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O biodiesel chega à escala comercial

GM, Energia, p. A9
15 de Abr de 2004

O biodiesel chega à escala comercial

Dedini vai construir primeira usina. A Dedini S.A. Indústrias de Base, um dos maiores grupos fornecedores de máquinas e equipamentos do Brasil, será a fornecedora da primeira usina para a produção comercial de biodiesel no País, o "palmdiesel", como foi batizado. O contrato, cujo valor beira US$ 1 milhão, foi assinado com o Grupo Agropalma, maior processador nacional de óleo de palma, controlado pelo Banco Alpha.

Na primeira fase, a unidade terá capacidade para produzir 8 milhões de litros de biodiesel, mas será construída dentro de uma perspectiva de duplicação. O projeto, ainda pequeno, é tocado pelos empreendedores e pelos pesquisadores como uma vitória da pesquisa e da engenharia nacional, o que levou à decisão de entregar a montagem à Dedini.

O projeto nasceu de um convênio entre a Agropalma e o Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (DEQ/UFRJ). O trabalho gerou uma tecnologia que equipara o custo de produção do biodiesel ao custo do refino do petróleo para a geração do diesel de combustível fóssil.

A UFRJ já depositou a patente no Brasil e se prepara para depositá-la nos EUA, na União Européia e em dois países asiáticos - Malásia e Indonésia, os maiores produtores mundiais de óleo de dendê. O licenciamento da tecnologia para a Agropalma gerará royalties para a universidade, na parcela de 4% do lucro da usina.

(1ª Página1)(Agnaldo Brito)

O biodiesel chega à escala...
Campinas (SP), 15 de Abril de 2004 - Dedini construirá para a Agropalma a primeira usina comercial do País. O valor será distribuído em três partes iguais, entre a universidade, o departamento e os pesquisadores. O principal salto tecnológico, do qual derivou a necessidade de depósito de patente, foi conseguir promover a regeneração dos catalisadores utilizados no processo de conversão dos ácidos graxos (até hoje resíduo do processo de refino do óleo de palma) em biodiesel. Os catalisadores, cujos fornecedores ainda não foram definidos pela Agropalma, permitem que a matéria-prima se condense ao álcool do tipo etanol ou metanol e gere o biodiesel.

Processos semelhantes utilizados em outros países não permitem a regeneração do catalisador, que é perdido, o que torna a produção menos competitiva em relação ao diesel. "Os catalisadores que usamos são semelhantes aos usados nas refinarias de petróleo no Brasil dentro das unidades de craqueamento catalíptico", explica Donato Aranda, professor Ph.D. em engenharia química da UFRJ.

É esta novidade do projeto que permitirá à Agropalma a produção em condições competitivas em relação ao diesel convencional. A estratégia da empresa é, a partir do início da produção do palmdiesel, em Belém (PA), ao lado da usina de refino de óleo de palma, utilizar o combustível para uso dentro da própria Agropalma. Até o final do próximo ano, a empresa pretende concluir todas as conversões de motores movidos hoje com diesel.

Segundo Marcello Brito, diretor comercial da empresa, o processo terá três fases: conversão de geradores, caldeiras e tratares; conversão de caminhões; e conversão de veículos leves. Dos 8 milhões de litros anuais, a empresa consumirá 3 milhões. A previsão da Agropalma é que a economia com combustível chegue a R$ 1,5 milhão por ano. Mas os ganhos para o grupo serão maiores. O excedente será comercializado no mercado e esta é a principal intenção da empresa, o fator que levará o biodiesel de um mero experimento para o consumo em larga escala. Guardadas as diferenças, o programa do biodiesel não deixa de ser um novo Pró-Álcool.

A legislação brasileira, por enquanto, permite apenas comercialização deste tipo de combustível para empresas com frotas cativas. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) baixou a portaria 255 em setembro do ano passado na qual define o padrão do biodiesel brasileiro. Somente o mercado formado por frotistas deverá consumidor toda a produção da Agropalma. Para se ter uma idéia da demanda por este tipo de combustível, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) já demonstrou interesse por esta solução, segundo Aranda.

Sozinha, a Vale consome 2% do diesel vendido no Brasil, que no ano passado alcançou a marca de 36 bilhões de litros. Volume que obriga o País a importar petróleo para refino ou mesmo o diesel como produto acabado. "Não acho que o biodiesel seja capaz de mudar substancialmente a matriz energética brasileira, mas a solução conserva em si benefícios muito importantes, como os aspectos ambientais, a estruturação de uma atividade econômica importante para segurar o homem no campo", diz Aranda.

A decisão de duplicar a primeira usina depende exclusivamente da "resposta do mercado". Para isso, explica Aranda, a ANP precisa homologar o combustível, o que abriria a possibilidade de este ser distribuído a partir da rede de postos. A previsão da Agropalma é vender o produto com preço equivalente ao do diesel convencional, embora os estudos indiquem um custo de produção menor. "Há alguns benefícios para o produto em relação ao diesel, como o fato de não ser poluente, ser renovável, estar numa cadeia auto-sustentável", afirma Brito.

A produção total de palma da Agropalma em áreas próprias e em áreas contratadas junto a parceiros do estado do Pará chegará a 170 mil toneladas de óleo de palma em 2008. Isso já justificaria, segundo Brito, a montagem de uma segunda usina de refino, e conseqüentemente a duplicação da usina de biodiesel. Para este ano, a capacidade de refino do óleo, de onde a empresa extrai 36 frações diferentes, é de 110 mil toneladas por dia. A geração destes diversos subprodutos do dendê para atender aos mercados de alimentos, químico, siderúrgico, têxtil e cosmético gerou no ano passado um faturamento de R$ 270 milhões para o grupo, que abriga cinco empresas agrícolas e uma refinaria.

Pólo de biocombustível

A Dedini tem um segundo motivo para comemorar, além de ter vencido a concorrência para a construção da usina, que incluiu uma empresa internacional. O presidente Lula assinou um protocolo de intenções em que se compromete a viabilizar a instalação do Pólo Nacional de Biocombustíveis em Piracicaba, no interior de São Paulo. "A escolha de uma empresa como a Dedini para fornecer a primeira usina de biodiesel do País avaliza a condição tecnológica da região de Piracicaba na área de biocombustível", diz José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da Dedini.

A Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq), que coordenará a implantação do pólo nacional em Piracicaba, ainda aguarda a assinatura do convênio e a indicação do superintendente que executará a tarefa de instalação da estrutura. Isso ainda não ocorreu. O pólo fará um levantamento nacional sobre todos os projetos de biocombustível, e traçará estratégias para incentivar iniciativas regionais.

GM, 15/04/2004, Energia, p. A1 e A9

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