VOLTAR

Núcleo de Formação Superior Indígena inicia aulas

Brasil Norte-Boa Vista-RR
27 de Jun de 2003

A Universidade Federal de Roraima (UFRR), por meio do Núcleo de Formação Superior Indígena (Insikiran), iniciará nesta terça-feira, dia 01 de julho, a aula inaugural do curso de Licenciatura intercultural para professores Indígenas.
A primeira turma será de 60 alunos que, conforme o projeto pedagógico, terá como objetivo de criar referenciais metodológicos de ensino superior voltado às especificidade culturais dos povos indígenas.

O curso de Licenciatura irá qualificar, num prazo de cinco anos, professores que já atuam nas escolas indígenas do Estado de Roraima.
O projeto foi iniciado devido a contextualização territorial em que a UFRR está inserida, agrega um vasto cenário cultural, imprescindível na compreensão do mundo presente e na construção de novos conhecimentos.
Esta realidade passa a ser concebida na prática, por meio da organização dos professores indígenas de Roraima, ao trazerem para a Universidade suas demandas no campo da educação escolar.

Projeto
O projeto surgiu, em 2000, a entrega de um proposta da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR) de criação de cursos de formação superior para professores e estudantes indígenas, bem como de criação de um espaço específico para tratar desta formação.
Neste ano, a UFRR participou dos encontros e seminários realizados pela OPIR, resultando na criação de uma Comissão de professores que se engajou no estudo da proposta apresentada, redimensionando-a e tornando-a um documento que serviu de orientação para a criação de uma política pedagógica de ensino voltado para a formação superior indígena.

Dinâmica de trabalho
Neste cenário de participação e criação de um novo relacionamento da UFRR com os povos indígenas de Roraima, foi criada uma dinâmica de trabalho de caráter Interinstitucional visando a criação e implementação de uma política pedagógica indígena na UFRR.
Assim, em 19 de dezembro de 2001 foi aprovado, pelos Conselhos da UFRR o Projeto do Núcleo Insikiran de Formação Superior Indígena. A partir de então, criou-se um espaço pedagógico com o objetivo de criar referenciais metodológicos de ensino superior voltado às especificidades culturais dos povos indígenas.

O Núcleo Insikiran trabalha com as seguintes parcerias: Fundação Nacional do Índio, Funai, Divisão de Educação Indígena, da Secretária de Educação do Estado (DEI), Organização de Professores Indígenas de Roraima (OPIR), Conselho Indígena de Roraima, CIR, Associação dos Povos Indígenas de Roraima (APIRR) e Organização das Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR). É neste espaço de diálogo Interinstitucional que se elabora o Projeto do Curso de Licenciatura Intercultural. Internamente o Núcleo vem desenvolvendo atividades pedagógicas voltadas para a formação do professor indígena e do professor formador, as quais têm como eixos norteadores os princípios que regem o Curso: transdiciplinaridade, interculturalidadde e pedagogia de projeto.

Neste campo de discussão, o desenvolvimento de pesquisas voltados às áreas de concentração do Curso, é uma prioridade a ser trabalhada. Atualmente o Núcleo possui um grupo de pesquisa registrado no CNPq, qual seja: Estudos Indígenas: Cultura, Identidade e Educação. As linhas de pesquisa são: Arte e Comunicação, Interculturalidade e Educação Indígena, Meio Ambiente e Autosustenção. No momento, participam do Núcleo 15 professores de diversas áreas (Letras, Lingüistica, Matemática, Química, Física, Biologia, Ciências Sociais, História, Geografia, Geologia, Arqueologia), os quais vêm dialogando com profissionais de outras universidades e Instituições de ensino que trabalham com formação de professores indígenas e com a construção de novos parâmetros curriculares interculturais e bilíngües para as escolas indígenas.

Vestibular Intercultural
Para consolidar o projeto foi realizado no dia 19 de fevereiro de 2003, na Universidade Federal de Roraima, uma experiência inédita para a nossa instituição e para as universidades federais brasileiras: pela primeira vez professores indígenas prestaram um vestibular diferenciado para ingresso no ensino superior.
Concorreram ao Vestibular Intercultural 237 professores, pertencentes aos seguintes povos: Macuxi, Wapichana, Taurepang, Y´ecuana, Ingaricó e Wai-Wai. Esses professores se submeteram a um concurso de três etapas: a primeira constava de uma redação, a segunda, de uma entrevista e a terceira, era constituída da análise curricular. As duas primeiras tinham caráter eliminatório e a terceira, classificatória.

Na primeira fase, os temas da redação versaram sobre a educação e as línguas indígenas. O candidato podia optar em escrever a redação em língua portuguesa ou indígena (makuxi, wapichana, taurepang, y´ekuana e wai-wai). Nessa primeira etapa foram aprovados 120 candidatos.
A segunda etapa do concurso foi uma entrevista, que também podia ser feita em língua portuguesa ou indígena. Na entrevista, foram abordadas questões relativas à experiência do professor, aos problemas enfrentados em sala de aula, a sua relação com a comunidade, a sua compreensão sobre aspectos da interculturalidade e às expectativas em relação ao curso que pleiteavam. Nesta etapa, 80 professores foram aprovados.

A terceira e última fase do concurso serviram para a classificação final dos 60 professores. Nessa fase, o currículo foi objeto de avaliação e os critérios foram definidos com a participação das comunidades, das lideranças e das organizações indígenas. Eram os seguintes os critérios de pontuação: a) ter cursado magistério; b) ser professor em efetivo exercício; c) falar/escrever em uma língua indígena; d) tempo de serviço em escolas indígenas e; e) cursos e eventos dos quais participou. O quadro dos aprovados ficou constituído pelos seguintes povos: Macuxi, Wapichana, Wai-wai, Y´ecuana, Taurepang e Ingaricó, distribuídos nas seguintes regiões: Serra da Lua, Serras, Raposa, Baixo Cotingo, Serra do Sol, Jatapuzinho, Taiano, Surumu, São Marcos e Alto Parima

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.