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O Brasil precisa de Belo Monte - Resposta da Eletronorte para Célio Bermann

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Autor: Equipe Técnica da Eletronorte
17 de Abr de 2002

Em relação ao artigo "O Brasil não precisa de Belo Monte", escrito pelo professor Célio Bermann e publicado em 11.04.2002, gostaríamos de registrar os seguintes comentários:
Segundo as projeções do Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos - CCPE, o mercado de energia elétrica do Sistema Interligado Brasileiro crescerá a taxas da ordem de 5% ao ano. Isso implica a necessidade de ampliação da capacidade instalada em cerca de 4.000 MW ao ano, considerando o qüinqüênio 2006-2010. Para fazer frente a esse crescimento de mercado, deverão ser construídos no Brasil novos empreendimentos hidrelétricos e termelétricos. O único aproveitamento hidrelétrico da Bacia do Rio Xingu em estudo de viabilidade é o Complexo Hidrelétrico Belo Monte, que tem o nome de complexo por ser constituído de duas casas de força, uma principal, com 11000 MW, e outra, complementar, com 181 MW.
Potencial
Atualmente, 50% do potencial hidrelétrico brasileiro encontram-se na Amazônia, sendo que somente 5% estão aproveitados. Caso não se utilize o potencial hidroenergético da Amazônia, economicamente e ambientalmente viável, será necessária a implantação de usinas térmicas utilizando combustíveis fósseis e usinas nucleares para suprir as necessidades energéticas brasileiras.
Além do custo da energia de origem térmica ser superior, uma expansão com base em usinas termelétricas provocaria impactos significativos na balança de divisas brasileira, tendo em vista que tanto os equipamentos principais quanto os combustíveis são importados. Acrescenta-se que a emissão de CO2 pelas usinas termelétricas é muitas vezes superior à emissão de gases pelo reservatório da hidrelétrica de Belo Monte, se considerarmos a energia gerada equivalente.
Segundo os Estudos de Viabilidade recentemente concluídos pela Eletronorte, a usina de Belo Monte, com 11.181 MW de potência instalada, acrescentará ao Sistema Interligado Brasileiro 4.796 MW médios de energia firme, o que representa um fator de capacidade de 43%. Todas as usinas hidrelétricas brasileiras apresentam fator de capacidade que variam entre 40% e 60%.
Custo
É importante ressaltar que não se deve determinar o custo da energia gerada por uma usina hidrelétrica através do seu fator de capacidade. O fato de se ter um fator de capacidade alto ou baixo não significa dizer necessariamente que uma usina hidrelétrica é cara ou barata. Fator de capacidade não é índice que mede custo.
A usina de Belo Monte, por exemplo, caracteriza-se como o empreendimento hidrelétrico brasileiro mais competitivo a ser implantado nos próximos 10 anos no cenário energético nacional. Esse custo é de 12,4 US$/MWh (sem considerar o sistema de transmissão associado) ou de 20,5 US$/MWh (se considerarmos o custo da usina associado ao custo do sistema de transmissão).
Os Estudos de Viabilidade de Belo Monte demonstraram a expressiva viabilidade técnica e econômica dessa usina, mesmo sem considerar os possíveis benefícios da regularização de outros reservatórios que possam ser construídos a montante. A interligação elétrica de Belo Monte com outras usinas do Sistema Interligado Brasileiro também possibilita a regularização da energia de Belo Monte, sem a necessidade da construção de grandes reservatórios no rio Xingu a montante de Belo Monte para torná-la viável.
Sistema Interligado
O chamado Sistema Interligado Brasileiro apresenta características próprias raramente encontradas em outros países. Dentre elas, a mais importante é aquela que permite que seus diversos sub-sistemas ajudem-se mutuamente, dando origem à estratégia de operação centralizada, muitas vezes comparada a um condomínio.
Segundo essa estratégia, pode-se gerar intensamente nos sub-sistemas que, em um dado período, estejam em condições hidrológicas favoráveis e enviar parte dessa energia para os demais sub-sistemas, conseguindo-se com isso aumentar o estoque de água (energia armazenada) nestes últimos, sem prejuízo para a qualidade do atendimento.
Dessa forma, a implantação de aproveitamentos com grande potencial de geração, como o de Belo Monte, apresenta considerável vantagem, visto que, além de suas produções locais, os mesmos proporcionam, face à estratégia de operação condominial, efeito semelhante à implantação de vários reservatórios (ainda que, conforme ocorre efetivamente com Belo Monte, não possuam reservatório de acumulação).
Fontes alternativas
Fontes de geração alternativas, tais como as pequenas centrais hidrelétricas, a energia eólica, a biomassa, a energia solar, etc., são importantes e o seu desenvolvimento deve ser incentivado. Entretanto, essas alternativas serão apenas complementares à geração tradicional, e não podem ser consideradas como soluções para a expansão do sistema interligado no médio prazo.
A construção de 982 pequenas centrais hidrelétricas como opção à Belo Monte, conforme é sugerido no artigo, certamente causará impacto ambiental negativo superior à Belo Monte. Enquanto este empreendimento, com 11.181 MW de potência instalada, apresenta um reservatório com área de 440 km2, as 982 pequenas centrais hidrelétricas, considerando cada uma com reservatório de 3 km2, inundarão um total de 2.946 km2 de área, ou seja, quase 7 vezes maior que Belo Monte.
A geração eólica, viável apenas no litoral do Brasil, apresenta-se como uma alternativa também interessante de complementação energética. Entretanto, essa fonte de energia ainda apresenta custo bastante superior ao da geração hidrelétrica (da ordem de 60 US$/MWh) e um fator de capacidade em torno de 25%, muito mais baixo que o de Belo Monte, pois estão sujeitas aos regimes dos ventos, que não são contínuos e nem constantes. Se para o autor do artigo, um baixo fator de capacidade representa alto custo de geração, então o custo de geração da energia eólica também deveria ter sido considerado extremamente alto, e não "com viabilidade econômica" como ele mesmo descreve.
Finalizando, a redução dos índices de perdas é uma meta que vem sendo perseguida por todas as empresas de energia elétrica do país, tanto estatais, como privadas. Entretanto, há de se levar em conta a relação custo x benefício para a redução das perdas. Se o custo de redução de perdas for inferior ao custo de expansão do sistema, então essa alternativa deve ser adotada.

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