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O aquecimento é global, mas o impacto é local

O Globo, Eco Verde, p. 40
Autor: VIEIRA, Agostinho
22 de Dez de 2011

O aquecimento é global, mas o impacto é local

Agostinho Vieira

A falta de decisões concretas e de ações práticas na conferência do clima de Durban, na África do Sul, teve pelo menos uma grave consequência: o aquecimento global deve superar a barreira dos dois graus Celsius, considerada tolerável pela maior parte dos cientistas. Com isso, não basta mais mitigar efeitos, reduzir emissões. Ações importantes, mas inúteis quando o nível dos oceanos subir. É preciso adaptar as cidades ao inevitável.

Num cenário mais provável, de acordo com o professor de engenharia costeira da Coppe Paulo Rosman, o nível do mar subiria meio metro. No pessimista, ele chegaria a um metro. O que representaria uma perda entre 10 e 20 metros na faixa de areia de praias como Ipanema, Leblon e Arpoador. Nada que um investimento de R$ 20 milhões ou R$ 30 milhões não resolva, lembra o professor. O problema está na Baixada Fluminense.

As populações que vivem próximas aos rios no entorno da Baía de Guanabara seriam as mais atingidas. Algumas obras do PAC na região já consideram um aumento no nível da baía. Por outro lado, não existe estudo detalhado ainda sobre os impactos do aquecimento na Baía de Sepetiba, onde estão sendo instaladas várias indústrias e um porto.

O economista Sergio Besserman lembra dois problemas muito conhecidos dos cariocas que devem se agravar: as enchentes e a dengue. O aquecimento provoca chuvas mais fortes e mais frequentes. Com o nível do mar elevado, o escoamento fica prejudicado. Obras antes consideradas caras, como o piscinão da Praça da Bandeira, passam a fazer sentido. Já a dengue, comum entre novembro e abril, faria parte da paisagem o ano todo.Fruto de temperaturas mínimas mais altas e de um maior volume de chuvas. Ou seja, o aquecimento global que deixa as salas refrigeradas das conferências mundiais e começa a esmurrar as nossas portas.

Guerra das cisternas
Cerca de 15 mil pessoas se reuniram esta semana em Juazeiro, na Bahia, para protestar contra as mudanças na política de construção de cisternas no semiárido. Lançado no início do governo Lula, em 2003, o plano previa a entrega de um milhão de unidades em uma das regiões mais pobres do país. O projeto estava com a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), ONG do Nordeste. O governo decidiu não renovar o contrato e repassar o dinheiro aos municípios. Até agora haviam sido entregues 371 mil cisternas, feitas de placas de cimento. As novas devem ser de plástico e, segundo a ASA, vão custar o dobro do preço. Essa guerra já inclui protestos formais da CNBB contra a decisão.

Assentamento
Volta e meia surgem informações de que agricultores sem-terra assentados pelo Incra em terras da Amazônia estariam envolvidos com desmatamento e pecuária extensiva. Agora, uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), com o apoio do BNDES, através do Fundo Amazônia, espera desenvolver os primeiros assentamentos sustentáveis. Serão dez áreas, com 2,8 mil famílias e 260 mil hectares. Num prazo de cinco anos, o projeto espera suprir as necessidades de apoio técnico para a adoção de práticas ambientalmente corretas de cultivo, recuperação e manutenção de florestas e desenvolvimento de mercado.

O Globo, 22/12/2011, Eco Verde, p. 40

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