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Novo retrato dos índios no Brasil

A Gazeta - Vitória - ES
Autor: Maura Campanili - Agência Estado
01 de Abr de 2001

A população indígena brasileira, nos últimos cinco anos, cresceu em um ritmo de 3,5% ao ano, muito mais do que a média de 1,6% estimada para a população em geral no país. Representam cerca de 350 mil pessoas, ou 0,2% da população, mas conseguiram avançar no reconhecimento oficial de suas terras e têm o usufruto exclusivo de áreas que somadas eqüivalem a 12% do território nacional. Essas informações fazem parte do livro Povos Indígenas no Brasil 1996/2000, que será lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA) amanhã. A publicação faz parte de uma série iniciada em 1980 e traz um retrato abrangente do que aconteceu com os índios brasileiros entre 1996 e 2000, através do trabalho de uma equipe de pesquisadores, coordenada pela antropóloga Fany Ricardo, além de mais de 200 colaboradores voluntários. O clima geral desta edição - um calhamaço de 832 páginas - é otimista, segundo o editor responsável, Carlos Alberto Ricardo. "Quando começamos a pesquisar o tema, no início dos anos 70, dados apresentados por Darcy Ribeiro atestavam que, somente na primeira metade do século XX, 83 povos nativos desapareceram do mapa do Brasil e a tendência demográfica decrescente dos índios, iniciada em 1500, continuava tragicamente firme. A previsão era de que iriam desaparecer definitivamente em conseqüência da implantação do Plano de Integração Nacional e da ocupação do interior do país pelas frentes econômicas, no rastro de estradas e obras de infra-estrutura. Nesses 30 anos, porém, não foi isso que aconteceu", diz o antropólogo. Mas, embora a população esteja crescendo, a diversidade de povos oscila. Das 216 etnias indígenas contemporâneas no Brasil, 12 estão em extinção, com população entre 2 e 38 indivíduos. "Essa perda é irreparável, pois é uma parte da história e cultura da humanidade que não se recupera. Por outro lado, povos considerados extintos estão retomando sua identidade e reaparecendo, como várias comunidades no Nordeste", explica Ricardo. "No Acre, em 1975, o governo não reconhecia a existência de índios. Hoje, há muita terra indígena demarcada. Esses índios não foram fabricados. Estavam mimetizados em seringais decadentes, escravizados por dívidas. Na medida em que tiveram apoio, se reencontraram como povo", diz. Por conta disso, a capa do livro traz um odômetro, cuja imagem paralisada não mostra se as etnias reconhecidas estão aumentando ou diminuindo. Nesta edição, o número foi para cima em relação à anterior. Povos Indígenas no Brasil traz, divididas por região, informações sobre a situação jurídica e de fato de cada uma das terras indígenas, incluindo demografia, línguas e conflitos. Contém, ainda, capítulos temáticos sobre legislação, política indigenista, demarcação e exploração de recursos naturais em terras indígenas, organizações indígenas e projetos governamentais. Um capítulo especial foi dedicado aos 500 Anos do Descobrimento e os conflitos com os índios durante as comemorações oficiais em Porto Seguro (BA), considerado um dos fatos mais marcantes dos últimos cinco anos em relação aos índios. Para Ricardo, "foi um porto inseguro e contra a maré", num momento em que a sociedade reconhece e valoriza o índio, conforme mostrou a pesquisa Ibope O que os brasileiros pensam dos índios?, também mostrada na publicação. Pela primeira vez, a publicação traz também doze narrativas indígenas sobre a origem do mundo e a chegada dos brancos. "Se alguns dos nossos antepassados nos vissem no estado em que estamos e lhe perguntássemos por que eles há 500 anos viviam livres e tranqüilos, certamente nos responderiam: 'Nós não éramos índios!'", escreveu Braz de Oliveira França, índio da região do Rio Negro, no Amazonas. SERVIÇO: Povos Indígenas no Brasil 1996/2000, Instituto Socioambiental, preço R$ 52,00.Link associado: www.socioambiental.org

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