANTES
A obra começa no limite dos municípios de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, onde serão montadas quatro bombas flutuantes, como aquelas usadas para captar água do fundo das represas (volume morto) do Cantareira.
Essa água captada vai até uma estação elevatória (que ainda será construída) e, de lá, será bombeada.
Vizinha da futura estação, Luzinete Souza, 61, teme que a intervenção altere o cenário de onde mora há 23 anos. Teme ainda que a obra espante turistas que vão a um açude ao lado da represa para fazer churrasco, mergulhar e consumir em seu pequeno bar.
"Em dias de calor isso parece até uma praia, vem gente de todo canto", disse.
A partir da estação elevatória, a água será bombeada por duas adutoras de 1,2 metro de diâmetro, que seguirão pelo caminho de 11 km --o primeiro trecho será submerso ao longo do rio Grande.
Alguns quilômetros depois, as adutoras serão assentadas no chão. E, um pouco mais adiante, percorrerão uma extensa faixa descampada onde estão enterrados dutos de gás da Petrobras.
O governo de SP escolheu "acompanhar" a faixa da Petrobras para evitar a necessidade de desapropriações.
Segundo a Sabesp, sempre que a adutora encontrar uma estrada ou propriedade privada ela será enterrada.
Uma das áreas privadas no caminho é o sítio do comerciante Daniel Naves, 49, na cidade de Ribeirão Pires.
"Se não enterrar, eles vão matar minha propriedade."
A 300 metros do sítio, os dutos terão que transpor o maior obstáculo: um morro 80 metros acima do ponto de captação e com forte inclinação.
Os vizinhos ainda não sabem que a obra que pode evitar um rodízio passa por ali. "A obra tem o impacto do maquinário, e a gente não fica sabendo de nada com antecedência", diz Anderson Davi, 36, ao lembrar da obra que instalou os dutos da Petrobras cinco anos atrás.
Superado o morro, o caminho é só de descida por 2 km, até chegar a um pasto usado por cavalos onde está o córrego Taiaçupeba-Mirim.

FSP, 23/04/2015, Cotidiano, p. C8

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/216982-o-caminho-contra-o-ro…

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