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O ano da canícula

FSP, Editoriais, p. A2
22 de Jan de 2015

O ano da canícula
Sucessivos recordes de calor aproximam as mudanças climáticas da vida cotidiana; países precisam chegar a um acordo para evitar o pior

No ano passado, os moradores de São Paulo enfrentaram o mês de janeiro com as temperaturas mais altas em 70 anos. Em 17 de outubro, viram os termômetros marcarem abrasadores 37,2oC, índice mais elevado já registrado na cidade.

Embora sejam fenômenos locais e isoladamente não digam muito, um paulistano bem-humorado talvez recorresse ao bordão "eu já sabia" ao ser informado de que 2014 foi o ano mais quente da história.

O resultado foi divulgado pela Nasa, agência espacial americana, e pela Noaa, órgão do governo dos Estados Unidos dedicado aos oceanos e à atmosfera. O cálculo combinou dados de 6.300 estações meteorológicas e medições realizadas nos mares e em estações de pesquisa na Antártida.

Com isso, são cada vez mais consistentes as evidências sobre a mudança do clima mundial. Em todos os anos desde 1976, por exemplo, a temperatura do planeta esteve acima da média histórica do século 20 (13,9oC). Além disso, com a exceção de 1998, os dez anos mais quentes a partir de 1880, quando começaram os registros, ocorreram todos neste século 21.

A velocidade e a gravidade do fenômeno ainda são motivo de debate --não se conhece muito bem o papel de alguns fatores naturais, como o comportamento dos oceanos. Mas não há dúvida de que o aquecimento global está em curso, e de que a causa mais preponderante é o aumento das emissões de gases do efeito estufa, como o CO2.

A principal forma de prevenção à vista, porém --um corte drástico na liberação desses gases na atmosfera--, esbarra em complexas e quase sempre infrutíferas negociações internacionais.

Verdade que avanços como o acordo entre os EUA e a China e a carta da 20ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (COP-20), em Lima, trouxeram alguma esperança. Mas também é fato que não houve grandes definições sobre os principais compromissos a serem assumidos pelos diversos países.

Por isso, neste ano, as atenções estarão voltadas para a COP-21, em Paris. O encontro tem a dificultosa missão de produzir entre as nações um consenso capaz de evitar que a temperatura da atmosfera da Terra aumente mais de 2oC neste século, limiar além do qual a mudança climática pode provar-se perigosa, com frequência maior de desastrosos eventos climáticos extremos.

O cenário que se projeta é pouco refrescante. Acredita-se que 2014 não será o último ano a bater recordes de calor --terá sido apenas um em uma série de décadas quentes.

Considerada a canícula das primeiras semanas de 2015 em São Paulo, onde a média de temperatura está acima da do ano passado, os paulistanos certamente concordarão com a afirmação.

FSP, 22/01/2015, Editoriais, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/204961-o-ano-da-canicula.shtml

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